30.3.19

Gosto do “Nobre”!


Há muitos anos que me habituei a frequentar os poisos do casal Nobre - Justa e José Nobre. Comecei, como toda a gente, por aquele espaço histórico na Ajuda onde, nos anos 80 e 90, o Portugal político parava para almoçar, nas salas pequenas, bem ao jeito das conspirações que então estavam na ordem do dia. Depois, fui cliente do restaurante que tiveram na Expo, que creio ter sido uma aposta com prazo de validade. As coisas, a partir daí, por algum tempo, não correram como a família merecia. 

Um dia, vi a família Nobre regressar a um local com dignidade, junto ao Campo Pequeno. O nome da Justa Nobre, apoiada na cozinha pelas suas irmãs, começou a destacar-se no palco da gastronomia portuguesa, com um cada vez mais amplo reconhecimento da sua qualidade e, muito em especial, do seu esforço em dar evidência aos produtos da terra transmontana. E o “Nobre” do Campo Pequeno, dirigido com a elegância diplomática de sempre por José Nobre, começou a ganhar fama - eu diria mesmo, “Justa” fama! O cozido dos domingos no “Nobre” é um marco lisboeta.

O “Nobre” é hoje, em Lisboa, um dos meus restaurantes preferidos. Tem uma caraterística muito “confortável”: é seguro, constante, por lá come-se sempre bem. É barato? Não é, mas é bom. Quando um amigo estrangeiro me pergunta por dois ou três lugares para comer bem em Lisboa, o “Nobre” está sempre nessa lista.

A família abriu agora uma segunda casa, o “À Justa”, na calçada da Ajuda, perto do local onde ficou a casa original. É uma sala diferente, para outro tipo de clientela. Só posso desejar sorte à aposta.

Mais “modesto”, eu fico-me, com grande regularidade, pelo “Nobre” do Campo Pequeno. E ainda está por vir o dia em que me arrependa de por lá pousar! A “minha” mesa preferida é a da direita, na fotografia...

Assim, assim...


Fui lá jantar ontem. O serviço é muito agradável, as empregadas são bastante atenciosas. A anterior vez que lá fui não me tinha deixado uma particular impressão. Como gosto muito de restaurantes italianos, cuido sempre em dar um desconto ao “granel” que neles se cria, tentando perceber o que daquilo é mero teatro e o que resulta do endémico culto do improviso “típico”, mais ou menos profissionalmente conseguido. Como teste, por contraponto, à inevitável coreografia “solta” - em Roma, como é sabido, é ela de regra, em Florença parece-nos requintada, em Messina ou Palermo ou Siracusa ou Taormina aprendemos que é só displicente, em Turim é arrogante, em Milão tem dias (em especial, noites), em Trieste sofre dos “blues” balcânicos, em Ancona tem delírios adriáticos, em Bologna rimos, em Ravello a vista cega-nos, em Veneza afogamo-nos na conta, em Génova sonhamos, em Sienna ou San Gemignano esquecemos tudo, em Nápoles - bom, em Nápoles...! - há sempre esse “detalhe” que é a comida, a qual, as mais das vezes, até é bastante boa. Ontem, foi apenas assim-assim - desculpem a minha sinceridade. Um destes dias, porque um dia não são dias, para “re-checkar”, vou regressar ao “Il Matriciano”, o restaurante em frente do nosso parlamento. Repito: ontem, não tendo sido mau, mas olhando o elevado preço que paguei, confesso que estava à espera de um pouco melhor...

20.3.19

O “momento zero”


Ontem à noite, num restaurante, lembrei-me do Artur (Kiko) Castro Neves, um amigo que perdi há alguns anos, um homem com uma leitura da vida muito pouco comum, que pensava "fora da caixa" e que cultivava uma modernidade no seu olhar sobre as coisas que eu sempre invejei (e eu gabo-me sempre de nunca ter conhecido o sentimento da inveja). O Kiko era um homem do Porto, mas, na realidade, era um cidadão do mundo, de muitas artes e ideias, que, a espaços, aportava à Mesa Dois do Procópio, onde era sempre uma presença saudada e muito querida. (Quem o quiser conhecer melhor pode ver aqui: https://pt.wikipedia.org/wiki/Artur_Castro_Neves).

