27.10.17

Restaurante Laranjeira (Viana do Castelo)



Uma Viana com tradição

A casa de que hoje vou falar é o exemplo acabado da evolução, que aconteceu em muitas vilas e cidades de província, daquilo que era a zona de refeições de uma antiga pensão para o que se tornou num cómodo e moderno restaurante. Num país em que, durante muito tempo, a rede hoteleira foi escassa e pouco acessível à bolsa da maioria dos viajantes, as pensões ofereciam alternativas de alojamento “mais em conta”. Eram sempre apoiadas numa sala de refeições, num registo quase familiar, que passou a abrir-se ao público exterior. Sem grandes pretensões ou arrebiques, nem falhas muito notórias - dependendo da qualidade dos produtos, do pundonor dos proprietários e da “mão” de quem os confecionava - a “comida de pensão” era, em geral, simples e escorreita, recorrendo à culinária portuguesa essencial. 

Nas memórias (algumas mais nostálgicas do que saudosas, confesso) que guardo desse país do passado, tenho registadas algumas pensões que criaram nome e firmaram justos créditos, muitas vezes ligados à arte de umas senhoras (nessa altura, a cozinha era reino exclusivo das mulheres) que ficaram conhecidas pelo seu nome próprio, a que algumas vezes ligávamos um determinado prato em que se distinguiam. Ia-se a “tal sítio” pelo bacalhau ou os pastéis de massa tenra ou o cabrito da Dona Adozinda, da Dona Felismina ou da Dona Gertrudes – para usar os nomes que o meu amigo Rui Vieira Nery lembrou, num texto saboroso, para designar as cozinheiras desses tempos.

O Laranjeira, bem no centro de Viana do Castelo, com os seus 75 anos de existência, é bem desse tempo. Era a Dona Maria, proprietária com o marido Francisco, quem oficiava na cozinha e que, ainda hoje, aos 95 anos, por ali é vista com gosto. Os aparadores escuros e o soalho que rangia, da minha memória muito antiga, foram substituídos por uma decoração funcional, que dá leveza ao espaço. Ao fundo, sem um cheiro a transbordar, fica a cozinha. Na sala, o proprietário, José Laranjeira, de sorriso aberto, e a Maria Eugénia, colaboradora que faz parte da mobília, desdobram-se numa atenção delicada aos clientes.

Passando à razão da visita. A lista, que é muito cuidada, apresenta, para além dois pratos de carne e dois de peixe do dia (não excedendo € 10 euros), uma lista razoável de entradas, encimada por uma degustação de sabores tradicionais, algumas saladas e gambas ou mexilhão salteados em azeite. Nas sopas, salienta-se, há muito, a de peixe. Nestes últimos, o bacalhau à Laranjeira tem justo nome, os filetes de pescada são um ex-libris, o peixe grelhado é o da lota, havendo um arroz caldoso de tamboril e um excelente (tenro, provei) polvo na caçarola. Nas carnes, o cabritinho no forno estava muito bom, tal como as costeletinhas de borrego. Havia ainda a vitelinha estufada (notem-se todos estes “inhos”, muito nortenhos) e o assado de porco com castanhas. As sobremesas vêm num carro, numa moda que eu gosto e me provoca recorrentes hesitações. Por lá estavam coisas como o pudim de ovos, o leite creme, coisas boas de chocolate e fruta para os que não queiram pecar. Ah! Um belo queijo da serra com marmelada caseira fechou a função. Boa variedade de tintos e, em especial, verdes brancos, a preços razoáveis, ajudam à função

Viana tem vindo a melhorar a sua oferta de restaurantes. Posso estar enganado, mas o Laranjeira é, seguramente, dos mais antigos e, com toda a certeza, aquele que, dentre estes, melhor evoluiu.

29.9.17

Marisqueira José João (Graciosa, Açores)



Uma Graciosa surpresa

Os Açores estão na moda. De há uns tempos para cá, o turismo que tem Portugal como destino, cansado do óbvio, do sol-e-praia e das igrejas que a História nos deixou, passou a olhar a nossa natureza com outros olhos. De início, eram uns britânicos e nórdicos deslumbrados com os caminhos montanhosos da Madeira e, por vezes, do Gerês. Depois, foi a descoberta do caminho fluvial para o Douro, com amenidades etílicas a ajudar à festa. Agora, com as "low-cost" a ajudar, os Açores emergiram no meio do Atlântico. O Portugal verde está cada vez mais recomendável.

