30.9.23

Passando a coisas sérias...

 


... gostava de dizer que fui hoje almoçar, com um amigo, a um excelente - e, para mim, até agora, desconhecido - restaurante em Algueirão (rua dr. João de Barros, 88), na linha de Sintra. Por feliz indicação de um outro amigo, pessoa que tem o país escrutinado em matéria gastronómica, descobri o restaurante "A Oliveira", onde comi um soberbo arroz de lingueirão, antecedido de umas ameijoas à Bulhão Pato de se lhes tirar o chapéu. O preço foi "em conta". É uma casa muito pequena, com um serviço delicado e sabedor, com necessidade imperiosa de reserva (211 978 591). Um alerta: nas próximas duas ou três semanas, por razões dos mares, não haverá por ali lingueirão, mas o resto da lista é muito apelativo. Experimentem e não se arrependerão!

4.8.23

Quatro notas


Vou falar de quatro restaurantes recentemente visitados.

Comecemos pelo "Galito", em Lisboa, perto do Colombo. Para quem não saiba, o "Galito" é o único restaurante lisboeta que apresenta um menu exclusivamente alentejano. Claro que os excelentes "Salsa & Coentros" e "Magano", respetivamente em Alvalade e Campo de Ourique, têm belos pratos alentejanos. Como também acontece com o "Colunas", na Amadora, e com o "Zé Varunca", em Paço d'Arcos. Mas, totalmente alentejano, só o "Galito", onde o Henrique nos procura compensar a saudade que todos temos da Senhora sua Mãe, a Dona Gertrudes, que recordo nos vinha perguntar gentilmente à mesa, nas duas geografias anteriores do restaurante, se estava tudo bem. Uma vez mais, na visita de há dias, estava tudo bem por ali, salvo a "tragédia" conjuntural da falta das ameixas de Elvas, um pormaior de abastecimento que afeta o acompanhamento da sericaia, crise para a qual o Apolino, no "Tomba Lobos", em Portalegre, me tinha já alertado, há semanas.

Passemos ao "Geographia", a mesa mais próxima da minha casa, um restaurante onde vou cada vez mais, e com grande gosto, apresentando-o com prazer a amigos que ainda não conhecem este criativo espaço onde se cruzam memórias culinárias dos lugares por onde os portugueses andaram, de Cabo Verde a Timor. Situado na Lapa, na área lateral do Museu Nacional de Arte Antiga, o "Geographia" é uma iniciativa do Miguel Júdice, alma inquieta da restauração e hotelaria que hoje (se e nos) alimenta no sofisticado "Eleven" e que teve um interessante percurso restaurativo (como o "Orangerie", no Algarve), hoteleiro (como o "Infante de Sagres", no Porto) ou misto (o "Arcadas da Capela" no hotel Quinta das Lágrimas, em Coimbra). 

Mudemos de agulha geográfica. Passemos à Carrasqueira - é esse mesmo o nome - uma aldeia de pescadores a meia dúzia de quilómetros da Comporta. Com o "Retiro do Pescador" (da minha amiga Sílvia) e com o "Rola" fechados, fui ao "Gonçalves". E não é que comi muito bem, como já me não recordava de ter comido por ali, há anos?! Com um serviço simples mas eficaz, umas belas ameijoas abriram vontade para um arroz de marisco muito bom, que uso na imagem. Demorou a chegar (o que é sempre bom sinal de que está a ser feito na hora), mas valeu a pena. O preço, contudo, deslizou para números "comportáveis", isto é, próximos dos da Comporta. Parece que é a vida!

Acabo no "Grão de Bico", no complexo do Pestana, junto a Soltróia. A lista mudou, mas é equilibrada, tendo inflacionado um pouco os preços. O que foi servido era de boa qualidade e estava muito bem apresentado. O serviço foi educado e isso ficou melhor provado quando teve de aturar a nossa (compreensível) impaciência pelo facto de termos tido de esperar quase uma hora pelo que foi pedido, circunstância desagradável que constatámos que foi comum a outras mesas, de uma das quais os ocupantes acabaram por zarpar porta fora, cansados de esperar. Ao que apurámos, na cozinha havia apenas duas pessoas, manifestamente incapazes de dar vazão à mais de meia centena de clientes. Assim não dá! Não é possível manter um restaurante desta forma, coisa que os responsáveis desta casa devem aprender. E lhes deve ser dito, como deixei patente ao pessoal, alto e bom som.

