18.2.15

O segredo dos restaurantes

Há dias, entrei por curiosidade num recém-aberto restaurante, apenas para dar uma vista de olhos na lista. A especialidade eram "petiscos", essa moda que por aí anda e se aproxima das "tapas" espanholas, ao que parece com o objetivo de captar um público menos dado às refeições longas e mais pronto a aceitar a partilha de pequenos pratos diversificados, num ambiente descontraído. Neste modelo, tenho visto um pouco de tudo: desde coisas inventivas a uma oferta gastronómica sensaborona.
 
O local onde entrei era interiormente agradável. Os clientes eram muito poucos, o que rimava com o olhar ansioso, mas logo desiludido, de quem me recebeu, convencido que eu ia almoçar. Nesse restaurante, a lista era demasiado concentrada num único tipo de carne - o que acho francamente limitativo para fidelizar uma clientela regular. Perceber-se-ia isso uma loja deste tipo no Mercado da Ribeira ou de Campo de Ourique. Mas não se entende a abertura deste espaço numa rua de um bairro lisboeta, já fora do seu centro, com estacionamento "impossível", sem um núcleo próximo de emissão de clientes (empresas, escolas ou outros equipamentos coletivos).
 
Já não é a primeira vez que dou comigo a matutar: por que diabo abriu este restaurante? E logo aqui? Que hipóteses de sobrevivência tem? Olha para os donos, normalmente gente jovem ou de meia idade que decidiu arriscar poupanças, gente que se empenha no trabalho e já se empenhou no banco, e sinto pena. Deve ser um imenso esforço investir numa casa nova, contratar gente, ficar "preso" numa tarefa que se sabe absorvente e que, para ter sucesso, não pode ter falhas e tem de garantir uma clientela regular. Há espaços novos que, à partida, se percebe logo que estão condenados ao insucesso. E ninguém lhes explicou isso? Ninguém lhes disse que aquela lista não "funciona", que aquela oferta gastronómica não traz nada de novo, que aquela zona da cidade ou está saturada ou não tem quem sustente um novo espaço?
 
O sucesso de um restaurante nunca está garantido. Mas, depois de décadas de frequência de milhares de restaurantes, julgo saber o que faz a desgraça de uma casa. E, tal como o outro, já não tenho dúvidas e raramente me engano. Já pensei fazer "assessoria" neste domínio...
 
Falo por Lisboa. Lançar um restaurante implica, essencialmente, ter alguma coisa nova a apresentar. Às vezes é o "conceito", às vezes é o produto, outras vezes é o caráter "trendy" da zona. Mas é sempre preciso que haja um motivo concreto que nos leve, pela primeira vez, a uma casa que abre. Em regra, o boca-a-boca é o fator mais eficaz: "Já foste ao X? É um local muito simpático, com excelente ambiente e come-se lá uma cozinha "de tal sítio" muito boa". Outros vão lá pela moda, pelo "Time Out" ou pelas notas nas revistas, não percebendo que, muitas vezes, há por ali muitas vezes amiguismo, lóbi, cumplicidades que vão dos copos a sítios mais íntimos. Quando não há mesmo mera publicidade travestida de análise crítica favorável.
 
Um fator essencial é o serviço.
 
Há dias, fui jantar a um restaurante aberto já há anos. O local é bom, o mobiliário mudou desde uma "encarnação" mais sofisticada, está agora convertido num rústico sem gosto, toalhas "a armar" ao popular, com candeeiros que "não rimam", sobras da anterior decoração. Quem nos atende não dá um sorriso - o homem e a mulher -, o que transforma a inquirição sobre um ou outro prato numa diálogo seco, desinteressante e desinteressado. Para quem, como nós, entra para jantar num restaurante para um tempo agradável, que investe numa hora e tal de bom ambiente, deparar com dois "morcões" de trombas é a garantia para um resultado garantido: nunca mais lá volto. Ou, como vi um dia um amigo dizer ao proprietário de um restaurante nos arredores do porto, à saida: "Sabe? Vim cá três vezes: a primeira, a única e a última!".
 
Por contraste, estive num restaurante renovado há poucos meses. Entrei e o dono, que não conhecia, surgiu com um sorriso, saudando-nos, dando alternativas de mesa. Depois, deu sugestões de dois ou três pratos recomendados, sem pressões. E, gentilmente, quando me aprestava para encomendar um determinado vinho, perguntou se não queríamos provar o tinto da casa, em jarro, a metade do preço. (O qual, diga-se, era excelente). A meio da refeição, servida por um funcionário atento e delicado, o patrão veio inquirir sobre a nossa satisfação sobre a refeição. Ah! e não nos encheu daqueles pratinhos de entrada que não pedimos e não fez propaganda insuportável dos doces "caseiros". Vou voltar, claro.
 