Sou do tempo em que comer nos Açores - desculpem-me os açoreanos! - era uma aventura sem um fim muito gratificante à vista. Das diversas vezes que por lá andei nas últimas quatro décadas, recordo-me de escassas mesas decentes em Ponta Delgada e em Angra do Heroísmo, quase nada no Faial e alguns outros poucos locais a "armar ao típico", com a inevitável alcatra e um sofrível vinho do Pico. Valia-nos o queijo! Mas ninguém ia aos Açores para comer bem. Ponto.

Tudo mudou? Muita coisa mudou, para melhor. É claro que a oferta gastronómica ainda está a milhas de justificar uma deslocação ao arquipélago, mas começa a acompanhar o surto de turismo que, nos últimos anos, inundou as principais ilhas. Nem sempre isso sucede de uma forma qualitativamente acertada. Há alguma massificação a gerir melhor, parece haver um défice na qualidade média do serviço nos restaurantes a que há que estar atento. Mas as coisas vão no bom caminho.

Há semanas, fui à ilha da Graciosa. Apeteceu-me escapar ao hotel, pelo que perguntei onde se podia ter uma boa refeição por ali. As opções eram muito escassas, menos do que os dedos de uma mão. Somei as referências vindas de todas as fontes e todas coincidiram em que “no José João é que se come bem”. Nem sequer foi necessário seguir o método infalível que costumo usar numa terra onde nada conheço, e que deixo como segredo aos leitores: perguntar qual é o melhor restaurante da localidade a uma pessoa, simultaneamente, com ar abastado nas posses e bem anafado no corpo. Nunca falha! Ensinaram-me também, há tempos, um método cumulativo: inquirir qual é a mesa local preferida do presidente da Câmara. Se as duas referências coincidirem, melhor é, seguramente, impossível.

Com um conversador taxista a ajudar, lá fomos à Marisqueira José João. O rústico da casa não augurava nada de especial. A Débora, simpática e bonita filha do dono da casa, terapeuta de profissão a ajudar a família, em crise de mão-de-obra, guiou-nos por uma lista à partida pouco apelativa, um tanto “cansada” na apresentação, com alguma escassez na variedade dos vinhos. Mas a linguiça da Graciosa logo nos conquistou, com um excelente queijo temperado a ajudar. As opções de carne eram apreciáveis, dos diversos bifes à clássica posta. E por aí fomos, porque a carne açoreana é magnífica. Estávamos, contudo, numa marisqueira e o marisco disponível era escasso. Teria sido prudente ter encomendado cracas, cavaco e lapas. Que fazer? Voltar, claro! Assim fizemos no dia seguinte, para uma refeição soberba de marisco. Quem haveria de dizer que numa remota e pequena ilha atlântica iríamos comer de uma forma que nos ficará na mais positiva memória de uma visita aos Açores?

Marisqueira José João
Rua Fontes Pereira de Mello, 148
Santa Cruz da Graciosa
Tel. 295 732 855

30.6.17

Bodegão (Póvoa de Varzim)


Aquele casario baixinho, feito de casas de pescadores, foi mudando muito com os anos. A Póvoa de Varzim cresceu imenso, de A-Ver-o-Mar a Vila do Conde, mas não perdeu por completo a imagem de praia burguesa, onde, no passado, antes dos Algarves, algum Norte vinha passar os agostos, passeando na marginal da Avenida dos Banhos, com uma saltada ao Diana Bar (hoje biblioteca) e ao Casino.

Na Póvoa, pela minha memória, sempre houve locais onde se comeu bem. Daí a minha curiosidade em experimentar o Bodegão, restaurante e cervejaria, de que há muito me haviam falado, com nota positiva, num género descontraído.

Trata-se um espaço com dois níveis, com uma decoração de tralhas de velharias, com alguma graça, assegurando um ar acolhedor. Quase lembra o velho Café Chinês! Verdade seja que tudo é muito ajudado pela grande simpatia do pessoal, cujo profissionalismo e eficácia pude testar, num dia de grande movimento.