Aqui ficam quatro notas, que espero possam ser de utilidade a quem por aqui me lê. 

17.7.23

"Afonso" (Mora)


Mora fica próximo do "vermelho" Couço, nome que ainda faz sonhar os "ontens que cantaram" dos meus amigos comunistas. Também se lá chega ido de Avis, de Montargil ou de Pavia. O "Afonso" é uma casa com bem mais de meio século, no centro da vila. A lista é farta, com os clássicos da culinária alentejana. Por ser fim de semana, estava à pinha. Por isso, as vitualhas essenciais tardaram um pouco mais do que a minha paciência. Fui sustentando esta a queijo (um esplêndido curado, talvez de Nisa), pão, azeitonas e vinho (razoável, de Estremoz). Foi pena terem-se esgotado as sobremesas que escolhemos, talvez porque fossem as escolhas mais certas. Acabou por ser um almoço simpático, idêntico à memória de outros que por ali tive, agora a um preço já um tanto puxadote. É a vida!

2.7.23

Bistrô da Quinta do Tedo

 



Habituou-se a ir ao DOC, do Rui Paula, na Folgosa, na famosa estrada 222, que liga a Régua ao Pinhão? Então experimente, sem remorsos, andar um par de quilómetros mais, no lugar onde o rio Tedo encontra o Douro, suba o monte umas escassas centenas de metros e lá vai encontrar a Quinta do Tedo. Reserve pelo 910832707, sempre! (Estou certo que o Rui Paula, distraído na Casa de Chá da Boa Nova, me vai perdoar esta pontual "traição".)

O Bistrô (o nome completo é Quinta do Tedo Família Geadas Bistro Terrace) é a mais recente obra dos irmãos Óscar e Tó Luís, a dupla de sucesso que transformou o restaurante da Pousada de Bragança numa Estrela do Michelin. E que, no castelo da cidade, criou entretanto o Contradição. Verdade seja que tinham a quem sair: à mãe Iracema, que oficia com uma imensa qualidade no Geadas, e ao pai Adérito, ali a tomar conta da cena. 

O Bistrô não é muito grande, não é deslumbrante como espaço interior (e têm de cuidar da acústica), mas tem a vista deliciosa que a imagem mostra e, no jantar de ontem, tinha o serviço solto e bem disposto da Cíntia, que me tratava por "cavalheiro" - a última vez que me haviam chamado assim foi numa tasca de polvo, em Orense. 

A lista, desenhada pelo Óscar, não é imensa: creio que uma meia dúzia de entradas, outra tanta de peixes, idem de carnes e outra de sobremesas. A carta de vinhos tem o dedo inconfundível do Tó Luís, com um excelente equilíbrio na oferta. Fomos para dois vinhos da Quinta do Tedo: um belo rosé, mais poderoso e seco do que o habitual, e um reserva tinto, robusto, com o clássico trio de castas dos T (touriga nacional, touriga franca e tinta roriz).

Não vou recomendar o que o leitor deve comer: cada um sabe de si. Apenas posso dizer que, dos quatro ocupantes da nossa mesa, ninguém se queixou: magnífica apresentação dos pratos, qualidade excecional dos produtos, sabor magnífico em tudo, do pão da casa às belas sobremesas, completado por um Porto, a fechar as hostilidades.

Falemos então de preços: não foi uma refeição barata. Mas, caramba, come-se muito bem, a paisagem é soberba e uma vez não são vezes!

2.6.23

"Amarra ó Tejo"

 


Chama-se "Amarra ó Tejo" e tem, muito provavelmente, a melhor vista sobre Lisboa que qualquer restaurante pode ter - o Miradouro de Almada. Fica na zona antiga da cidade, no Jardim do Castelo, com acesso junto à igreja de Santiago, ao lado do coreto. Para lá chegar, atenção!, é necessário deixar-se conduzir pelo GPS e, depois, ter a sorte de encontrar um lugar para estacionar, em alguma das ruelas próximas. Mas, pela vista e pela comida, vale bem o esforço: a lista é muito bem construída e com mão de quem sabe da poda, com um conjunto de entradas apelativo e diversificado (infelizmente, desta vez, não nos deu para ir por aí), com os peixes e coisas correlativas (foi a nossa escolha, de que nos não arrependemos) a dominarem sobre as opções em matéria de carnes, com uma mostra de sobremesas bem recheada (as que foram provadas estavam excelentes) e uma carta de vinhos não muito longa, espelhando várias representações regionais, marcada por uma cada vez rara honestidade nos preços. O serviço foi competente, cortês e discreto. O preço esteve perfeitamente na média que se justificava, atenta a qualidade daquilo a que tivemos direito. Se a tudo isto somarmos o fim de tarde soberbo que nos calhou em rifa, já estaria feita a festa. No meu caso, juntei-lhe um belo grupo de amigos cuja conversa se prolongou até às horas de fecho da casa. A "outra banda" vale a pena, acreditem!

