Boa surpresa no vale de Aguiar
Durante muitos anos, nunca tive Vila Pouca
de Aguiar como um lugar onde me apetecesse parar para uma refeição. Vila Real
ou Chaves, de que fica quase equidistante na antiga estrada nacional, ofereciam
sempre opções, em matéria de restaurantes, que aquela simpática localidade do
Vale de Aguiar nunca conseguia equiparar. Até mesmo um pouco a sul, em Vilarinho
da Samardã, ou meia dúzia de quilómetros a norte, nas Pedras Salgadas, a
concorrência chegou a ser suficiente para não estimular uma paragem. E no
Vidago, claro, a sua grande unidade hoteleira permanecia sempre como uma
alternativa “hors concours”.
Vila Pouca – é assim que por ali é
conhecida a “capital” do Vale de Aguiar, onde nasce o rio Corgo, que dali desce
para o Douro – situa-se hoje numa cómoda confluência de autoestradas – a A24,
de Viseu a Espanha, e a A7, que leva a Guimarães e à Póvoa de Varzim – esta
última que substitui a velha estrada que, por Ribeira de Pena e pelo Arco do
Baúlhe, fazia noutros tempos a deslumbrante transição de paisagens entre
Trás-os-Montes e as terras de Basto e do Minho.
Um dia, já há alguns anos, olhei por acaso
um hotel com ar recente, o “Aguiar da Pena”, à chegada a Vila Pouca, no acesso
da autoestrada. De fora, por vidraças amplas, vislumbrei uma sala de jantar com
um ar moderno. Dentro de mim subsiste, reconheço que cada vez com menos razão,
um “parti-pris” enquistado contra os restaurantes de hotel. Mas, por qualquer
motivo, dessa vez decidi arriscar. E, confesso, desde esse dia, fiquei cliente
do “Costa do Sol” – nome que o restaurante adotou e que, no exterior, figura
hoje bem assinalado.
A sala é generosa, com uma decoração
arejada e muito funcional. Alerto para o facto de que o ambiente, em
fins-de-semana de Verão ou outras férias, se poder tornar um pouco barulhento,
como ocorre frequentemente em terras de emigração, dadas a jantaradas de grupo.
A qualidade daquilo que nos é servido bem como a simpatia e amabilidade do
serviço compensam, contudo, essas conjunturais circunstâncias. A família
Machado, proprietária do hotel, a começar pelo dono, António Machado, e a
acabar no seu filho Pedro, que gere a sala com grande eficiência e
conhecimento, garantem um acolhimento cunhado pela tradicional hospitalidade
transmontana. Um conselho: sigam-se as suas sugestões! Eu assim faço.
As entradas propostas são interessantes,
com alheira, moura e linguiça como valores seguros. Nos pratos, o produto mais
afirmado da casa é a vitela maronesa, grelhada, ou na forma do seu magnífico
lombelo. Várias sugestões de carne de porco são-nos também sugeridas, com os
lagartos ou os secretos do dito com óbvio destaque. Há ainda vários bacalhaus
(nas vezes que os pedi, nunca tive uma má experiência e considero-me bem
exigente neste domínio), pescada ou linguado, bem como alguns pratos simples de
marisco. Por encomenda – mas já por lá o provei em dias comuns – há um
magnífico cabrito assado no forno, um cozido à portuguesa, uma feijoada à
transmontana e javali. As sobremesas não oferecem grandes novidades, mas a
tarte ou o folhado de maçã mostram-se de muito boa qualidade.
Nota final para uma carta de vinhos
interessante, nada especulativa, com vários verdes (ou não estivéssemos por ali
próximos da zona de transição), com óbvio destaque para os seus brancos. Nos
maduros, quer brancos quer tintos, há uma natural atenção à região (experimente
o Arcossó) e aos vinhos do Douro. Mas o Alentejo, Setúbal e o Dão também ali
estão representados.
Gente muito simpática e atenta, excelente
comida, preço muito razoável, num espaço arejado e confortável, com
estacionamento garantido no exterior – o “Costa do Sol” é um motivo sólido para
uma paragem em Vila Pouca de Aguiar.
Restaurante “Costa do Sol”
Hotel “Aguiar da Pena”
Rua Imperador Teodósio, 18/20
Vila Pouca de Aguiar
Tel 259 417398
Fecha domingo ao jantar (exceto Verão)
Não fumadores
Preço médio 18 euros
(Crónica publicada na "Evasões", 24.2.17)