Gostei do pormenor, correto, de nos proporem entradas, sem no-las imporem. Coisas do mar (ameijoas, gambas, camarão, sapateira, polvo, mexilhão, atum, bacalhau) a preços razoáveis, com muito boa qualidade e confecção, naquilo que se provou. A lista era grande, tradicional, muito portuguesa.

Começámos com uma sopa de marisco, que demorou o tempo necessário a provar que tinha sido feita na hora, muito “rica” nos seus variados componentes. Nas propostas do dia havia coisas como um “arroz de robalo como o pescador poveiro faz”, um cabrito assado à padeiro (muito bom!), além dos clássicos bacalhau, arroz de pato e costeletão. A curiosidade levou a optar por uma “especialidade” da casa, a “posta à Bodegão com crosta de alheira”. Não me arrependi: carne era boa, saborosa, mas (desculpem lá!) não era posta. (A regra é “simples”: uma verdadeira posta deve ser passível de ser cortada com o outro lado da faca). Nos peixes, havia uma larga escolha “da canastra”, além de vários bacalhaus, fazendo honra à proximidade do mar. Várias outras carnes, com a vitela em destaque, em diversos tratamentos culinários, eram propostas. De novo, a posta dita “à Mirandela” (em Mirandela não há tradição de posta, a posta é “mirandesa”, de Miranda do Douro…). Permito-me também recomendar um maior atenção ao escrever al ajillo” e “champignons”, porque o rigor na apresentação de uma oferta gastronómica é o cartão de visita de uma cozinha. Depois, havia diversas propostas de marisco, risottos, pastas, saladas, alheiras e até francesinhas! A lista não era pequena!

Uma boa escolha de frutas e (muitos) doces clássicos compunham o menu das sobremesas, onde se optou simplesmente por uma rabanada poveira, que nunca tínhamos experimentado e que foi uma bela “première”.

Na terra de Eça de Queiroz, nesta Póvoa de Varzim ensoleirada no Verão e batida pela nortada nos meses de intempérie, continua a valer a pena parar para uma refeição. Este Bodegão da Póvoa – que raio de nome para um grupo de restaurantes!, tradução portuguesa de “bodegón” que seguramente não teve em atenção o significado que o dicionário luso dá à palavra – é um local simpático, descontraído e que não deslustra a cidade. Ah! E com preços muito convidativos.

O Bodegão
Rua Paulo Barreto, 2
Póvoa de Varzim
Tel. 252 624 716
Fecha:
Preço médio: €25
Estacionamento difícil


26.5.17

Solar dos Duques (Lisboa)

A solidez de uma cozinha tradicional

A Lisboa dos bairros já teve melhores dias, mas Campo de Ourique ainda é um bairro “a sério”. A cultura de vizinhança, a pequena loja, a certeza de poder encontrar por ali o essencial para a vida, tudo isso lhe confere uma unidade que outros bairros estão cada vez mais a perder. Na restauração, Campo de Ourique é hoje um marco lisboeta, com uma bela e diversificada oferta - das tascas a restaurantes com maior sofisticação.

O “Solar dos Duques” é por ali, desde há bastante tempo, um valor que tenho sempre por seguro. Passo por lá muito, nunca saí de lá insatisfeito. Cultiva uma cozinha tradicional com toque marcadamente alentejano, com alguma ambição na diversidade, a preços que são razoáveis para a qualidade oferecida. Tem um serviço profissional, num espaço modernizado, agradável. Para muitos, tem ainda uma virtualidade única: pode-se fumar em todo o restaurante, graças a uma ventilação muito eficaz. À hora de almoço, o “Solar”, que tem 50 lugares, está quase sempre cheio, com uma clientela fiel, mas aconselharia uma prévia reserva telefónica, em qualquer circunstância.

Olhando a lista, anotam-se, nas entradas, queijos alentejanos, ovos mexidos com farinheira, cogumelos recheados, empadinhas e chamuças, para além do paínho de porco preto e um presunto ibérico. Optámos, desta vez, pelo bom queijo fresco de Serpa e pelos peixinhos da horta, que sempre agradam por ali. Havia também ameijoas à Bulhão Pato e gambas “al ajillo” (quando aprenderão os nossos restaurantes, de uma vez por todas, a escrever isto de forma correta?) e uma oferta de marisco.