Como atrás referi, ninguém pode garantir o sucesso de um restaurante. Mas há fatores que "liquidam" uma casa em pouco tempo, Falarei doutros numa diferente ocasião.    

7.2.15

Guia de Campo de Ourique


Come-se bem em Campo de Ourique. Julgo que conheço o essencial da oferta do bairro, mas aceito outras sugestões. 

Mercado de Campo de Ourique

Comecemos pelo Mercado de Campo de Ourique, onde, desde 2014, se juntam propostas gastronómicas e enológicas diversas, numa lógica muito contemporânea, meses mais tarde reproduzida, embora com maior ambição, no Mercado da Ribeira.
   
Como sou um comodista militante, não me agradam as filas nos diversos balcões, a que se segue o carrear das vitualhas para as mesas coletivas. Por isso, o Mercado, que reconheço que tem graça e uma bela animação, não faz parte dos meus destinos habituais, a menos que me apeteça apenas petiscar e beber um copo informal. O excessivo ruído deste ambiente bem solto, que já se tornou "trendy" ao final da tarde, também não vai bem comigo. Mas aconselho a que experimentem.


O Bem Disposto ((FECHOU)


Saindo da zona do Mercado pela rua Tenente Ferreira Durão, encontramos no nº 52 o "Bem Disposto", (tlf. 213 953 203). Esteve fechado por uns tempos e foi agora amplamente renovado. Tem uma gerência diferente e uma oferta culinária curiosa. Ao que a minha memória gustativa me diz, está bem melhor do que na anterior encarnação. Foi uma bela experiência, que repetirei em breve.



Stop do Bairro (MUDOU DE ENDEREÇO)


Ainda na mesma rua, no nº 55, situa-se o "Stop do Bairro" (tlf. 213 888 856), que é talvez o restaurante lisboeta que mais me divide de vários amigos: a maioria deles adoram e eu, confesso, acho gastronomicamente banal, incómodo, como um espaço minúsculo. Saio de lá sempre pouco satisfeito. Feitios...

Verde Gaio

Para Norte, numa rua paralela, a Francisco Metrass, em frente ao Mercado, fica no nº 18 o "Verde Gaio" (tlf. 213 969 579). Sempre lá comi bem. Os grelhados são muito bons.

Parreira do Minho

Ainda na rua Francisco Metrass, no nº 47, fica a "Parreira do Minho" (tlf. 213 969 028), um espaço bem mais modesto, o que se reflete também nos preços do menu, cuja variedade não é muita mas onde se encontram alguns pratos interessantes. Quando posso, passo por lá para uma divertida tertúlia semanal.


Europa


Escassos metros adiante, no nº 57 da Francisco Metrass, está o "Europa" (tlf. 213 968 902). Foi renovado desde há meses e está hoje muito melhor, com uma oferta bem mais simpática e cuidada do que no passado, apoiada num serviço muito atento.


O Comilão

E continuemos noutra rua paralela, ainda mais a Norte, a rua Tomás da Anunciação. Se iniciarmos o percurso a partir da rua Saraiva de Carvalho, encontrar-se-á, logo no nº 5A, "O Comilão". É um restaurante tradicional de bairro, sem "peneiras", com serviço atento e uma oferta gastronómica simples. Olhem-se as fotografias em uma das paredes para perceber por que está sempre cheio de políticos de um certo partido. Desde há muitos anos que passo por lá, mas sou uma "avis rara" face à orientação dominante na clientela política...

 Pimenta Rosa


Um pouco adiante, aberto creio que em 2013, está, no nº 9B, o "Pimenta Rosa" (tlf. 213 904 621), com outras pretensões e, naturalmente, com preços diferentes. O ambiente é muito agradável e a cozinha imaginativa, embora sem deslumbrar.


O Magano


Continuando pela Tomás d'Anunciação na direção ao Jardim da Parada, do outro lado da rua, no nº 52, está aquele que considero um dos melhores restaurantes do bairro, o alentejano "O Magano". Não é barato, mas tem uma constância na qualidade que até me faz aturar alguma espera que, por vezes, é necessária para obter mesa, mesmo reservando. Por isso, evite as noites de fim de semana.

