25.12.15

Natais


Contrariamente ao que se pensa, o problema não está no que se come entre o Natal e o Ano Novo. O problema, de facto, reside naquilo que se come entre o Ano Novo e o Natal.

Boas Festas!

27.9.15

Tomba Lobos (Portalegre)


Como transmontano, confesso que nunca me reconciliei com a leitura de “campo” de muitos dos meus amigos lisboetas, frequentemente reduzida às longas planuras do Alentejo. Para quem nasceu “para além do Marão”, campo é outra coisa: são as serras, as montanhas, as pedras escalavradas e as urzes bravas. Por tudo isso, como cenário possível de compromisso a Sul, o Alto Alentejo é a zona onde me sinto bem. Tem, da região alentejana, todos os paladares e maneira de estar, conserva os seus inigualáveis ritmos do tempo, mas surge já cruzado com a dureza do terreno que se abre às Beiras, terras que me são mais próximas.

Fui há dias ao Alto Alentejo à procura de um cultor sereno dos sabores da região, o José Júlio Vintém. Conheci-o há um bom par de anos, quando agarrou, com maestria, um espaço simpático no centro da cidade de Portalegre. Segui-o depois, ao longo do tempo: vi-o já ali, numa moradia de periferia da cidade, em cenário rural, onde combina uma sala mais tradicional com um local adequado ao freguês do petisco, que, o tempo ajudando, pode acabar a acomodar-se na tertúlia galhofeira numa esplanada dianteira. Soube da aventura no Brasil e, agora, deste saudável regresso às origens. Que se saúda!

Com o José Júlio, a minha regra é irrevogável: deixo-o ir trazendo da cozinha o que o estiver para sair. Vieram assim, para além do excelente pão local, uma salada de beldroegas, um queijo de cabra assado no forno com orégãos, tibornas de tomates com azeite e uns peixinhos da horta - uma entrada simples por cuja textura “al dente” eu costumo testar o dedo dos cozinheiros. Por ali, nunca se enganam. Ah! E umas bolas panadas de rabo de porco, que, à vista, até presumi de alheira. Fechei as entradas com uma saborosa perdiz de escabeche, em cama de espinafres.

Que teria eu perdido, entretanto? Olhei a lista e lá estavam “paletes” de petiscos, que ficam para uma próxima vista, de que lhes deixo uma pequena amostra: pétalas de toucinho de porco alentejano no forno, rabinhos de tomatada panados, coelho em molho de vilão, molejas de borrego salteadas e umas inusitadas favas com morangos e enchidos do norte alentejano. E muito mais.

Nesse cardápio, surgiam umas iniciais misteriosas: PA, CA, TA. Lá me esclareceram: “produto alentejano”, “confeção alentejana”, “tipicamente alentejana”. Ali não se brinca em serviço!

Deixei os petiscos de entrada, terreno onde, como se sabe, no Alentejo se pode fazer uma refeição completa. Segui depois por uma açorda gratinada de fraca, com poejo, quiçá avinagrada um pouco demais para o meu gosto. Fechei este capítulo com um excelente rabo de boi guisado, de carne certificada.

Regressei à consulta da carta, para mais uma dose de angústia sobre o que entretanto perdera. Ali estavam, por exemplo, as sardinhas albardadas com açorda de coentros, o peito de galo recheado com farinheira, os nacos de vitela ao alhinho, com azeite virgem. E, claro, as sopas, açordas e migas, mas também diversos pratos com viandas de porco, touro, pato ou javali, além de vários usos criativos de bacalhau.

A lista de sobremesas é curta, mas cuida em separar os doces conventuais (o torrão real, os fartes, o queijinho de ovo) das receitas regionais, onde estão a boleima de maçã e um pudim de queijo com pétalas de rosa, além de outros bolos e tartes com marca local.

A carta de vinhos também não é muito longa e, naturalmente, privilegia os alentejanos. Por recomendação da casa, fui para um “Terrenus”, tinto de 2011, ali mesmo da Serra de S. Mamede, não muito denso, com um final prolongado agradável na boca. E preço módico que ajudou a uma conta que foi “em conta”, mas que sempre variará com o apetite do cliente.

Que recomendo ao visitante que vá de longe? Desde logo, que antes inquira o que de especial lhe pode ser preparado, se não quer perder alguns dos pratos que aqui leu. Ou que arrisque o que houver, porque o risco é sempre escasso.

O “Tomba Lobos” renasceu neste subúrbio de Portalegre. Que tenha longa vida! 



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* É o farfalhudo bigode do Apolino, o colaborador de sala que segue o José Júlio desde a casa original, que primeiro nos recebe com o seu sorriso franco. Cúmplice discreto dos usos da casa, o Apolino é hoje um cicerone atento.


* O Tomba Lobos existiria sem a Catarina? Duvido. Ela é a força motriz ao lado do José Júlio, dona de uma ironia sofisticada, companheira firme e serena de todas as horas.


* “Em Portalegre, cidade do Alto Alentejo, cercada de serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros, morei numa casa velha, velha grande tosca e bela, à qual quis como se fora feita para eu morar nela”, in Toada de Portalegre, de José Régio


* A serra é a vida do José Júlio. As hortas onde cultiva, os pequenos produtores que acarinha, a caça que traz para a cozinha, os amigos com quem faz tertúlia. Conheceu muito mundo mas é naquela serra que decanta anos de mesas e vivências, numa cozinha que só é pretensiosa na qualidade.

