20.7.22

Geographia (Lisboa)


O “Geographia” é, dos restaurantes “íveis” (isto é, restaurantes a que se pode ir), o que fica situado mais próximo do local onde vivo. Onde fica? Basta dizer que, da porta do restaurante, se vê a parede lateral do Museu Nacional de Arte Antiga.

Conheci a casa numa outra encarnação, bastante mais simples. De um sítio singelo (em linguagem de fado) de bairro, com o dono a conhecer pelo nome os clientes, o “Geographia” nasceu um dia, já há alguns anos, com mais ambições e sob um conceito (diz-se assim, não é?) diferente.

O tal “conceito” foi reproduzir, na oferta apresentada, pratos com reminiscências dos locais por onde os portugueses andaram. (Uma excelente ideia, quanto mais não seja para excitar o de insalubre debate sobre a ”apropriação cultural”). Estas “propostas” (também se usa, não é?) de fusão são feitas com inteligência e muito bom gosto (o bom gosto tem no gosto a sua melhor expressão), sabendo ser criativas, mas nunca entrando pela irresponsabilidade, nesta combinação de sabores.

Os puristas de comida africana, indiana ou brasileira devem ficar um tanto espantados. Eu, que sou tributário de uma herança culinária de simplória mas sólida cozinha portuguesa, sinto-me lindamente com as ousadias praticadas pelo “Geographia “. O que, para muitos, será talvez uma prova indireta de que a ousadia, por ali, não é assim tão ousada como isso.

O espaço não é deslumbrante, mas a decoração é de bom gosto. Uma insonorização mais ficaz apuraria o conforto. O pessoal (diz-se colaboradores, não é) é que, infelizmente (mas isto parece ser pecha do setor), vai e vem. É sempre gente que se percebe ter sido instruída para ser simpática, o que normalmente conseguem ser, mas, em matéria de serviço, há muito concluí que a simpatia está longe de resolver tudo. Também um pouco mais de ambição na variedade de vinhos seria desejável e, em dias de enchente, seria também muito importante não deixar acabar cedo os pratos mais icónicos (esta expressão também se usa muito, não é!) da casa.

Com as críticas atrás feitas, eu recomendo o “Geographia”? Claro que sim! Um local onde nunca comi um prato mal confecionado, com pessoal amável embora muitas vezes inexperiente, com uma cozinha que sai da vulgaridade e ousa a criatividade com bom senso e bom gosto, merece que o apoiemos. E o preço não irrita, o que ajuda. Eu sou cliente e eles já sabem: quando algo me desagrada, digo-lhes. Logo.

Se for de carro, prepare-se para andar às voltas. As reservas são essenciais, pelo 213 960 036.

17.7.22

Clube de Jornalistas (Lisboa)


Foi-se a Gôndola, apagou-se o Trinta e Três, já há muito tinha desaparecido o Antigo Retiro do Quebra-Bilhas. Outros lugares ao ar livre, às vezes com uma parreirinha (no Rato, no Campo Pequeno, na Luneta dos Quartéis), ousaram contrariar uma Lisboa que, por muitos anos, parecia amedrontada em comer sob o céu.

Há já muitos anos, no 129 da rua das Trinas, já perto da rua da Lapa, numa antiga escola primária, vi aparecer o restaurante Clube dos Jornalistas, onde o dito clube parece ter sede. Tem uma zona interior simpática mas tem, essencialmente, um fabuloso jardim nas traseiras. Por lá comemorei, em grupo, décadas de entrada para o MNE, por lá estive num casamento.

A casa teve vários tempos. Esteve muito na moda, tinha um cozinheiro creio que basco, depois passou por um período menos feliz, em que, em idas por lá (sou vizinho, a “walking distance”), dei por mim a recordar esses outros tempos melhores e a prometer não voltar. Mais recentemente, já há uns anos (estas minhas notas são impressionistas, socorro-me da memória, não “checko” nada), a qualidade do restaurante ficou bastante mais sustentada. Há uns pratos clássicos, com algum sentido de invenção, os vinhos têm escolhas pouco comuns (teve mesmo uns, cujo nome era um algarismo, que eram muito bons) e o serviço, algo “casual” contemporâneo (mas nada do “casual arrogant” que anda por aí à solta), é simpático e atento.

Há uma semana, organizei por lá uma festa de aniversário de uma pessoa e tudo correu muito bem. Disse-o, com gosto, à Luísa, que gere, com muita eficácia, o estabelecimento. Preço? Já foi mais barato, mas não acho caro. E é bom, agradável e tem aquele jardim!

Ah! E o Clube dos Jornalistas está aberto aos domingos, mesmo para jantar! Nesta época do ano, não vá sem reservar (213 977 138). Pode tentar levar carro, mas a zona não é muito dada a surgirem vagas para estacionar.

16.7.22

Jockey (Lisboa)


Para quem não conhecer o local, lá chegar pode ser uma espécie de aventura (talvez com GPS seja fácil). O Jockey é um restaurante que fica no meio do hipódromo do Campo Grande. Entra-se pelo topo norte da avenida que passa em frente à cantina e por detrás da reitoria da universidade de Lisboa. É essencial reservar (217 957 521). Dizemos ao que vamos numa cancela e procuramos o local. Há que ter cuidado onde se estaciona, porque as vagas, por ali, são como agulhas num palheiro - e ali há muita palha! Pelo caminho, não se admire se, às vezes, se cruzar com uma fauna de nariz arrebitado, a armar ao fino e a bater o tacão, claramente indisposta por interrompermos a exclusividade do seu lazer equino.

A sala é interessante, com uma espécie de reservados em modelo de “cavalariças”, onde se acomodam os grupos. No bom tempo, o restaurante abre-se para um amplo e belo espaço exterior. Come-se bastante bem, os preços não são excessivos para o ambiente e para a qualidade daquilo que nos é proposto, há uma inteligente lista de vinhos e o serviço é feito por um pessoal experiente, com simpatia profissional “standard”. Gosto bastante de ir ao Jockey, como ontem fiz, com amigos.