21.5.23

A Oeste algo de novo

Aqui deixo quatro brevíssimas notas sobre outras tantas incursões restaurativas no Oeste, no fim de semana que agora termina.


ADEGA DO ALBERTINO (Caldas da Rainha). Nos arredores da cidade, uma casa de sólida cozinha tradicional portuguesa, que ali está há mais de 30 anos de bons serviços. Lista muito completa, pelas mãos da dona Fátima e pela direção de sala de Albertino Catarino. Serviço atento e profissional, cozinha de qualidade. Estacionamento fácil.


CAIS DO PARQUE (Caldas da Rainha). No Parque Dom Carlos (os caldenses acrescentam "primeiro", como se tivesse havido ou venha a haver um outro...), num pavilhão que é quase idêntico ao do Límia Parque, em Viana do Castelo, nasceu há, não muito tempo, um restaurante que começou por comida asiática e hoje tem outras boas opções, em que a carne, em doses dimensionadas, é uma oferta pouco comum. Sente-se por ali, na qualidade e apresentação, uma mão hábil de chefe, que nos fez apreciar bastante esta primeira experiência. Lista de vinhos com preços muito honestos, o que começa a ser raro. O serviço ganhava em ser um pouco menos "casual arrogant". Estacionamento difícil; use o parque do centro comercial por detrás do hotel.


TRIBECA (Serra d'El Rei). Os leitores já devem estar cansados de me ler a dizer bem desta "brasserie", onde aporto muitas vezes, por ficar a dois passos da A8. Imagino que alguns devam mesmo pensar que recebo uma comissão! Mas o que hei-de fazer? Ontem, uma vez mais, comi lá muito bem. Eu e uma montanha de estrangeiros que já sabe da poda e enche a casa! Estacionamento fácil.


TASCA DO JOEL (Peniche). Fica na costa sul da cidade, que é preciso atravessar para lá chegar. O peixe é ali rei, mas não reina sozinho. Hoje, por exemplo, era dia de cozido à portuguesa. Umas ameijoas com que se abriram as hostilidades, que a casa qualifica de XL, estavam excelentes. Como esteve tudo o resto que se comeu. Preços razoáveis para a boa qualidade. Serviço conhecedor e atento. Estacionamento fácil.

O Oeste recomenda-se!

12.4.23

"Vaut le détour"

 


Desde há vários anos que, praticamente, deixei de fazer as deslocações ao Norte pela perigosa e tensa A1. Viajo, em descanso e sem pressões, pela combinação da A8/A17. Para quem não saiba, informo que a quilometragem é exatamente a mesma. E, ali perto de Óbidos, quando vejo o desvio para Peniche e estou cerca da hora de jantar, lembro-me de ir ao "Tribeca". 

O que é o "Tribeca"? O "Tribeca" é um excelente restaurante situado em Serra d'El-Rei, a menos de meia dúzia de quilómetros da A8. Os guias Michelin utilizam a classificação de "Vaut le détour" para identificar locais que, podendo estar fora dos eixos principais, justificam o desvio para serem visitados. O "Tribeca" merece amplamente uma saída da auto-estrada.

Por que é que se chama assim? Quem conhece Nova Iorque saberá que Tribeca é uma zona no sul de Manhattan cheia de restaurantes e belas lojas. Tribeca significa "triangle below Canal Street". 

O "Tribeca" de Serra d'El-Rei é uma espécie de brasserie, com uma agradável decoração, uma carta magnífica e um serviço a condizer. Há horas, jantei lá muito bem, com quantos me acompanhavam a terem a mesma opinião. 

Há anos que sou cliente do "Tribeca" e, de todas as vezes que por lá fui, saí sempre satisfeito e nunca me arrependi do "détour". Confesso que não tenho na minha agenda muitos restaurantes dos quais possa dizer o mesmo.