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Tomba Lobos
Bairro da Pedra Basta, 16
Sé,
7300-529 Portalegre

Tel: 245 906 111
Estacionamento fácil
Wifi
Não fumadores
Encerra: domingo ao jantar e 2ª feira


16.7.15

Casas do Bragal - Coimbra

 
E Coimbra foge ao seu fado
 
Por anos, Coimbra esteve fora dos meus roteiros da boa mesa. Antes da abertura do magnífico Arcadas, na Quinta das Lágrimas, comer por ali nunca foi uma aventura entusiasmante. Os tempos vão melhores, mas, no passado, a cidade mereceu a sua sina: muitos dos que por lá iam, sentiam o tropismo de avançar até à Mealhada, com o leitão na mira.
 
Há meses, surgiu-me uma nova sugestão na cidade: o Casas do Bragal. Lá chegar, sem GPS, pode ser um bico de obra. A melhor opção é seguir a indicação do novo Estádio e, a partir daí, subir para norte, para o bairro da Solum, uma zona de moradias.
 
Para restaurante, trata-se de um espaço bem atípico. Entra-se na casa para uma zona envidraçada, com vista sobre a cidade e recheada de sofás, livros e jornais. Somos convidados a aí nos instalarmos, para uma bebida e consulta do menu. A sala de jantar, com algumas dezenas de lugares, rodeada de quadros a óleo, fica ali mesmo ao lado, separada por um murete.
 
O viajante com horas contadas terá um choque. Ali tudo se passa sem pressas, porque, como logo se entende, não se vive o afogueamento de querer ter muitos clientes por refeição. Há que contar com que as coisas se passem ao ritmo da casa.
 
Eugénio Martins, que nos recebe e orienta, explica-nos uma limitação que é, desde logo, uma imensa garantia: do texto do menu podem estar excluídos alguns pratos, porque ali trabalha-se com os produtos do dia, tudo é feito na hora e, por vezes, há coisas que não é possível apresentar. O menu é uma «bússola» orientadora, mas dele podem não constar propostas de ocasião que seria uma imprudência vir a perder.
 
Não se preocupe com as entradas. Elas chegarão, à medida do que a imaginação do dia proporcionar, numa cadência certa. Anotei os cogumelos recheados com bacon e peixe, uns clássicos, mas «trabalhados», rojões à moda do Minho, um carpaccio de vitela, umas azeitonas (bem) marinadas, uma salada de peixe e queijo fresco. Mas também se pode optar por uma mão de vaca com grão, uma açorda de espargos ou uma salada de beterraba.
 
Importante será olhar com atenção a cuidada lista de vinhos. Douro e Alentejo estão muito bem representados, com preços razoáveis. Pedi uma sugestão da casa e não me arrependi: um tinto beirão, Quinta dos Termos 2009, monocasta da zona de Belmonte, encorpado e suave, mesmo para a carteira.
 
Como pratos principais, a cozinha – onde prepondera Manuela Cerca, uma professora de História que andou pelo jornalismo e se converteu à gastronomia – oferecia nesse dia coisas bem interessantes. Experimentaram-se as vieiras com emulsão de azeite e arroz malandro de agriões, bem como uma cataplana de amêijoas com tamboril. Nas carnes, o pato confitado com trompetas dos mortos foi alternativa ao arroz «pica no chão». Terei um dia que provar os ovos mexidos com trufa branca de alba, bem como o risotto de lactarius delicious com nacos de vitela.
 
As sobremesas não se pedem; procuram-se, na respetiva mesa. Anotei, sem preocupação exaustiva, as mousses (chocolate, café e limão), uma divinal tarte de maracujá, caramelo e amendoins, o pudim da Avó Felicidade e as farófias. Mas também há, noutros dias, terrina de chocolate, tarte e sopa de amoras, entre várias outras coisas. Uma boa coleção de Portos e Madeiras serve de acompanhamento a esta última fase.
 
O preço, variando com as ambições do cliente, foi francamente razoável.
 
A menos que o leitão seja um imperativo, fica aqui um forte conselho para uma visita – calma, sem pressas – a este excelente Casas do Bragal.
Casas do Bragal
Rua Damião de Góis
Urbanização de Tamonte
3030-088 Coimbra
Tel. 918103988
Encerra: 2ª feira e almoço de 3ª feira
Estacionamento, WiFi, espaço para fumadores
Notas
• O «tout Coimbra», com gentes da Universidade a predominar, já se habituou a chamar seu ao lugar. Vê-se na intimidade dos grupos, na familiaridade das conversas. Há, porém, um esforço, evidente e empenhado, para integrar o novo cliente no ambiente.
Bebo champanhe quando estou contente, quando estou triste e, às vezes, quando estou sozinha. Brinco com ele quando não tenho fome e bebo-o quando tenho. Quando tenho companhia, considero-o obrigatório. Fora isso nunca lhe toco; excepto quando tenho sede. Madame Lily Bollinger (citação na lista de vinhos)

• Um menu de azeites não é ainda uma coisa vulgar nos restaurantes portugueses. É, contudo, um caminho interessante para revelar que também por aí passa muito do sucesso dos novos cultores da cozinha tradicional portuguesa

• Às vezes, também se canta por ali o fado e se ouvem outras sonoridades que rimam com o ambiente descontraído da casa.