Costumava visitar-me em Paris (também o fez em Brasília), onde tinha estudado e trabalhado e onde, à época, ainda vivia a sua mãe. Um dia, foi por lá com a Isabel e convidou-nos para jantar num restaurante perto do Beaubourg. Era um restaurante americano (!), de que ele gostava, situado numa das ruas que tinham sobrado do desbaste feito na área, depois do fim do mercado Les Halles (que ainda conheci!), no início dos anos 70. Na minha memória restaurativa, a refeição, fosse pela sua qualidade objetiva, fosse pelo facto da conversa com o Kiko me ter feito esquecer o que tive sobre a mesa, não deixou marca impressiva. Recordo que era um local bastante movimentado, ruidoso e animado, de que deixo uma imagem. Mas tudo isso é o menos importante para o que aqui me convoca a escrita.

A refeição já ia avançada quando decidimos mudar de vinho, cansados da opção por um tinto do "novo mundo" que nos tinha sido impingido pelo empregado. Olhámos em volta, tentando "to catch the eye" de um dos fâmulos que, minutos antes, giravam pela sala. Qual quê! Ninguém aparecia!

Foi então que esse meu amigo se saiu com a exclamação: "Estamos no 'momento zero'!" Olhámos para ele, perplexos, desconhecedores do significado do comentário. Esclareceu-nos: "Desde há muitos anos que me convenci que, em todos os restaurantes, há, a certa altura, um 'momento zero'. Trata-se de um vazio momentâneo, que chega a durar minutos, durante o qual os empregados se somem, talvez para fumar um cigarro ou para outras pausas mais básicas, em que o patrão se recolhe por instantes ao escritório, em que o pessoal do balcão, por qualquer razão misteriosa, se eclipsa. Não há ninguém na sala! Ou, se acaso resta alguém, estão recolhidos em espaços inacessíveis, sempre de costas voltadas ou, mesmo se de frente, assumem um olhar vítrio e distante, neutralizados por um cansaço que os torna inoperacionais. É um 'momento' que normalmente acontece quando a refeição já vai adiantada, sem um novo turno de clientes no horizonte, em que se caminha para as derradeiras sobremesas. Ah! E então na altura dos cafés é uma tragédia: é quando geralmente acontecem os grandes 'momentos zero'!"

O tempo que esse amigo demorou a explicar-nos a teoria do "momento zero", que já tinha testado pelos muitos mundos que visitou - o "momento zero" é transversal a todas as civilizações gastronómicas, note-se - e que afirmou com a sabedoria cristalina de quem, como ele, vivia então em frente do palácio de Cristal, acabou por ser suficiente para que um empregado surgisse, finalmente, ao fundo, e, face ao agitar sedento dos nossos braços, nos trouxesse um "pichet" de aceitável "rosso" italiano, para substituir o australiano quer eu caíra na asneira de aceitar no início. O "momento zero" acabara.

Ontem, no Bairro Alto, aqui em Lisboa, num certo restaurante (por sinal excelente, onde já não ia há anos), houve um desses "momentos zero". Por vários minutos, não consegui pedir outra garrafa de um tinto razoável de Arcossó (terra da minha bisavó materna, por sinal).

E, nesse instante, lembrei-me do Kiko. Depois, senti-me culpado por ter sido por um motivo tão fútil que a memória desse excelente amigo me ocorreu. Mas acho que ele não se importaria e que, a propósito do vinho escolhido, teria, com certeza, uma história para contar. Como eu agora tive, ainda graças a ele.

17.3.19

“Casas do Bragal”


Sem GPS torna-se um pouco difícil encontrar estas “Casas”, um improvável restaurante perdido no meio de um bairro residencial nos arredores de Coimbra. É uma moradia como muitas outras mas, lá chegados, sentimo-nos verdadeiramente em casa, porque estamos, de facto, numa residência de família. A sala, com muito bom gosto, começa por uma zona de sofás, com livros a toda a volta, indiciando que estamos em terrenos de gente com óbvia dimensão cultural. É separada por um murete da zona de refeições, que são da responsabilidade de Manuela Cerca, uma antiga jornalista, que discretamente nos apoia lá de dentro, da cozinha que dirige. Somos recebidos por Eugénio Martins, uma figura com um singular percurso intelectual, também autor das pinturas que enchem as paredes. É ele que tudo nos vai aconselhar, das bebidas aos pratos. Estes variam muito ao longo da semana, tornando a refeição sempre num “happening”, que acaba numa imperdível mesa de doces. Experimentem e verão que não se arrependem! Eu regresso lá sempre com gosto, como ainda ontem fiz.

11.3.19

Os clássicos do Porto


O prato é do Antunes, no Bonjardim. 

Um clássico do Porto, como o são, em registo diferente, o Líder, nas Antas, a Nanda, na rua da Alegria, a Cozinha do Manel, no Heroísmo, a (renovada) Adega de São Nicolau, na Ribeira, o Rápido, em São Bento ou o Aleixo, em Campanhã. E muitos mais! 

Grande Porto!