Nos pratos principais seguimos os “do dia”, e não nos arrependemos. Os pilins com salada russa, o borreguinho no churrasco com batatinha e grelos, as puntilhitas fritas à algavia, os rins de vitela no churrasco com ovos mexidos e os pastéis de massa tenra com arroz malandrinho foram as nossas opções. E, posso assegurar, nenhuma delas deixou “ficar mal” o Solar. Boa qualidade dos produtos, uma adequada confeção, uma apresentação sóbria, sem pretensões, tempo de serviço muito razoável, para uma casa muito cheia. Nos peixes, havia por ali robalo, garoupa, pescada, pregado, bife de atum, além de ovas e choquinhos. Nas carnes, para além dos bifes e do pica-pau, cuja carne costuma ser de muito boa qualidade, tinham opções de porco (lombinhos, secretos) e de borrego, bem como a alheira transmontana.

Atento o “peso” da experimentação anterior, nas sobremesas só se provou um “crumble” com gelado. Mas, de prévias visitas, guardo boas recordações do fidalgo, das ameixas de Elvas, com ou sem sericaia, e de um pudim Abade de Priscos que não deslustra o nome. No restante, havia o habitual: leite crème, arroz doce, tarte de amêndoa, etc.

O “Solar dos Duques” tem uma boa carta de vinhos, a preços comuns nos restaurantes de Lisboa. Experimentámos, desta vez, o tinto a jarro da casa, da zona de Portalegre, aceitável para o preço moderado a que é vendido.

O “Solar dos Duques” faz parte dos nossos poisos habituais, em especial ao almoço. Por isso, o leitor que seguir esta nossa recomendação arrisca-se a que nos cruzemos por lá…

Solar dos Duques
Rua Almeida e Sousa, 58 B
Campo de Ourique
Lisboa
Tlf 213 872 674
Fumadores
Encerra: Domingo
Preço médio 25 euros

24.2.17

"Costa do Sol" (Vila Pouca de Aguiar)


Boa surpresa no vale de Aguiar

Durante muitos anos, nunca tive Vila Pouca de Aguiar como um lugar onde me apetecesse parar para uma refeição. Vila Real ou Chaves, de que fica quase equidistante na antiga estrada nacional, ofereciam sempre opções, em matéria de restaurantes, que aquela simpática localidade do Vale de Aguiar nunca conseguia equiparar. Até mesmo um pouco a sul, em Vilarinho da Samardã, ou meia dúzia de quilómetros a norte, nas Pedras Salgadas, a concorrência chegou a ser suficiente para não estimular uma paragem. E no Vidago, claro, a sua grande unidade hoteleira permanecia sempre como uma alternativa “hors concours”.

Vila Pouca – é assim que por ali é conhecida a “capital” do Vale de Aguiar, onde nasce o rio Corgo, que dali desce para o Douro – situa-se hoje numa cómoda confluência de autoestradas – a A24, de Viseu a Espanha, e a A7, que leva a Guimarães e à Póvoa de Varzim – esta última que substitui a velha estrada que, por Ribeira de Pena e pelo Arco do Baúlhe, fazia noutros tempos a deslumbrante transição de paisagens entre Trás-os-Montes e as terras de Basto e do Minho.

Um dia, já há alguns anos, olhei por acaso um hotel com ar recente, o “Aguiar da Pena”, à chegada a Vila Pouca, no acesso da autoestrada. De fora, por vidraças amplas, vislumbrei uma sala de jantar com um ar moderno. Dentro de mim subsiste, reconheço que cada vez com menos razão, um “parti-pris” enquistado contra os restaurantes de hotel. Mas, por qualquer motivo, dessa vez decidi arriscar. E, confesso, desde esse dia, fiquei cliente do “Costa do Sol” – nome que o restaurante adotou e que, no exterior, figura hoje bem assinalado.

A sala é generosa, com uma decoração arejada e muito funcional. Alerto para o facto de que o ambiente, em fins-de-semana de Verão ou outras férias, se poder tornar um pouco barulhento, como ocorre frequentemente em terras de emigração, dadas a jantaradas de grupo. A qualidade daquilo que nos é servido bem como a simpatia e amabilidade do serviço compensam, contudo, essas conjunturais circunstâncias. A família Machado, proprietária do hotel, a começar pelo dono, António Machado, e a acabar no seu filho Pedro, que gere a sala com grande eficiência e conhecimento, garantem um acolhimento cunhado pela tradicional hospitalidade transmontana. Um conselho: sigam-se as suas sugestões! Eu assim faço. 