30.5.15

"Toca da Raposa" (Ervedosa do Douro)

Na minha juventude, o nome "Toca da Raposa" ligava-se àquele que foi o primeiro restaurante citadino de Vila Real, criado nos anos 60. Até essa altura, a restauração vila-realense (tal como acontecia na grande maioria das cidades e vilas portuguesas) limitava-se às tascas, às "casas de pasto" e às pensões, onde aboletavam funcionários e gente de passagem. A velha "Toca da Raposa" é hoje um estimável café, aliás com graça nas noites de verão.

Por essa razão, quando me disseram que havia um restaurante com esse nome em Ervedosa do Douro fiquei curioso. 

Imagino que a maioria dos leitores se interrogue: mas onde fica Ervedosa do Douro? Três coisas são certas. A primeira é que, para a esmagadora maioria dos portugueses, não fica “logo ali”. A segunda é que a viagem “vale o desvio”, como costumam dizer os guias Michelin. E, finalmente, a terceira coisa que posso assegurar é que, lá chegados, ao restaurante que aqui lhes recomendo, não irão ficar desiludidos.

Dito isto, dou umas dicas orientadoras. Se vier da Régua, na direção do Pinhão, são 35 km pela agora famosa EN222, há semanas considerada internacionalmente “a melhor estrada do mundo”. Porém, no caso de Vila Real ser o ponto de partida ou passagem, aconselho vivamente tomarem o caminho de Sabrosa, daí descendo com calma até ao Pinhão (não percam os azulejos da estação da CP!), antes da subida final para Ervedosa do Douro.

Em qualquer dos casos, o espetáculo é fascinante. Para além da serena imponência do Douro, a paisagem é envolvida pelas cores mutantes dos “montes pintados”, de que falava João de Araújo Correia. António Barreto sintetizou isso bem: “Entre as aldeias, vinha, vinha e mais vinha. Verde, vermelha, roxa, amarela, castanha e negra, conforme as estações”.

Finalmente, com outro perfil de cenário, mais beirão, há ainda um caminho pelo sul, por Trancoso e por S. João da Pesqueira, que já fica a dois passos de Ervedosa.

Mas vamos ao que interessa, à Toca da Raposa, de que hoje lhes quero falar. De início, foram uns rumores: “há um lugar que creio que não conheces, perto de S. João da Pesqueira, onde se come muito bem”. Depois, outros, mais desafiadores, provocaram: “Andas por aí a escrever sobre restaurantes e nunca li uma palavra tua sobre a Toca da Raposa!”. Comecei a irritar-me e, conduzido por um amigo, para me livrar do “bafómetro” (como dizem os brasileiros) da Brigada de Trânsito, rumei um dia deste até Ervedosa do Douro.

Fomos recebidos pela Maria do Rosário, que orienta a sala com simpatia e saber e nos indica aquilo que a mãe, a D. Maria da Graça, nos pode preparar a partir da (imaculada) cozinha. A completar, o irmão, engº Fernando Gomes, trata dessa dimensão duriense essencial que são os vinhos. É, aliás, o responsável pela magnífica carta que o restaurante apresenta, onde, como é óbvio, os Douros são donos e senhores do espaço. Agora, ao lado do próprio restaurante, há mesmo uma garrafeira, com mais de 100 hipóteses de escolha, colmatando uma estranha lacuna na região.

A conselho avisado de quem me acompanhava, decidi ficar nas mãos e no conselho da casa, para uma degustação.

Abrimos o repasto com uma alheira. Era de caça, senti-a pouco vulgar e tinha razão: tinha perdiz, faisão e coelho bravo. Disseram-me que havia outra: de vitela, porco e galinha. Acompanhámo-la com um branco Odisseia 2013, com castas rabigato, viosinho e côdega de Larinho.

Uma torrada de pão regional, uma receita em que antigamente se usava o pão velho que sobrava, com azeite e alho, serviu de base a um belo queijo de cabra com azeite. Um branco Quinta do Cidrô, Semillon, 2013 esteve junto.

Ainda nesta fase introdutória, experimentámos uma chouriça “crespa” de vinho do Porto, e depois, o “moiro”, uma alheira transformada com sangue de porco. Aqui, já nos acompanhou um Quinta Beira Douro, 2012, tinto.

Outro tinto, este o Quinta de S. José, desse excelente ano de 2011, deu suporte a um polvo grelhado, com batatinhas tostadas, salada de pimentos com alho e cebola.

Continuando agora nas carnes, seguimos para um cozido, com arroz branco, que anotei muito mais leve do que outros que tenho experimentado por aí. Na harmonização, foi-nos sugerido um tinto Quinta do Malhô 2011, um pouco frutado e com uma ligeira e agradável acidez.

Finalmente, o cabrito grelhado, com que se encerrou esta fase, teve a acompanhá-lo um tinto Reserva d’Amizade, 2011, um vinho mais encorpado, com touriga nacional, touriga franca e tinta roriz.