Saiba aqui mais sobre o "Tribeca": https://www.tribeca-restaurante.com/index.html

2.4.23

O cozido do Chiringuito

 


Em Lisboa, aos domingos, há algumas casas que servem "cozido à portuguesa". Há excelentes, como são os do Nobre e do Faz Figura. E há um caso sério de qualidade e merecida popularidade, como é o cozido do Chiringuito, em Campo de Ourique.

Para o almoço dominical no Chiringuito, no pico do inverno, há que reservar com imensa antecedência. Mas também há bambúrrios, desistências de última hora, para gente com sorte, como me aconteceu para o almoço de hoje, com o dono da casa a informar-me, horas antes, da vaga de uma mesa para quatro, como eu pretendia. 

O Chiringuito, convém dizê-lo a quem não conheça a casa, é muito mais do que o cozido do domingo. Nos outros dias, é um belo restaurante, num improvável espaço, onde é recriado um ambiente quase rústico, bastante acolhedor. Aconselho a que, em lugar de consultarem a carta de vinhos, os clientes se inspirem na prateleira do corredor entre as duas salas. Fica-se logo com uma imensa e sofisticada sede.

1.4.23

Jantar no Snob


Consta que o João Botelho tem aparecido menos, depois de ser proibido fumar por ali. O senhor Albino (que está na cozinha, onde, em tempos idos, reinava a dona Maria) diz-me que já se conformou com o facto do seu Porto, este ano, só poder lutar pelo segundo lugar. O costumeiro bife, nas suas várias declinações, mantém um preço adequado à sua qualidade. E o menu Snob, a €15, é uma excelente opção.

Gosto (mas só às vezes e moderadamente) de lugares decadentes. O Snob está decadente desde que o conheço, e eu conheço-o há décadas. O Snob não está na moda. Esta é, portanto, uma boa época para se ir mais ao Snob.

25.3.23

Cafeína (Porto)


Há quantos anos conheço o Cafeína, o restaurante na Foz do Porto? Há muitos. E nunca me recordo de lá ter comido mal. Há uns tempos, queixei-me da música demasiado alto, em outra ocasião de um pormenor do serviço, que me pareceu algo ligeiro para um restaurante daquele nível. Mas, da comida, não tenho na memória a menor reclamação - e foram muitas as vezes em que por ali me sentei.

Regressei para jantar, no domingo passado. A refeição correu sobre rodas. Tudo estava a preceito, a senhora que nos atendeu era de um profissionalismo rigoroso (creio que era a mesma que, na outra ocasião, acorrera a salvar a honra da casa, perante a imperícia de um colega sem formação), o ambiente tinha a serenidade que me habituei a ter como fazendo parte da identidade da casa. A conta tinha uma relação satisfação/preço razoável. Saímos muito satisfeitos. E com vontade de regressar. O Cafeína continua a ser, no Porto, um porto muito seguro.

16.3.23

A posta da Quinta do Outeiro

 


Há bem mais de uma década, tive um tempo de "clandestinidade" gastronómica. Eu explico. Era então embaixador em Paris e a revista "Sábado" tinha-me convidado para ser seu "crítico mistério", durante creio que meio ano. A combinação era eu enviar 20 e tal crónicas, uma em cada semana, sob pseudónimo, e, no fim, ser revelado o meu verdadeiro nome. O nome falso que escolhi foi "Augusto Maria de Saa" (assim mesmo, com dois "a"), lembrando uma figura fictícia que já tinha usado em outras ocasiões.

Embora, desde há muitos anos, organizasse listas policopiadas de restaurantes por mim selecionados, por zonas do país, para usufruto dos meus amigos, e, no Brasil, tivesse feito parte do júri de seleção de restaurantes da revista "Veja", nunca me tinha atrevido a enveredar pela crítica gastronómica. Mas, depois de alguma insistência de Edgardo Pacheco, decidi correr o risco. Um estímulo foi também saber que, na minha tarefa na "Sábado", eu tinha tido ilustres predecessores: Miguel Esteves Cardoso, Daniel Proença de Carvalho, Paula Teixeira da Cruz e Ruben de Carvalho.

Haveria de repetir a aventura, no futuro, embora com o verdadeiro nome, como crítico das revistas "Evasões", a convite da Catarina Carvalho, e da "Epicur", a convite de Mário Rui de Castro, tarefa em que me diverti imenso, embora com efeitos sensíveis na balança e nos ralhetes do meu médico. Noto que foi-me sempre dada total liberdade de escolha dos restaurantes, por todas as revistas.