As entradas propostas são interessantes, com alheira, moura e linguiça como valores seguros. Nos pratos, o produto mais afirmado da casa é a vitela maronesa, grelhada, ou na forma do seu magnífico lombelo. Várias sugestões de carne de porco são-nos também sugeridas, com os lagartos ou os secretos do dito com óbvio destaque. Há ainda vários bacalhaus (nas vezes que os pedi, nunca tive uma má experiência e considero-me bem exigente neste domínio), pescada ou linguado, bem como alguns pratos simples de marisco. Por encomenda – mas já por lá o provei em dias comuns – há um magnífico cabrito assado no forno, um cozido à portuguesa, uma feijoada à transmontana e javali. As sobremesas não oferecem grandes novidades, mas a tarte ou o folhado de maçã mostram-se de muito boa qualidade.

Nota final para uma carta de vinhos interessante, nada especulativa, com vários verdes (ou não estivéssemos por ali próximos da zona de transição), com óbvio destaque para os seus brancos. Nos maduros, quer brancos quer tintos, há uma natural atenção à região (experimente o Arcossó) e aos vinhos do Douro. Mas o Alentejo, Setúbal e o Dão também ali estão representados.

Gente muito simpática e atenta, excelente comida, preço muito razoável, num espaço arejado e confortável, com estacionamento garantido no exterior – o “Costa do Sol” é um motivo sólido para uma paragem em Vila Pouca de Aguiar. 

Restaurante “Costa do Sol”
Hotel “Aguiar da Pena”
Rua Imperador Teodósio, 18/20
Vila Pouca de Aguiar
Tel 259 417398
Fecha domingo ao jantar (exceto Verão)
Não fumadores

Preço médio 18 euros 

(Crónica publicada na "Evasões", 24.2.17)

13.2.17

O que nunca pedir num restaurante


(EL CONFIDENCIAL, 13.01.17)
El prestigioso chef Bourdain advierte de lo que nunca debes pedir en un restaurante
Las especialidades son cosa de cada local. Con todo, se puede predecir a veces qué platos no van a estar en buenas condiciones. Es lo que piensa el chef Anthony Bourdain
Enfrentarse a la carta: tarea nada fácil. Las causas para ir a un local u otro no están a veces muy definidas: el consejo de un amigo; la crítica que leímos hace tiempo en un determinado medio; el deseo de probar algo nuevo, pero indefinido; o, simplemente, que un día hemos pasamos por delante y el sitio nos ha resultado particularmente atractivo. Acudimos a los restaurantes por pareceres bastante irracionales y cuando llega el momento de seleccionar un plato nos podemos sentir bastante perdidos si antes no nos hemos informado sobre los puntos fuertes del lugar.
¿Te gusta la carne muy hecha? Los peores cortes pueden ser aprovechados por el personal, carbonizando la carne y escondiendo su sabor.~

Si no disponemos de datos previos, un buen criterio para poder elegir es saber, precisamente, lo que nunca debes elegir, o sea, pensar a la inversa. No podemos ofrecer claves sobre lo que no va a fallar nunca en la mesa, ya que ello depende de las especialidades, de los productos, de los conocimientos de los cocineros... Sí se pueden establecer, sin embargo, pautas sobre lo que es probable que no vaya a funcionar. Por lo menos eso asevera el veterano chef Anthony Bourdain, antiguo jefe de cocina de la Brasserie Les Halles de Manhattan. La estrella mediática habla sobre algunos de los platos y de las prácticas que deberías evitar a toda costa en varios de sus libros. Veamos detenidamente el sugerente elenco de consejos.