Encerrámos com um painel de sobremesas: primeiro o magnífico Bolo Borrachão, seguido de uma tarte de amêndoa e chila. Um Porto Dalva 85 serviu de acompanhamento. Finalmente, provámos o Arroz Doce e um Pudim de Ovos, desta vez com um Porto Tawny 10 anos, Quinta das Carvalhas.    

A lista, extremamente cuidada e com uma apresentação muito profissional, para além das experiências feitas, oferece outras propostas muito interessantes. Nos peixes, a casa tem como referências o polvo na telha e os milhos de bacalhau. Nas carnes, a somar a um belo leque de enchidos, dizem-me ser notável o arroz de feijão com salpicão, a meada de cabrito (um prato antigo da região), que é um estufado envolvido em massa meada, e o porco bísaro com arroz de míscaros.


O Douro corre lá em baixo, mas há um Douro bem alto nesta Toca da Raposa, em Ervedosa. Aconselho vivamente.

TOCA DA RAPOSA
Rua da Praça, Ervedosa do Douro (São João da Pesqueira)
Tlfs: 254 423 466 / 961 586 199
Preço médio (com vinhos): 30 euros
Aberto todos os dias, das 12.00 às 16.30 e das 18.30 às 00.00 horas.
Web: facebook.com/tocadaraposa.douro

Outras opções na região: Na Folgosa, o DOC (254 858 123) e, no Pinhão, o Harvest (Hotel LBV, 254 738 320), alternativas mais caras. Em S. João da Pesqueira, O Forno da Devesa (254 484 414) 

9.5.15

Imperial de Campo de Ourique


Olhando de fora, nem sequer é muito óbvio de que se trata de um restaurante. Entra-se e, à direita, tem um daqueles balcões longos e altos que são a imagem de marca de estabelecimentos similares. Por detrás dele está a cozinha. Dessa sala de entrada, onde também se pode abancar (foi ali que o fizémos, aliás) passa-se a outra, nas traseiras, onde a amesendação da "Imperial de Campo de Ourique" tem o seu lugar nobre. Mas tudo é muito simples: mesas e cadeiras metálicas, individuais e guardanapos de papel.

O senhor João, minhoto de Ponte da Barca, recebe-nos com a generosa qualidade de quem é do norte: caloroso, envolvente, agradado por poder agradar, preocupado por não poder acolher-nos na sala principal. Eu e quem me acompanhava não íamos muito preocupados com o poiso. Íamos diretos à chanfana que, na 6ª feira, é o prato de resistência, a imagem de marca da casa, a par, noutros dias e em tempos adequados, da lampreia, que o senhor João arranja "lá em cima", de qualidade e que, consta, é muito recomendável. 

A lista, nesse dia, não se esgotava, porém, na chanfana "à casa". Por ali havia uma feijoada à transmontana que espero em breve testar e um bacalhau assado com batata a murro que me levou os olhos, numa travessa que passou. E outras coisas, como dourada ou carapaus grelhados, o bacalhau à Brás, as clássicas iscas de porco e outros grelhados usuais na restauração lisboeta. Noutros dias há coisas diferentes, como salmão, pataniscas e outros pratos Ah! e, claro, a dose, em nenhum caso, excede os 10 euros, pelo que, nem com esforço!, a fatura final passará além dos 15 euros.

Começou-se com uns bolos de bacalhau, com textura certa. O vinho escolhido foi o da casa, de "um primo da Ermelinda de Freitas", segundo o senhor João nos informou. Era amplamente "buvable", como se viu na repetição das canecas a que as três horas de conversa obrigaram. Não experimentei a aguardente de terras da Barca que o senhor João trouxe para a mesa (limitação de quem tinha de dar uma aula nessa tarde!), mas não resisti ao arroz doce (um pouco líquido de mais para o meu gosto) com que se fechou o repasto. Também o apetecível bolo de bolacha e o pudim (muito gabado por quem o provou) ficaram para outras visitas. 

Há dias, publiquei por aqui um despretensioso "guia" da oferta gastronómica em Campo de Ourique. Hoje, de baraço ao pescoço, qual Egas Moniz, devo reconhecer o erro de não ter incluído esta "Imperial de Campo de Ourique" (que me trouxe à memória a sua saudosa homónima do Campo Pequeno, cujo encerramento nunca lamentarei suficientemente). A retificação devida vai ser feita.

"Imperial de Campo de Ourique"
Rua Correia Teles, 67
Tlf. 21 388 60 96
Fechado aos domingos. 
Nem sempre abre ao jantar, o que, no entanto, faz sempre que haja reservas atempadas      