Decidi então apostar em alguns restaurantes pouco conhecidos, mas que representavam um esforço profissional que reputava de interessante. Creio que o primeiro terá sido o restaurante Quinta do Outeiro, na zona oeste de Amarante, relativamente próximo da A4. Já por lá tinha comido algumas vezes, a sugestão do meu amarantino amigo Albano Tamegão, e tinha-os achado merecedores de um elogio em forma de artigo.

Porque é que falo agora disto? Porque, ao final da tarde de ontem, cansado da condução desde Lisboa, à passagem por Amarante, deu-me para ir jantar à Quinta do Outeiro. Estava com alguma pressa (CNN Portugal oblige...) e levava expetativas apenas moderadas. Das últimas vezes que por lá passara, lembrava uma deriva para um serviço algo errático e duas ou três memórias de mesa não excessivamente deslumbrantes. Mas, no entanto, sabia que ia comer numa casa com alguma constância e tradicional variedade de oferta.

O que eu não estava à espera, neste jantar casual e rápido, era que me fosse apresentada uma das melhores Postas de vitela que alguma vez me foi dado provar em toda a minha vida. E eu tenho alguns "benchmarks" na matéria que são dificilmente batíveis: desde a dona Iracema do Geadas, em Bragança, passando pelo Abel, em Gimonde, até à histórica Gabriela, em Sendim, a outros tempos da Lareira, em Mogadouro, ou do Artur, em Carviçais (com o mudo a servir o vinho), até à memorável Posta do há muito desaparecido Abade de Priscos, em Braga - que se podia cortar com o lado contrário da faca.

O resto que nos foi servido estava à altura, mas aquela Posta!

Pronto, fica feita a recomendação: passem pela Quinta do Outeiro! E peçam a Posta. É claro que não é a minha, porque essa já cá canta!

4.3.23

O teste


O teste definitivo da nossa (boa) opinião sobre um restaurante é o nome saltar-nos, espontaneamente, da boca, quando nos perguntam onde gostaríamos de ir jantar . Começo eu: Salsa & Coentros.

23.2.23

Trindade

 


O empregado (disse-me) tinha 43 anos e, a observar o modo clássico como se movimentava na sala, hoje ao jantar, dava ares de estar ali desde a fundação da casa. Fiz as contas e concluí que, já adulto, fui, pela primeira vez, à Trindade, a cervejaria, há precisamente 53 anos. Uma década antes do homem nascer. Ou ele é muito novo ou então é isso em que estão a pensar.

A bem dizer, nunca me recordo de ter comido mais do que assim-assim na Trindade. O bife, porque vai-se à Trindade para comer o bife, esteve sempre longe de ser o melhor de Lisboa. 

O bife da Trindade, mesmo o do lombo, antes naqueles pratos metálicos que fizeram escola, esteve, por muitos anos, muito longe do do Império (hoje, fica ela por ela, e isto não é um elogio), do velho Montecarlo ou do Toni dos Bifes, e, sempre, muito abaixo do "rollsbeef" do Café de S. Bento. O senhor Albino, no Snob, ainda hoje tem um bife melhor. O Outro Tempo Bar também. O do Gambrinus, claro, é muito superior - e já teve melhores dias. Simpático continua a ser o do Pabe, como o é o da Sala de Corte. Falam-me da excelência dos bifes do Elefante Branco, mas essa é carne onde, juro!, nunca meti o dente.

Pelo bife do lombo que hoje ali provei (tinha ido em dezembro e a impressão foi exatamente a mesma), a Trindade renovada (porque a casa levou uma forte e arejada reforma, como a imagem ilustra) está feita para uma clientela estrangeira, que deve gostar dos clássicos azulejos e das calçadas de Lisboa que ilustram as novas paredes. Para quem é, aquele bife basta. Ou o "brás de bacalhau" (quem inventou esta corruptela parola, insultuosa para o Bacalhau à Brás, devia ser pendurado eternamente numa espinha), também pedido, que estava desenxabido.

Repito: não tenho especiais saudades da antiga Trindade. Mas recordo ali os almoços políticos socialistas, antes das descidas do Chiado, a 48 horas das urnas. E, bem antes, os fins de tarde dos anos 70, saído da livraria Opinião ou do Centro Nacional de Cultura, quando hesitava entre ir à Casa Transmontana, nas escadinhas do Duque, ao Alfaia ou então à Trindade. Ali havia a certeza de encontrar, na sala de entrada, sempre com uma caneca gigante de cerveja ao lado, um tipo barbudo, com cara de poucos amigos, que fechava todos os dias nesse registo, depois de ter oficiado no alfarrabista, umas portas abaixo, quase em frente aos Anarquistas.