Carnes, pescados y mariscos
¿Te gustan los filetes muy hechos? Pedir la carne cocinada de este modo suele ser la preferencia de aquellos a los que en realidad no les entusiasma este alimento. Preparar la carne demasiado hecha es una práctica que arrastramos desde el siglo XIX, cuando era más difícil conservarla en buenas condiciones. Si te gusta de este modo, que sepas que el restaurante te la puede jugar. Los peores cortes, es decir, aquellos que están más rancios o que carecen de sabor, pueden ser aprovechados por el personal, carbonizando los filetes y sirviéndolos con un gusto un poco a quemado. Es también fundamental escapar de la moda de la carne de vaca japonesa llamada wagyu. Cuando el precio que aparece en la carta es demasiado bajo. Se trata de un auténtico manjar que no puede estar presente en la carta de cualquier restaurante.

No comas en un local que tenga los baños sucios. Si el retrete no está en unas mínimas condiciones sanitarias imagina lo que pasa en la cocina.

Respecto al pescado, ya se sabe. Nos podía gustar más o menos cuando éramos pequeños, pero lo cierto es que nuestras madres no nos lo preparaban jamás los lunes, ¿por qué, entonces, deberíamos encargarlo dicho día cuando salimos a comer fuera? Bourdain ha sido siempre el gran defensor de que el día perfecto para el pescado era el jueves, momento en el que los cocineros encargan su compra en el mercado. A pesar de defender con ahínco en su libro 'Kitchen Confidential' que no se comiera jamás pescado los lunes, Bourdain se ha retractado recientemente y con, excepción de aquellos locales particularmente económicos, asegura que ahora el pescado se puede pedir cualquier día de la semana. Podemos ser un poco más confiados también por lo que se refiere al sushi, si bien Bourdain ha recomendado en declaraciones pretéritas ser especialmente precavidos por lo que se refiere a los híbridos entre comida china y japonesa que ofrecen sushi barato.

Atentos a las ostras y a los mejillones.
Importante tomarnos en serio el tema de las ostras pues que no estén en buenas condiciones entraña serios peligros para la salud. Lo mismo ocurre con el marisco. Si es fresco, y no está congelado, debería limitarse única y exclusivamente a los locales situados cerca de la costa. Respecto a los mejillones, Bourdain reconoce que no los come jamás a no ser que conozca al chef o haya podido ver el producto con sus propios ojos, ya que advierte que el personal no es muy escrupuloso con su manejo. Un solo mejillón en malas condiciones puede arruinar al resto del producto sano.
Errores mayúsculos
El brunch es una práctica que está sobrepasando las fronteras del mundo anglosajón. La costumbre de juntar el desayuno y la comida se está instaurando en países donde no era tradicional, ya que permite aprovechar mejor las horas libres del domingo. Cocinarlo en casa puede ser una opción polémica, pero viable; tomarlo en un restaurante resulta, por el contrario, un craso error. La razón es que esta comida para vagos se suele elaborar con los restos del viernes y del sábado. El brunch suele estar preparado además por el equipo B del restaurante y es donde muchos aprendices experimentan para poder adquirir el oficio. Si esto ocurre en países donde el brunch es tradición, como en el Reino Unido o en Irlanda, nos podemos imaginar lo que sucede tras los fogones de los restaurantes del resto del planeta. Uno de los platos típicos de este desayuno-almuerzo son los huevos con salsa holandesa, un condimento que, literalmente, apasiona a las bacterias que la colonizan de manera masiva. Advierte Bourdain que jamás ha visto preparar esta salsa en el mismo día en que se sirve. ¿Unirte a la moda del brunch? ¿Estás seguro?

Regla de oro para Bourdain: no comas jamás en un restaurante que descuide los baños. Si el local no es ni siquiera capaz de tener el retrete en unas mínimas condiciones sanitarias o el suelo de los lavabos está particularmente sucio, imagina lo que puede estar sucediendo en la cocina.
Pero la mayor equivocación, el error más grave que puedes cometer, es, para Bourdain, el de solicitar un plato que no se encuentra en el menú. Si por motivos de dieta te encuentras limitado en los alimentos o si no te gusta lo que ves escrito en la carta, piénsatelo dos veces antes de hacer el papel de comensal 'outsider'. Los camareros se enojarán al tener que explicar en la cocina tu extraña petición, los cocineros tendrán demasiadas tareas como para centrarse en los detalles de tu plato. La comida saldrá a la mesa con retraso y seguramente no estará bien cocinada. En definitiva, te juegas que todo el mundo acabe descontento (empezando por ti mismo). En resumen, una alternativa menos inteligente que discutir incluso con el propio personal.