4.5.15

Bairro Alto

 
Ontem, domingo, deu-me para ir jantar ao Bairro Alto. A (re)viver em Lisboa desde há mais de dois anos, dei-me conta que o Bairro Alto deixou de ser o local onde, no passado, ia muito frequentemente, a restaurantes e alguns bares. Entrei no bairro ido do Camões e, de repente, "perdi-me"! Eu já não conheço "aquele" Bairro Alto! Andei por ali uma boa meia hora, cheio de curiosidade. Passei por dezenas de restaurantes, tascas e bares cuja existência e nome desconhecia por completo, só de quando em vez ouvi alguém falar português e, mesmo nesse caso, era quase sempre com acento brasileiro. Verdade seja que não me senti minimamente tentado a entrar em nenhum daqueles espaços, que têm o mesmo atrativo para um nativo do que a rua das Portas de Santo Antão (com exceção do Gambrinus e do Solar dos Presuntos) ou a rua Jardim do Regedor. Mas fiquei imensamente satisfeito por ver o bairro cheio de gente, com os restaurantes "à cunha", numa noite quase-chuvosa de domingo, com um ambiente cosmopolita, que nada fica a dever a outras áreas similares por esse mundo fora. O movimento nesta zona de Lisboa, que se prolonga por Santa Catarina, pela Bica e chega ao Cais do Sodré, tem hoje um turismo pujante. E ainda bem! Espreitei o Alfaia, mas já nem tinha os "lombinhos à indiana" na lista afixada na porta. Confirmei que a Tasca do Manel e o vizinho Fidalgo estavam fechados, o mesmo era verdade para o Pap'Açorda e o Casanostra. Idem para a Primavera e o 1° de maio. Não testei o novo registo do BarAlto e o Bota Alta estava de folga. Não me aventurei pela zona longínqua do Cem Maneiras ou para os lados do Farta Brutos. Aqui entre nós, este Bairro Alto, em toda a sua glória turística, é hoje uma ilha estrangeira em Lisboa. E se acho isso bem simpático, vi-me a concluir que o bairro deixou (em definitivo?) de me atrair (dizem-me que há umas lojas giras durante o dia). No fim desta breve incursão, gastronomicamente frustada, decidi ir jantar a outro lado. Ali perto, o SeaMe estava a abarrotar, a Taberna da Rua das Flores nem luz tinha, pelo que acabei na Brasserie de l'Entrecôte, por grande sorte de uma marcação de alguém que faltou à última da hora. Como dizia o Camilo de Oliveira: "isto é que vai uma crise!"

26.4.15

Restaurante Lameirão (Vila Real)



(Apontamento publicado na revista "Evasões" em 24.4.2015)



COMER EM CASA


Era um hábito arraigado numa certa província. Ao final da tarde, “entre homens”, à mesa ou ao balcão, organiza-se um “lanche”, já ajantarado, à volta de um salpicão, um presunto, um chouriço assado, acompanhados por vinho, hoje também muito por cerveja. Em Vila Real, lá para Trás-os-Montes, estas “tainas” ainda ocorrem, ao cair do dia, num ritual tecedor de laços de amizade madura e machista, com conversas de futebol ou de política.
Foi nesta nobre linhagem de tradição vila-realense que o “Lameirão” nasceu. Com o tempo, veio a evoluir para a normal oferta de almoços e jantares. E começaram a chegar as famílias por lá. As instalações modernizaram-se, sob risco de arquiteto, não fosse o seu dono, Eleutério Lameirão, um ainda profissional do desenho técnico. Desde meados dos anos 90, foi-se o balcão, ficou uma sala moderna com cerca de 40 lugares, alargados no Verão para uma pequena mas simpática esplanada exterior.
Na cozinha, Luísa, irmã do Eleutério, é a mestra do “back-office” gastronómico. Na sala, o proprietário e a mulher, Alice, afadigam-se no serviço: simples, sem sofisticações, como numa casa de família. Chegue cedo. Às vezes, nos dias de enchente, as coisas tomam o seu tempo, mas ninguém vai para ali com grandes pressas.
Convém começar por perguntar o que há. É que todos os dias, sem exceção, a oferta varia. A cada refeição, há sempre e só quatro pratos. Se arribar tarde, as opções vão escasseando (com o recurso último ao bife).
Abra a função (recomendo vivamente!) por uns rissóis, de carne ou de camarão, e/ou bolos de bacalhau, No lugar do leitor, tenderia a optar depois pelas especialidades regionais: a “feijoada de feijoca”, a “vitela estufada ou assada”, as “tripas aos molhos ou com feijão”, as “sardinhas com arroz de feijão”, a “mãozinha de vitela com grão”, o “rancho”, o “entrecosto”, a “feijoada com feijão branco ou vermelho”. Várias vezes por semana, pode encontrar também as “pataniscas de bacalhau”, os “panados” ou o “arroz de polvo”. E pouco mais. Mas chega, acreditem.
Nos doces, a tradição da casa, todo o ano, são as magníficas “rabanadas”, mas o “bolo de chocolate” e o “leite-creme” também se recomendam.
A carta de vinhos é (lamentavelmente) pobre, com os Douro a fazerem as honras da casa: o melhor que hoje por lá há são as versões mais correntes do “Vallado” e do “Quinta do Crasto”. Os preços dos pratos são moderados: as fartas meias-dose rondam 7 euros, as doses (para duas pessoas) 13 euros.
O Eleutério não tem pretensões de entrar no Michelin ou nos Garfos de Platina. Quer apenas oferecer-nos uma comida genuína, na sua quase imbatível relação qualidade/preço. E quer que saiamos satisfeitos. Eu saio.


***
O LAMEIRÃO
EN2 (saída norte de Vila Real)
Lugar das Flores
A 500 metros do IP4
Tel. 259 346 881
Fecha 4ª feira, Estacionamento fácil
Wifi, Não fumadores, reserva aconselhada

***
OUTRAS OPÇÕES EM VILA REAL
Como alternativas, embora todas mais caras, recomendo o “Cais da Vila” (259 351 209), o “Chaxoila” (259 322 654) ou o “Museu dos Presuntos” (259 326 017).

