Alentejo sem
atravessar o Tejo
A cozinha
alentejana tem, nos dias de hoje, vários poisos em Lisboa, alguns com muito boa
qualidade. Dentre as cozinhas regionais portuguesas,
é seguramente a que está mais bem representada na capital. O “Galito”, ali à entrada de
Carnide, é, creio, o mais antigo restaurante alentejano de Lisboa. Salvo
erro, aliás, o único que mantém uma carta com 100% de culinária do Alentejo.
O espaço que
o “Galito” hoje ocupa é o terceiro que lhe conheço. É mais moderno e
confortável do que os dois anteriores. Porém, devo dizer que tenho alguma saudade da
primeira casa: uma sala minúscula, onde era dificílimo conseguir mesa e onde
conheci a cozinheira originária, a Dona Gertrudes que, muito provavelmente, foi
a maior figura de sempre da culinária alentejana por terras de Lisboa. A Dona
Gertrudes já não oficia há muito pela cozinha do “Galito”, mas sempre que olho o
sorriso amável com que o filho, o Henrique Galito, me recebe naquela casa, que
visito há décadas, sinto a certeza de que o testemunho segue em boas mãos.
O grande
“drama” dos restaurantes alentejanos é que a transição entre as entradas e os
pratos às vezes é difícil de estabelecer, tal é a abundâncias das primeiras,
que nos começam a chegar à mesa logo que nos sentamos. As favinhas, a perdiz de
escabeche, a salada de coelho, as empadas, os torresmos, os míscaros, o queijo
fresco e tutti quanti fazem uma refeição, se nos distrairmos, com o belo pão
alentejano a ajudar.
Resolvemos
evitar os “clássicos”: açorda de coentros, pezinhos de porco de coentrada, migas de espargos ou à alentejana, com entrecosto ou lombo de porco
frito, ou o ensopado de borrego.
Depois de
uma boa dose de entradas, fomos para uma açorda de perdiz, por sugestão do
Henrique. Não nos arrependemos. Uns carapauzinhos com arroz de coentros e uma
costeletas de borrego compuseram a escolha, tudo num registo muito agradável.
A lista do
“Galito” é bastante farta, mas a minha experiência nas casas tipicamente
alentejanas aponta para que nos deixemos “conduzir” pelas sugestões da casa.
Desde que tenhamos razões para nelas confiar, como é o caso.
Naturalmente,
a carta de sobremesas segue a oferta magnífica que a doçaria do Alentejo
sempre nos traz. Foi-se por uma sericaia, com a ameixa tradicional, e uma
encharcada. Mas também por lá se pode encontrar o bolo rançoso, o pão de rala e
outras doçarias do Sul. A única “traição” em favor do Norte é o pudim Abade de
Priscos, em que o “Galito” pede meças.
A carta de
vinhos é bastante completa, cuidando o Henrique em não se limitar aos
alentejanos, embora eu lhe peça sempre sugestões de produções dessa região.
Notei continuar a haver por ali excelentes vinhos do Douro.
Uma nota
final. Para além da eterna simpatia e educação do Henrique, das últimas vezes
que passei pelo “Galito” ficou-me uma impressão menos agradável do serviço às
mesas: demasiado “à vontade” e displicente, com excessiva conversa e “bocas” em
voz alta. E não fui a única pessoa a notar isto, diga-se.
De todo o
modo, como desde o primeiro dia, e já lá vão muitos anos, voltarei ao “Galito”
sempre com imenso prazer.
Restaurante
Galito
Rua Adelaide
Cabete 7B
Carnide,
Lisboa
Tel.
217 111 088
Reserva
recomendada
Fumadores
Preço médio:
25 euros