O Tachinho

Passemos a outra paralela para Norte, a rua 4 de Infantaria, que também bordeja o Jardim da Parada. No nº 6 E, fica "O Tachinho" (213 962 684). Nos anos 90, parei por lá com frequência. Regresssou numa nova encarnação. Sempre por ali se comeu bem e, pelas duas experiências que tive, a nova gerência parece estar a tentar colocar-se à altura das belas experiências do passado. Tem agora uma esplanada, feiosa mas agradável para um almoço leve no tempo bom.



Moules & Beer

Caminhando para o outro lado do Jardim da Parada, no nº 29D da 4 de Infantaria, fica o interessante "Moules & Beer" (tlf. 213 860 046), um local relativamente novo, com gente nova, onde o prato principal e de referência, como o nome da casa indica, são os mexilhões. Uma casa diferente e interessante, neste bairro clássico. O serviço é um tanto errático e a escolha de vinhos limitada, mas as cervejas são "the name of the game".

Cataplana & Companhia


Prossigamos para Norte, até outra rua paralela, um dos eixos principais de Campo de Ourique, a rua Ferreira Borges. Logo no seu início, no nº 193, desta vez para quem parte d a zona das Amoreiras, encontramos o tradicional "Cataplana & Companhia" (tlf. 213 865 269), que já se chamou "Tico-Tico". É um restaurante de famílias do bairro, com uma vasta oferta e um preço razoável. O ambiente é de velho restaurante lisboeta, com serviço simpático, informal.

Café Canas

Saltando agora para o outro extremo da rua, no cruzamento mais importante do bairro, onde a rua Ferreira Borges se encontra com a rua Saraiva de Carvalho, encontramos no nº 145, o "Café Canas" (tlf. 213 920 590), que por ali conheço desde os anos 60. Já foi um restaurante com algum nome em Lisboa. É hoje apenas um café e cervejaria, sem surpresas, sem requintes, onde, sem grandes expetativas, se pode fazer uma refeição razoável, por um preço simpático.

Tasca da Esquina

Por detrás do "Canas", na esquina da rua do Patrocínio (que saudades da "Tasquinha da Adelaide" que por essa rua houve!) no início da descida para a Estrela, no nº 41 da rua Domingos Sequeira, fica a já famosa "Tasca da Esquina" (tlf. 919 837 255) . Ocupa um lugar onde houve um Correio e é hoje um espaço ainda bastante na moda, onde o chefe Vitor Sobral (que nunca por lá encontrei, confesso!) nos propõe alguns pratos interessantes, num ambiente agradável e descontraído, com serviço muito simpático. Reserve sempre.

Trempe

Mudemos a geometria de abordagem. Passemos às ruas perpendiculares. E comecemos pela rua Coelho da Rocha (por lá houve dois bons clássicos, desaparecidos na sua versão original, o "Coelho da Rocha" e a "Charcuteria"). De Norte para Sul, encontramos, logo à saída da rua Silva Carvalho, no nº 11 da Coelho da Rocha, o "Trempe" (213 909 118). Sem ser de grande ambição gastronómica, sempre por lá tive boas experiências, num estilo de comida portuguesa tradicional. 

Flagrante Delitro


Do outro lado da rua, na Casa Fernando Pessoa, no nº 18, fica o restaurante "Flagrante Delitro" (tlf. 213950704), com uma lista curta mas com graça, para uma refeição simples, num espaço interessante que, no Verão, se abre para um agradável pátio exterior.

 Solar dos Duques


A outra rua paralela imediata é a Almeida e Sousa. Quase a chegar ao extremo sul da rua, no nº 58, fica o "Solar dos Duques" (tlf. 213 872 674), em bom restaurante de cozinha tradicional portuguesa, que sempre recomendo. Espaço simples, às vezes um pouco barulhento mas com ambiente agradável e serviço atento. Não se esqueça de reservar.

Cervejaria da Esquina


Na paralela seguinte, a rua Infantaria 16, nada tenho a recomendar. O que não é o caso da rua imediata, a Correia Teles, onde, no nº 56, fica a "Cervejaria da Esquina" (tlf 213 874 644), do mesmo proprietário e chefe da já referida "Tasca da Esquina". Um pouco mais cara do que esta, mas também mais sofisticada nas propostas, a Cervejaria da Esquina é um dos locais interessantes do bairro, embora o serviço "cool" não me entusiasme muito e, claro, o preço me faça ser cliente mais raro. Mas reconheço a sua qualidade, no género. Reserve sempre, em especial aos fins de semana.

E pronto, aqui ficam quase duas dezenas de sugestões desse belo bairro de Campo de Ourique. Atenta a dificuldade de estacionar na zona, recomenda-se o parque subterrâneo junto à Igreja de Santo Condestável e ao Mercado.