21.3.15

Mesas de Lisboa



Há dias, um amigo holandês que veio viver para Lisboa, pediu-me uma lista de sugestões de restaurantes para se "iniciar" na capital. As recomendações para estrangeiros não são, necessariamente, as mesmas que faria a um português. Com efeito, há algumas coisas "óbvias" que entendemos que um forasteiro deve conhecer, para poder ter uma perspetiva alargada inicial. Aí vai a lista que lhe mandei, por ordem alfabética:

Avenue (Avenida da Liberdade)

Belcanto (Chiado)

Café de S. Bento (S. Bento)

Café In (Belém)

Cem Maneiras (Bairro Alto)

Casa de Pasto (Cais do Sodré)

De Castro Flores (S. Bento)

Descobre (Belém)

Feitoria (Belém)

Galito (Luz)

Gambrinus (Baixa)

Ibo (Cais do Sodré)

Insólito (Bairro Alto)

Magano (Campo de Ourique)

Ramiro (Martim Moniz)

Salsa & Coentros (Alvalade)

Talho (S. Sebastião da Pedreira)

Tasca da Esquina e Cervejaria da Esquina (Campo de Ourique)

Travessa (Santos)

York House (Santos)

Diversos no Mercado da Ribeira (Cais do Sodré)

 
Posso imaginar que esta listagem não seja consensual. Sendo que aquele meu amigo é empresário, deveria talvez ter colocado o Pabe, o Aviz ou Il Gattopardo, já para não falar do Tavares e do Eleven. Ou o Estórias da Casa da Comida e o Jockey. Algumas coisas mais "lisboetas" e interessantes, como a Horta dos Brunos, o Solar dos Duques, o Poleiro, o Dom Feijão, o Mattos, o Pinóquio ou o Solar dos Presuntos poderiam também integrar a lista. E, claro, a Bica do Sapato e o Sea Me, para "encher o olho"...

18.2.15

O segredo dos restaurantes

Há dias, entrei por curiosidade num recém-aberto restaurante, apenas para dar uma vista de olhos na lista. A especialidade eram "petiscos", essa moda que por aí anda e se aproxima das "tapas" espanholas, ao que parece com o objetivo de captar um público menos dado às refeições longas e mais pronto a aceitar a partilha de pequenos pratos diversificados, num ambiente descontraído. Neste modelo, tenho visto um pouco de tudo: desde coisas inventivas a uma oferta gastronómica sensaborona.
 
O local onde entrei era interiormente agradável. Os clientes eram muito poucos, o que rimava com o olhar ansioso, mas logo desiludido, de quem me recebeu, convencido que eu ia almoçar. Nesse restaurante, a lista era demasiado concentrada num único tipo de carne - o que acho francamente limitativo para fidelizar uma clientela regular. Perceber-se-ia isso uma loja deste tipo no Mercado da Ribeira ou de Campo de Ourique. Mas não se entende a abertura deste espaço numa rua de um bairro lisboeta, já fora do seu centro, com estacionamento "impossível", sem um núcleo próximo de emissão de clientes (empresas, escolas ou outros equipamentos coletivos).
 
Já não é a primeira vez que dou comigo a matutar: por que diabo abriu este restaurante? E logo aqui? Que hipóteses de sobrevivência tem? Olha para os donos, normalmente gente jovem ou de meia idade que decidiu arriscar poupanças, gente que se empenha no trabalho e já se empenhou no banco, e sinto pena. Deve ser um imenso esforço investir numa casa nova, contratar gente, ficar "preso" numa tarefa que se sabe absorvente e que, para ter sucesso, não pode ter falhas e tem de garantir uma clientela regular. Há espaços novos que, à partida, se percebe logo que estão condenados ao insucesso. E ninguém lhes explicou isso? Ninguém lhes disse que aquela lista não "funciona", que aquela oferta gastronómica não traz nada de novo, que aquela zona da cidade ou está saturada ou não tem quem sustente um novo espaço?
 
O sucesso de um restaurante nunca está garantido. Mas, depois de décadas de frequência de milhares de restaurantes, julgo saber o que faz a desgraça de uma casa. E, tal como o outro, já não tenho dúvidas e raramente me engano. Já pensei fazer "assessoria" neste domínio...
 
Falo por Lisboa. Lançar um restaurante implica, essencialmente, ter alguma coisa nova a apresentar. Às vezes é o "conceito", às vezes é o produto, outras vezes é o caráter "trendy" da zona. Mas é sempre preciso que haja um motivo concreto que nos leve, pela primeira vez, a uma casa que abre. Em regra, o boca-a-boca é o fator mais eficaz: "Já foste ao X? É um local muito simpático, com excelente ambiente e come-se lá uma cozinha "de tal sítio" muito boa". Outros vão lá pela moda, pelo "Time Out" ou pelas notas nas revistas, não percebendo que, muitas vezes, há por ali muitas vezes amiguismo, lóbi, cumplicidades que vão dos copos a sítios mais íntimos. Quando não há mesmo mera publicidade travestida de análise crítica favorável.
 
Um fator essencial é o serviço.
 
