30.11.22

12


Não cabem mais de 12 de pessoas em cada uma das salas de qualquer destes dois restaurantes de Évora, que não podem ser mais diferentes um do outro.

Ontem, fui jantar, pela primeira vez, ao “Tua Madre”, uma ousada aposta contemporânea, um “mix” difícil de definir, onde o Alentejo se cruza com influências italianas. Uma oferta surpreendente e criativa, que aconselho. Ambiente solto, propostas líquidas desconhecidas, muito boa onda.

Hoje, optei por ir almoçar a um clássico, à “Tasquinha do Oliveira”, uma casa onde regresso sempre que posso, há mais de 20 anos. Um exemplo de rigor, constância e sempre excelente qualidade. Por lá se exibe o diploma do prémio anual de cozinha tradicional portuguesa que a nossa Academia Portuguesa de Gastronomia, com grande justiça, lhe atribuiu.



29.11.22

“Colina”, Lisboa

 


No domingo, com amigos, fomos almoçar à “Colina”, numa transversal oblíqua à Duque de Ávila, junto à 5 de Outubro. Há mais de duas décadas que não visitava aquele que é, com toda a certeza (mas estou aberto a ser corrigido), aos fins de semana, um dos últimos clássicos restaurantes lisboetas frequentado por famílias burguesas. 

Não me estou a referir às tascas, com toalhas de papel, travessas metálicas e uma barulheira imensa, que cumprem hoje esse papel, como alternativa popularucha, adequada ao poder da bolsa. Falo de restaurantes serenos, com guardanapos de pano, serviço personalizado à antiga (“O seu esparregado, dona Matilde”), algumas madeiras no cenário e total ausência de pressão para se abandonar a mesa (“Ó senhor Vítor! Por favor, traga-me outro café e uma bagaceira da casa”, dizíamos, quando o nosso fígado era outro). 

No género, ali perto, por muitos anos, existiu o “Funil”, que agora se modernizou e perdeu o propósito. Também havia “O Polícia”, hoje uma sombra do que foi, e a “Adega da Tia Matilde”, que, pela minha última e infeliz experiência, há meses, devia ter ido com o cliente Eusébio para o Panteão. Da mesma natureza, na avenida de Paris, esteve, por muito tempo, o “Isaura”, para onde se entrava por uma escada em caracol, que nos levava a uma cave com estantes, onde existia uma bela “biblioteca” de vinhos. O “Pote”, na João XXI ainda hoje cumpre um pouco essa função. Num registo mais simples, e ainda nas Avenidas que um dia foram novas, tenho grandes memórias da “Imperial do Campo Pequeno”, de que fui vizinho e freguês assíduo.

Quase todos os bairros de Lisboa tiveram restaurantes do género. Aos fins de semana, era vulgar ver avós, pais e filhos, de famílias com algumas posses, em almoçaradas. Até na Baixa, o “Paris” cumpria essa função.

A “Colina” ali estava, igual à que sempre a conheci. Na clientela deste domingo descortinei vários nomes que estiveram na berra nos anos 90, a que a idade trouxe um corfortável anonimato, mas também ali cruzei um poderoso ministro deste governo (como este é um governo sem muitos ministros poderosos, é fácil lá chegar), à espera do seu “take away”.

Como é que se comeu? Bem, embora sem deslumbre. A oferta é a clássica para este tipo de casas, pratos sólidos, sem surpresas nem arrebiques. Com a casa cheia, o serviço teve o ritmo certo, tudo a sair a um custo razoável. Foi bom regressar à “Colina”! 

(“Não fales muito na “Colina”, nas redes sociais!”, alertou-me uma amiga. “Se vai lá muita gente, ficamos sem mesas!”. Arrisco).

14.11.22

Terra (Foz, Porto)


Em frente do sempre excelente “Cafeína”, na rua do Padrão, na Foz do Porto, fica o “Terra”, uma casa do mesmo proprietário - e ele ainda tem outras por ali, de diferente natureza. Ontem, chegado ao Porto, escolhi lá ir, com amigos. (Ainda pensei ir ao “Wish”, ao próprio “Cafeína”, mas optei pelo “Terra”). O “Terra” sem ser, como espaço, deslumbrante, tem uma arquitetura interior bastante agradável, numa curiosa casa tradicional da Foz. No primeiro andar, em cuja varanda (cuidado com o perigoso degrau, à entrada!) tinha almoçado, já há anos, existe uma sala simpática (na imagem). O serviço é atento, profissional, competente, informado. (A música anda por ali demasiado alta, vírus que também parece ter afetado o “Cafeína”, o que é escusado. Ontem, pelos ritmos oferecidos, devem ter deduzido simpaticamente que eu tinha menos 40 anos de idade…). As três pessoas à mesa comemos bem, embora, creio poder deduzir, sem direito a um “uáu!” final. Há um menu de cozinha asiática (como não sou competente, aqui passo, mas dizem-me que tem qualidade), outra assente numa lógica predominantemente portuguesa, embora com apontamentos gustativos menos óbvios, o que é sempre de saudar. Os preços? “Preços ucranianos”, isto é, com o “travo” de inflação que esta guerra está a provocar entre nós, um pouco por toda a parte. Tenciono regressar, em breve, ao “Terra”. Pode haver frase mais simpática para acabar um apontamento sobre um restaurante?

13.11.22

Faz Figura (Lisboa)


Foi ao almoço de hoje, no “Faz Figura”, com o sol a mostrar-nos dali um Tejo soberbo. O cozido do domingo, que o Jorge Dias sempre me recorda numa semanal SMS, lá estava, magnífico, com este tipo de descrição, num dos vários “mostruários”, a ajudar-me a regular o grau de colesterol que pretendo ingerir. Há coisas muito boas nesta Lisboa!

9.11.22

Entre Amigos (Rio de Janeiro)

 


Quando, em 2018, no Rio de Janeiro, em 2018, desapareceu o afamado restaurante de origem portuguesa “Antiquarius”, a cidade perdeu um ícone social quase sem par. Criado por Carlos Perico, chegado ao Brasil na vaga pós-25 de Abril, o “Antiquarius” passou a ser um “must” carioca, com a Lisboa que detestava a Revolução - mas não só! - a fazer dali um pouso saudosista. Mas quem gostava de Abril também por lá passava, quando podia. Eu, por exemplo.

Hoje, almocei num dos restaurantes que foram criados por gente saída da boa escola do “Antiquarius”, o “Entre Amigos”. O espaço, no meio de Botafogo, é simples, em termos de decoração. Mas tem duas coisas muito importantes: boa comida e um serviço de excelência, com uma imensa simpatia às mesas. Vivesse eu no Rio e por ali faria uma das minhas cantinas.

Carlos Perico chegou ao Brasil vindo daquela que havia sido a primeira pousada portuguesa, a Pousada de Santa Luzia, em Elvas, que tinha sido criada em 1940. Constatei que o “Entre Amigos” mantinha no “cardápio” o famoso bacalhau dourado da pousada de Elvas. Decidi arriscar e não me arrependi. Posso dizer uma coisa? Raramente tenho encontrado, em Portugal, um bacalhau dourado tão bom.