Fui à Trindade hoje, como se vê. E só lá voltarei, não obstante a simpatia solta do pessoal, com muito brasileiro (e gosto de ver brasileiros no nosso comércio), quando me esquecer do bife que hoje quase lá comi.

18.2.23

Tico Tico


Um prego na barra do Gambrinus rimaria bem, em regra, com uma saída da 6a de Mahler, na Gulbenkian. E uma ida ao Tico-Tico costuma ser um complemento adequado ao final de uma noite de futebol que nos correu bem. Mas eu sou do contra, já não vou muito em futebóis e hoje, no fim da música, deu-me para ir jantar à histórica marisqueira do alto da Avenida da Igreja. E não me arrependi. O ambiente continua igual ao que sempre foi: animado, solto, barulhento, sem cerimónias. O serviço é rápido, com empregados antigos, diligentes e corteses q.b.. A lista é, basicamente, a de sempre, com a lampreia na "saison". O preço é bastante em conta, em especial atenta a especulação que por aí grassa. A relação satisfação/preço foi boa. Já tinha saudades do Tico-Tico. Vou regressar em breve.

14.2.23

O romantismo já não é o que era!


Eu e um amigo decidimos levar as nossas mulheres a jantar fora, hoje, no dia dos namorados. Como tenho, em geral, esse pelouro, foi-me solicitado que escolhesse e reservasse o restaurante. E assim fiz! Porém, quando anunciei que iríamos jantar ao Orelhas, em Queijas, fiquei com a sensação de que a minha seleção pode ter pecado por algum défice de romantismo. Também acham? Paciência! De uma coisa tenho a certeza: vamos comer bem!

13.2.23

Quatro belas mesas alentejanas

Aqui ficam brevíssimas e impressionistas notas sobre quatro bons restaurantes visitados no passado fim de semana.


MERCEARIA DO GADANHA (Estremoz. Largo Dragões de Olivença, 84, Tlf 268 333 262) - O melhor restaurante da cidade, para comida tradicional. Lista muito equilibrada e rica. Bela seleção de vinhos. Nas várias experiências que por ali tive, ao longo de anos, comi de forma excelente e fui muito bem atendido. O pessoal tem grande simpatia e profissionalismo, testado na sexta-feira na forma inteligente como vi sanar um incidente ocorrido com clientes mais recalcitrantes. O ambiente é solto, a decoração é leve e o espaço acolhedor. Um ponto menos positivo: achei exagerados os preços da carta de sobremesas.


TABERNA TINTOS E PETISCOS (Vaiamonte. Rua 25 de Abril, 6, Tlf. 960 248 138) - Ainda não tinha regressado a esta casa depois da mudança de instalações. Desde já, parabéns pela rua que escolheram! Posso estar equivocado, mas este foi talvez o restaurante de qualidade onde, até hoje, encontrei uma carta mais rigorosa e completa de comida alentejana, sem concessões. O espaço reservado aos vinhos, com as garrafas com o preço “ao pescoço”, é uma preciosidade, sendo aí guiados pelo conhecimento dos proprietários, um casal que faz as honras da casa e presta o apoio às mesas. Um ponto menos positivo: o desenho um tanto esconso da entrada. Mas fomos ali para comer. E comemos muito bem.


TOMBA LOBOS (Portalegre. Rua 19 de junho, 2, Tlf. 245 906 111). Foi a segunda vez que estive no novo espaço do Júlio Vintém, depois de o ter visitado em todas as outras localizações onde operou. Não é bem verdade: não fui vê-lo ao Recife, mas tive-o a “atuar” na embaixada em Paris. Neste Tomba Lobos criou um belíssimo ambiente, na parte velha da cidade. Às mesas, mantem-se o profissionalismo quase imbatível do Apolínio, com o seu asterixiano bigode e uma imensa simpatia, uma figura sempre presente em todas essas anteriores ocasiões. (Um dia, creio que na revista “Epicur”, dei à crítica que fiz ao restaurante o título de “O bigode do Apolínio”). Também anda já pela sala um filho do Júlio e da Catarina, cara chapada do pai, bem como um empregado e excelente enófilo, que, por um segundo, me pareceu ser um ministro recentemente caído em circunstancial desgraça. O Júlio Vintém, um mestre da culinária, tem vindo a apurar a sua oferta ao longo dos anos. O menu era variado e de muita qualidade. Os oito convivas saíram bastante satisfeitos. Um ponto menos positivo: o naco de lombelo ao alhinho estava com uma textura demasiado rígida. 