Há dias, fui jantar a um restaurante aberto já há anos. O local é bom, o mobiliário mudou desde uma "encarnação" mais sofisticada, está agora convertido num rústico sem gosto, toalhas "a armar" ao popular, com candeeiros que "não rimam", sobras da anterior decoração. Quem nos atende não dá um sorriso - o homem e a mulher -, o que transforma a inquirição sobre um ou outro prato numa diálogo seco, desinteressante e desinteressado. Para quem, como nós, entra para jantar num restaurante para um tempo agradável, que investe numa hora e tal de bom ambiente, deparar com dois "morcões" de trombas é a garantia para um resultado garantido: nunca mais lá volto. Ou, como vi um dia um amigo dizer ao proprietário de um restaurante nos arredores do porto, à saida: "Sabe? Vim cá três vezes: a primeira, a única e a última!".
 
Por contraste, estive num restaurante renovado há poucos meses. Entrei e o dono, que não conhecia, surgiu com um sorriso, saudando-nos, dando alternativas de mesa. Depois, deu sugestões de dois ou três pratos recomendados, sem pressões. E, gentilmente, quando me aprestava para encomendar um determinado vinho, perguntou se não queríamos provar o tinto da casa, em jarro, a metade do preço. (O qual, diga-se, era excelente). A meio da refeição, servida por um funcionário atento e delicado, o patrão veio inquirir sobre a nossa satisfação sobre a refeição. Ah! e não nos encheu daqueles pratinhos de entrada que não pedimos e não fez propaganda insuportável dos doces "caseiros". Vou voltar, claro.
 
Como atrás referi, ninguém pode garantir o sucesso de um restaurante. Mas há fatores que "liquidam" uma casa em pouco tempo, Falarei doutros numa diferente ocasião.    

7.2.15

Guia de Campo de Ourique


Come-se bem em Campo de Ourique. Julgo que conheço o essencial da oferta do bairro, mas aceito outras sugestões. 

Mercado de Campo de Ourique

Comecemos pelo Mercado de Campo de Ourique, onde, desde 2014, se juntam propostas gastronómicas e enológicas diversas, numa lógica muito contemporânea, meses mais tarde reproduzida, embora com maior ambição, no Mercado da Ribeira.
   
Como sou um comodista militante, não me agradam as filas nos diversos balcões, a que se segue o carrear das vitualhas para as mesas coletivas. Por isso, o Mercado, que reconheço que tem graça e uma bela animação, não faz parte dos meus destinos habituais, a menos que me apeteça apenas petiscar e beber um copo informal. O excessivo ruído deste ambiente bem solto, que já se tornou "trendy" ao final da tarde, também não vai bem comigo. Mas aconselho a que experimentem.


O Bem Disposto ((FECHOU)


Saindo da zona do Mercado pela rua Tenente Ferreira Durão, encontramos no nº 52 o "Bem Disposto", (tlf. 213 953 203). Esteve fechado por uns tempos e foi agora amplamente renovado. Tem uma gerência diferente e uma oferta culinária curiosa. Ao que a minha memória gustativa me diz, está bem melhor do que na anterior encarnação. Foi uma bela experiência, que repetirei em breve.



Stop do Bairro (MUDOU DE ENDEREÇO)


Ainda na mesma rua, no nº 55, situa-se o "Stop do Bairro" (tlf. 213 888 856), que é talvez o restaurante lisboeta que mais me divide de vários amigos: a maioria deles adoram e eu, confesso, acho gastronomicamente banal, incómodo, como um espaço minúsculo. Saio de lá sempre pouco satisfeito. Feitios...

Verde Gaio

Para Norte, numa rua paralela, a Francisco Metrass, em frente ao Mercado, fica no nº 18 o "Verde Gaio" (tlf. 213 969 579). Sempre lá comi bem. Os grelhados são muito bons.

Parreira do Minho

Ainda na rua Francisco Metrass, no nº 47, fica a "Parreira do Minho" (tlf. 213 969 028), um espaço bem mais modesto, o que se reflete também nos preços do menu, cuja variedade não é muita mas onde se encontram alguns pratos interessantes. Quando posso, passo por lá para uma divertida tertúlia semanal.


Europa


Escassos metros adiante, no nº 57 da Francisco Metrass, está o "Europa" (tlf. 213 968 902). Foi renovado desde há meses e está hoje muito melhor, com uma oferta bem mais simpática e cuidada do que no passado, apoiada num serviço muito atento.


O Comilão

E continuemos noutra rua paralela, ainda mais a Norte, a rua Tomás da Anunciação. Se iniciarmos o percurso a partir da rua Saraiva de Carvalho, encontrar-se-á, logo no nº 5A, "O Comilão". É um restaurante tradicional de bairro, sem "peneiras", com serviço atento e uma oferta gastronómica simples. Olhem-se as fotografias em uma das paredes para perceber por que está sempre cheio de políticos de um certo partido. Desde há muitos anos que passo por lá, mas sou uma "avis rara" face à orientação dominante na clientela política...

 Pimenta Rosa


Um pouco adiante, aberto creio que em 2013, está, no nº 9B, o "Pimenta Rosa" (tlf. 213 904 621), com outras pretensões e, naturalmente, com preços diferentes. O ambiente é muito agradável e a cozinha imaginativa, embora sem deslumbrar.


