"Retiro do Chefe Costa" (Lisboa, Alcântara)
Um Chefe que não pede de estrelas
Há muitos anos que sentia alguma curiosidade ao olhar aquele
restaurante, situado do lado mais inestético do largo de Alcântara, no sopé do
bairro do Alvito. O nome – “O Retiro do Chefe Costa” - era, em si mesmo,
bizarro. Via-o quando tomava o caminho para a ponte sobre o Tejo. Amigos
diziam-me ser muito recomendável, mas o aspeto exterior, confesso, não me
entusiasmava, pelo que fui hesitando. Até há dias.
Como se chega lá? De carro, saindo de um semáforo junto à
estação de Alcântara-Terra, atravessa-se em perpendicular a avenida de Ceuta.
No final dessa travessia (mas só no final, caso contrário arrisca-se a ir parar
a Almada!), corta-se à esquerda, prosseguindo depois pouco mais de uma centena
de metros. Mas também se pode atravessar a pé, do lado da rua Prior do Crato,
depois da passagem de nível.
O interior do “Retiro”, não tendo o menor luxo, supera
francamente a sua imagem externa, num edifício que me disseram ter sido em
tempos um cinema popular de Alcântara. É o típico restaurante popular de bairro
de Lisboa, limpo, com pessoal amável, onde dá vontade de levar um grupo de
amigos e ficar por ali à conversa, por horas.
A lista – como já me tinham dito – é impressionante de
variedade. Os peixes têm um lugar predominante. Não optei pela emblemática
Massada de garoupa à Hortense, de que todos me falam, preferindo desta vez um
Caril de Camarão à Goa, que se apresentou magnífico de textura e sabor. Mas
também figuravam na lista a Sopa rica de peixe à Fragateira, o Bacalhau na
caçarola à Caldelas – denunciando a raiz minhota da casa -, o Arroz de polvo no
tacho com gambas, os Lombinhos de garoupa à Berlengas e vários outros pratos de
peixe, com uma oferta muito variada de mariscos.
Nas carnes, optou-se por um Cabrito do Norte assado à
Cabeceiras, que ganharia em estar menos seco, embora muito agradável no sabor.
A origem setentrional da casa voltou a notar-se nos Rojões de Porco no tacho à Bracarense,
que luziam numa mesa ao lado. Uma Dobrada de feijão branco e o clássico Arroz
de pato à Antiga compunham a oferta, onde figuravam ainda as várias declinações
tradicionais das carnes, fosse de vitela ou de porco.
Numa parede anunciava-se que, por encomenda, era possível
comer por ali Lebre, Coelho bravo e perdiz. Uma boa oportunidade.
A refeição fora aberta com umas belas chamuças, bolos de
bacalhau e azeitonas, deixando de parte uma ovas que também prometiam.
Nas sobremesas, o menu não inventa e segue a regra nacional:
arroz doce, pudim de ovos, leite creme, mousse de chocolate, semifrio, algumas
tartes, etc. Provou-se apenas o arroz doce, que estava bom.
A carta de vinhos, manuscrita, é surpreendentemente variada,
com a curiosidade de apresentar vários verdes, dos brancos minhotos ao tinto,
incluindo o “vinhão” de Ponte de Lima. Nela predominam os Alentejos, se bem que
os Douros e alguns Dão também por ali surjam, a preços muito razoáveis. Há
vinho ao jarro e, claro, sangria.
A minha experiência nesta visita ao “Retiro” foi
manifestamente curta, como o leitor terá verificado. Mas a prova provada de que
foi positiva é que fiquei com uma forte vontade de lá voltar, muito em breve.
Acho importante apoiar a continuidade deste tipo de casas,
onde uma cozinha genuína, sem arrebiques mas com uma qualidade sustentada no
tempo, em doses generosas, servida por gente esforçada e muito agradável, nos
oferece uma relação qualidade/preço que, neste caso, é do melhor que tenho
visto por esta Lisboa.
LISBOA (ALCÂNTARA)
“O Retiro do Chefe Costa”
Estrada do Alvito, 12,
1300 Lisboa
Tlf. 213 637 914
Fecha à 2ª feira
Reserva recomendada
Preço médio/pessoa: 15/18 euros
Aceita Multibanco, Visa, Mastercard
Uma boa dica. É difícil encontrar restaurantes com estas características.
ResponderEliminarem sitios difíceis de aceder encontram-se bons lugares para comer, conclusão da convincente critica
ResponderEliminarTenho a sorte de ser cliente desde o arranque.Muito bom e equilibrado. Parabens.
EliminarE lá voltei ontem, confirmando a boa impressão aqui registada.
ResponderEliminarVou lá desde o seu início!!!Adoro o Caril de camarão goês... Antigamente a porta ao lado era a casa do Dani Silva O PILÃO ... Belos tempos...
ResponderEliminarMuito bom.Sem comentários.Sempre bem recebido.
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