DOM JOAQUIM (Évora. Rua dos Penedos, 6, tel. 266 731 105). Foi uma chamada do meu saudoso amigo Jorge Coelho que me alertou, um dia, para este restaurante: “Meu querido amigo. Acabo de comer muito bem no Dom Joaquim, em Évora. Não conhece? Tem de conhecer”. Fui lá, meses depois, e fiz uma crónica dessa visita, creio que para a revista “Evasões”. Não é nada fácil, numa cidade com a excecional oferta gastronómica que Évora tem, conquistar um espaço próprio. Mas o Dom Joaquim consegui-o. Com imenso mérito. A lista é muito boa e equilibrada. Comeu-se bem. Era domingo, a casa estava a abarrotar e o ritmo do serviço ressentiu-se. O “vou já avisar o meu colega para vir aqui” é uma fórmula que resolve o problema ao empregado, mas não ao cliente. Esse é o ponto negativo a apontar: num certo momento, com toda a mesa servida, um dos convivas esperou irritantes longos minutos para também ter o seu prato. Mas o empregado com barba “hipster” que nos serviu foi bastante profissional, até nas desculpas. Lá voltarei, ao Dom Joaquim.
***
Aqui ficam as notas, com a grande simpatia que me merecem todas as casas. Locais onde é imperativo reservar, com alguma antecedência. Com vinhos num escala não muito exagerada, a refeição em todos rondou os 35 euros por pessoa. Em todos os casos, pareceu-me justo, atenta a qualidade daquilo que foi consumido.

9.2.23

“Primeiro de Maio”

 


Quando, há mais de meio século, trabalhei por uns anos na Caixa Geral de Depósitos, a “Antiga Casa Primeiro de Maio”, ao lado, na descida da rua da Atalaia para o Calhariz, era uma “tasca de almoço” (classificação íntima) que, contudo, não era pouso regular do meus assimétricos grupos de amigos e conhecidos. 

Porquê? Porque, à época, tinha um preço ligeiramente mais alto do que outros locais similares e, nesse tempo, entre os meus colegas, havia quem tivesse de fazer bastantes contas à vida. Por isso, eu só raramente passava por lá, tal como pela vizinha “Primavera do Jerónimo”, que a fotografia assinada da Josephine Baker, no caixilho na parede, elevava a lugar de culto, com o toque turístico a refletir-se no preço dos históricos filetes de pescada. 

Esse era o tempo de um outro Bairro Alto, ainda sem “Frágil” nem “Pap’Açôrda”, onde não tinham despontado o “Casanostra” ou o “Bota Alta”, em que, para a noite, o “Alfaia” já estava na moda e à medida dos nossos bolsos, tal como, um pouco mais tarde, aconteceria com o “Baralto”, o “Fidalgo” e a “Tasca do Manel”. A “Baiuca” e o “El Ultimo Tango” ainda estavam para nascer. Do que por lá vai agora, nem sombras.

Mudei entretanto de ofício e de geografias de trabalho. A partir dos anos 80, quando vivia ou visitava Lisboa, era regular visitante do “Primeiro de Maio”. Aos sábados, era a minha cantina de almoço, sempre com a cinematográfica figura de António Lopes Ribeiro, já bem entrado na idade, a dominar uma das mesas. O “Primeiro de Maio” foi muito “trendy” por bastantes anos, com figuras e figurões bem conhecidos, da política à cultura, por ali amesados.

A cara tutelar do “Primeiro de Maio” era então o senhor Santos, com a sua mulher na cozinha. O seu sorriso acolhedor recebia-nos mal surgíamos no alto dos degraus de entrada. Nesse tempo em que reservar era a exceção, a regra, para nós, era aparecer uma mesa quase por milagre, com intimidade garantida com inesperadas vizinhanças, entre as quais cheguei mesmo a criar amizades. Belos tempos esses!

Entre as mesas do “Primeiro de Maio”, a certo momento, passou andar o Mário, sobrinho do senhor Santos, um miúdo que ajudava ao serviço. Desde que o tio se reformou, passou ele a ser a minha âncora numa casa onde, contudo, ultimamente não tenho ido muito. Fui hoje, com uma tertúlia aperiódica de cavalheiros que andam pela vida como os ingleses conduzem pelas estradas, um grupo que não tem pouso fixo, que erra (às vezes acerta) por vários endereços.

