26.4.13

A Casa da Emília

Se assumirmos que Alpiarça tem como eixo uma longa rua, deverá dizer-se, para orientação geográfica, que "A Casa da Emília" fica ao fundo de uma das diversas perpendiculares dessa mesma estrada, no caminho para norte. Há anos que vinha a ouvir falar deste novo pouso ribatejano, mas não tinha tido oportunidade de por lá passar. Aconteceu agora.

Trata-se de uma casa térrea tradicional, com uma decoração agradável, a sugerir a de uma residência particular. O acolhimento feito pelo proprietário, Mário João Freilão, nomeadamente na descrição dos pratos, como que lembra aquele que, no passado, nos era proporcionado por Francisco Queiroz, no saudoso "Sua Excelência", em Lisboa.

A lista não era grande, o que dizem ser hábito (positivo, a meu ver) da casa. Experimentou-se uma sopa de arroz com feijoca e carapaus fritos, uns pasteis de massa tenra e uma galinha corada com arroz de forno. Como outras alternativas, havia, entre outras coisas, filetes de cherne panados, um borrego guizado à moda de Alpiarça e um lombinho assado no forno. No final, provaram-se doces locais. Os vinhos propostos eram apenas da região, com uma valia apenas média, em especial na relação qualidade/preço. E, neste domínio, diga-se que o preço final da refeição foi razoável.

A refeição não deslumbrou. A falta de movimento, que a crise potencia, traz consequências naturais nos produtos disponíveis e, com toda a certeza, limita outros rasgos gastronómicos. Um dia regressarei por lá, com vista a testar se esta impressão - que estando longe de ser negativa, também não foi muito entusiasmante - pode vir a ser alterada para melhor. Mas é uma casa que merece, pelo esforço que faz, ser visitada.

A Casa da Emília
Rua Manuel Nunes Ferreira, 101
Alpiarça
Tel. 243 556 316
Fecha: 2ª feira

25.4.13

Tribeca

Começo pelo fim: foi uma refeição soberba, num espaço muito agradável, com um serviço de primeira qualidade e um preço que se situou dentro das expetativas.

Tinham-me falado do "Tribeca"* há já alguns meses, sempre de forma elogiosa. Fica perto de Peniche, em Serra d'el Rei. A imagem exterior não está à altura dos espaços internos, decorados com imenso bom gosto, criando um ar de "brasserie", mais americana que francesa. A forma cosmopolita e muito profissional como a lista de pratos é apresentada, com um menu em inglês no verso, denota a presença regular de uma clientela estrangeira que, na noite em que por lá estive, era largamente maioritária.

Uma sopa de peixe de entrada estava magnífica e os peixinhos da horta (com "dip" de cebola e mostarda) eram de "se chorar por mais". Do mesmo modo, os lombos de linguado com açorda de ovas estavam muito bons, mas devo dizer que fiquei rendido aos camarões de Moçambique panados com um (imbatível!) risotto de lingueirão.

Nas entradas, voltarei logo que possa para ver a sopa de navalheira em crosta folhada. Os peixes (é a zona deles) têm um lugar de realce na lista, com o robalo a sugerir várias opções. Nas carnes, entre outubro e abril, há uma empada de faisão e perdiz, a que fiquei tentado. Nas sobremesas, onde é apresentada uma lista conservadora (leite creme, papos d'anjo, cheesecake, mousse de chocolate), experimentei uma tarte tatin de maça, que estava excelente. Uma última palavra para a carta de vinhos, muito bem construída, cobrindo todas as regiões vinícolas e com muito boas escolhas. Ah! e um conjunto muito aceitável de meias garrafas.

Sintetizando: uma das melhores experiências gastronómicas dos últimos tempos. Como se diz no Michelin, "vaut le détour".

Tribeca
Serra d'el Rei
Avenida da Serrana, 5
Tlf. 262 909 461

* Já agora, por curiosidade, diga-se que Tribeca é uma zona muito na moda no sul de Manhattan, Nova Iorque, designação que advem de "triangle below Cannal" street. E, já que andamos na área, esclareça-se que Soho significa "south of Houston" street. Lembrem-se disso quando passarem no "falso" Soho, em Londres. 

Trás d'Orelha


Para quem segue na A8, em direção ao norte, sai-se no caminho para Torres Vedras sul. Procura-se Catefica, que "fica" logo ali, a dois passos da estrada. O restaurante situa-se num espaço que parece ter sido uma adega, agora ligada a uma moradia, mas, do exterior, pode demorar um pouco a descobrir, até porque me pareceu não ter letreiro exterior.

O espaço interior é sem pretensões, num jeito muito próprio da área da Lisboa saloia, embora com alguns toques decorativos modernos. O serviço é simples mas muito atencioso. Da lista, que era equilibrada e com alguma originalidade, destacava-se o cabrito no forno à Trás d'Orelha, a cabidela de pica no chão e os lombinhos do alguidar de porco preto. Mas havia também alguns pratos de peixe, com a garoupa em evidência. A lista de vinhos não era grande, mas tinha escolhas regionais razoáveis. O preço final foi muito aceitável.

Foi uma experiência positiva, sem deslumbrar. Mas é um local onde não excluo voltar no futuro.

Trás d'Orelha
Rua da Paz, 9
Catefica
Torres Vedras
Tel. 261 326 018
www.trasdorelha.com