O Magano


Continuando pela Tomás d'Anunciação na direção ao Jardim da Parada, do outro lado da rua, no nº 52, está aquele que considero um dos melhores restaurantes do bairro, o alentejano "O Magano". Não é barato, mas tem uma constância na qualidade que até me faz aturar alguma espera que, por vezes, é necessária para obter mesa, mesmo reservando. Por isso, evite as noites de fim de semana.

O Tachinho

Passemos a outra paralela para Norte, a rua 4 de Infantaria, que também bordeja o Jardim da Parada. No nº 6 E, fica "O Tachinho" (213 962 684). Nos anos 90, parei por lá com frequência. Regresssou numa nova encarnação. Sempre por ali se comeu bem e, pelas duas experiências que tive, a nova gerência parece estar a tentar colocar-se à altura das belas experiências do passado. Tem agora uma esplanada, feiosa mas agradável para um almoço leve no tempo bom.



Moules & Beer

Caminhando para o outro lado do Jardim da Parada, no nº 29D da 4 de Infantaria, fica o interessante "Moules & Beer" (tlf. 213 860 046), um local relativamente novo, com gente nova, onde o prato principal e de referência, como o nome da casa indica, são os mexilhões. Uma casa diferente e interessante, neste bairro clássico. O serviço é um tanto errático e a escolha de vinhos limitada, mas as cervejas são "the name of the game".

Cataplana & Companhia


Prossigamos para Norte, até outra rua paralela, um dos eixos principais de Campo de Ourique, a rua Ferreira Borges. Logo no seu início, no nº 193, desta vez para quem parte d a zona das Amoreiras, encontramos o tradicional "Cataplana & Companhia" (tlf. 213 865 269), que já se chamou "Tico-Tico". É um restaurante de famílias do bairro, com uma vasta oferta e um preço razoável. O ambiente é de velho restaurante lisboeta, com serviço simpático, informal.

Café Canas

Saltando agora para o outro extremo da rua, no cruzamento mais importante do bairro, onde a rua Ferreira Borges se encontra com a rua Saraiva de Carvalho, encontramos no nº 145, o "Café Canas" (tlf. 213 920 590), que por ali conheço desde os anos 60. Já foi um restaurante com algum nome em Lisboa. É hoje apenas um café e cervejaria, sem surpresas, sem requintes, onde, sem grandes expetativas, se pode fazer uma refeição razoável, por um preço simpático.

Tasca da Esquina

Por detrás do "Canas", na esquina da rua do Patrocínio (que saudades da "Tasquinha da Adelaide" que por essa rua houve!) no início da descida para a Estrela, no nº 41 da rua Domingos Sequeira, fica a já famosa "Tasca da Esquina" (tlf. 919 837 255) . Ocupa um lugar onde houve um Correio e é hoje um espaço ainda bastante na moda, onde o chefe Vitor Sobral (que nunca por lá encontrei, confesso!) nos propõe alguns pratos interessantes, num ambiente agradável e descontraído, com serviço muito simpático. Reserve sempre.

Trempe

Mudemos a geometria de abordagem. Passemos às ruas perpendiculares. E comecemos pela rua Coelho da Rocha (por lá houve dois bons clássicos, desaparecidos na sua versão original, o "Coelho da Rocha" e a "Charcuteria"). De Norte para Sul, encontramos, logo à saída da rua Silva Carvalho, no nº 11 da Coelho da Rocha, o "Trempe" (213 909 118). Sem ser de grande ambição gastronómica, sempre por lá tive boas experiências, num estilo de comida portuguesa tradicional. 

Flagrante Delitro


Do outro lado da rua, na Casa Fernando Pessoa, no nº 18, fica o restaurante "Flagrante Delitro" (tlf. 213950704), com uma lista curta mas com graça, para uma refeição simples, num espaço interessante que, no Verão, se abre para um agradável pátio exterior.

 Solar dos Duques


A outra rua paralela imediata é a Almeida e Sousa. Quase a chegar ao extremo sul da rua, no nº 58, fica o "Solar dos Duques" (tlf. 213 872 674), em bom restaurante de cozinha tradicional portuguesa, que sempre recomendo. Espaço simples, às vezes um pouco barulhento mas com ambiente agradável e serviço atento. Não se esqueça de reservar.

Cervejaria da Esquina


Na paralela seguinte, a rua Infantaria 16, nada tenho a recomendar. O que não é o caso da rua imediata, a Correia Teles, onde, no nº 56, fica a "Cervejaria da Esquina" (tlf 213 874 644), do mesmo proprietário e chefe da já referida "Tasca da Esquina". Um pouco mais cara do que esta, mas também mais sofisticada nas propostas, a Cervejaria da Esquina é um dos locais interessantes do bairro, embora o serviço "cool" não me entusiasme muito e, claro, o preço me faça ser cliente mais raro. Mas reconheço a sua qualidade, no género. Reserve sempre, em especial aos fins de semana.

E pronto, aqui ficam quase duas dezenas de sugestões desse belo bairro de Campo de Ourique. Atenta a dificuldade de estacionar na zona, recomenda-se o parque subterrâneo junto à Igreja de Santo Condestável e ao Mercado.