O polvo é quem mais ordena
No Porto há vários
restaurantes clássicos, mas eu arriscaria dizer que, nos dias de hoje, nenhum
tem os pergaminhos históricos do Aleixo.
O Aleixo
fica em Campanhã, a dezenas de metros da mais movimentada estação ferroviária da
cidade. Contudo, nem por isso sofre da banalização que, muitas vezes, afeta os
lugares de restauração próximos dos centros de transportes coletivos. Ao longo
de toda a sua existência, com altos e baixos, somados a crises e dissídios, a
casa tem conseguido sustentar uma qualidade muito apreciável, sendo procurado
por uma clientela fiel local e, em especial nos últimos anos, também pelos
turistas que enxameiam o Porto. E, claro, por forasteiros como eu, que mapeiam
o país das boas vitualhas.
O espaço do
Aleixo é típico de um restaurante sem grandes sofisticações, mas com um
ambiente acolhedor, quase caseiro. Não fora a pressão de clientes em dias de
maior procura e seria tentado a dizer que recorda as saudosas pensões de
província, nos tempos imemoriais do “bom e barato”. Estamos um pouco longe
disso, isto é, continua bom mas, como não podia deixar de ser, porque a
qualidade dos produtos tem de ser paga, já não é um restaurante qualificável
como barato – muito embora, a meu ver, tenha uma relação qualidade/preço muito
boa.
Sou cliente
antigo do Aleixo. Nem me recordo de quando por lá parei pela primeira vez,
seguramente saído de um comboio ou a fazer horas para ele. Creio que sou ainda
do tempo em que nem café era por ali servido, como também lembro o período,
menos agradável, em que, para o tomar (mas de saco), éramos obrigar a
deslocar-nos para uma sala feita bar, em bancos incómodos, onde se acertavam as
contas finais. Hoje, esse espaço passou a ter mesas e foi aí que, há dias,
almocei.
O que se
comeu? Abriu-se com bolinhos de bacalhau, feitos na hora, com a consistência
certa, acompanhados de feijão frade. Deixámos para memória futura os rissóis de
pescada e os croquetes de alheira, e as tradicionais tripas, entre as várias
entradas sugeridas – mas não impostas, como deve ser.
Por mim,
raramente consigo ir ao Aleixo sem comer os seus filetes de polvo, “com arroz
do mesmo”, que encantavam o Jaime Ramos, o polícia da ficção do Francisco José
Viegas. Devo dizer, sem a menor sombra de dúvida, que são os melhores filetes
de Portugal, embora não arrisque dizer “do mundo”, como ousa Miguel Esteves
Cardoso. São muito bem cozinhados, “al dente”, para pedir de empréstimo um
termo das massas. O arroz estava simplesmente de comer e chorar por mais.
Mas, em matéria
de filetes – porque nem só de polvo por ali se vive – provaram-se uns de robalo
do mar, com ameijoas à Bolhão Pato, que, estando bons, não fizeram esquecer os tradicionais
de pescada, que continuam nos lugares cimeiros do património culinário da casa.
O Aleixo tem
também um bacalhau frito de cebolada que recordo excelente. E carnes, claro,
onde se destaca uma posta de vitela maronesa que um dia experimentei com gosto.
Aos jantares de sexta-feira e ao sábado, há por ali cabrito assado no fogão a
lenha. A costela mendinha assada é servida às quartas-feiras.
Não falei
das sobremesas. As famosas rabanadas da casa e o pudim Abade de Priscos
confirmaram a expetativa.
A carta de
vinhos não é muito extensa, mas tem o essencial. Fomos por um verde branco “Avesso”,
simpático e boa companhia para uma refeição da qual que saímos muito agradados.
Como sempre, aliás.
Casa Aleixo
Rua da
Estação, 216
Campanhã
Porto
Telf:
225 370 462
Reserva
aconselhada
Estacionamento
próprio
Não
fumadores
Encerrado ao
domingo
Preço médio:
25 euros