O Mário lá continua, à frente da casa, sempre simpático, herança boa do tio, que vive a merecida reforma na Beira. Os turistas que, aqui há uns anos, tornavam o espaço numa Babel às vezes excessiva, desapareceram, desde há uns tempos, para as centenas de outras paragens que vão abrindo e fechando por essa Lisboa. O que havia de gente a mais, num certo período, parece haver a menos, nos dias que correm. E é pena.

Um conselho para antropólogos amadores com bom gosto, curiosos de uma certa Lisboa do passado que ainda por aí subsiste: passem pelo “Primeiro de Maio”, almocem ou jantem num local que terá sempre uma linha bem estimável na história da restauração de Lisboa. Vão lá sem a menor nostalgia, apenas porque sim. Ah! Podem dizer que vão da minha parte (não tenho comissão, garanto!) e peçam sugestões ao Mário. E aproveitem para descobrir os belos vinhos que sempre houve por lá.

Onde é? É na rua da Atalaia, 8, com o telefone 213 426 840.

27.1.23

Sabiam?

 


Portugal teve, pela primeira vez, em 1929, o seu nome inscrito nos Guias Michelin, através do Hotel de Santa Luzia, em Viana do Castelo, e do Hotel Mesquita, em Vila Nova de Famalicão, que então obtiveram uma estrela, que sustentaram por vários anos.

23.1.23

“Restaurante da Adraga”


Chega-se lá descendo a estrada que sai do centro de Almoçageme para a praia da Adraga - lindíssima, ali ao lado. A casa chama-se, simplesmente, “Restaurante da Adraga”. Existe desde 1905, acreditem! Conheço este pouso há muito tempo, mas só lá vou quando o rei faz anos, quase sempre com amigos, tanto mais que não é todos os dias que ando pela zona de Sintra e Colares. Trata-se de um local agradável, de decoração simples, mas onde recordo ter sempre comido bem. O pessoal é simpático e diligente. A especialidade da casa, como não podia deixar de ser, é o peixe e muitas outras boas coisas do mar, mas os carnívoros radicais não passarão fome, podem estar descansados. Ontem, à nossa mesa, além de uma sopa de peixe, estiveram umas ameijoas em molho de alho e coentros, um linguado de que me disseram maravilhas, um polvo à lagareiro e um chocos com tinta. Tudo a preceito. A conta foi equilibrada, com um branco de Borba a ajudar. À terça-feira, o “Restaurante da Adraga” fecha. Mas, de quarta a segunda, está sempre aberto, das 12:30 às 22:00. Em especial nos fins de semana, é recomendável reservar com antecedência pelo 219 280 028.

21.1.23

“Terroso”


Chama-se “Terroso”. É um pequeno restaurante (20 lugares) e “wine bar”, no dédalo de ruelas velhas de Cascais, não longe da Câmara e do Hotel Baía, só para orientar quem chega. Tinha ouvido falar da casa, mas nunca a visitara. Só de olhar para as garrafas que, em armários, envolvem a sala é-nos induzida uma sede sofisticada (ter um Crasto vinha Maria Teresa ali à mão, a mim, desestabiliza-me). A lista segue um registo clássico, mas é muito equilibrada nas suas escolhas e, o que é cada vez mais importante nos dias que correm, nos preços. Fora dela, havia uma feijoada à brasileira que estava de comer, como de facto comemos com grande gosto, e de chorar por mais. Optámos por não chorar e, alegremente, partimos para as sobremesas, uns doces a preceito. Na cozinha e no comando das operações, estava a proprietária, dona Vitalina Marques de seu nome, uma senhora simpática que, por muitos anos, oficiou naquele que foi (bem antes do tempo dela, mas já no meu) um dos primeiros restaurantes do momento “trendy” do Bairro Alto, nos anos 70 do século que se foi, o histórico ”Alfaia”. A fantástica escolha dos vinhos da casa é da responsabilidade do marido, Pedro, com uma qualidade atestada pelo prémio que foi atribuído à casa pela “Revista de Vinhos”. O Terroso fica na Rua do Poço Novo, 17, como referi, em Cascais. Telefonem (sempre, claro!) a reservar, pelo 214 862 137. Domingos e segundas-feiras, o Terroso encerra. Vão ver que não lamentarão seguir esta minha opinião, seguindo uma bela dica do Zé Paulo Fafe.

15.1.23

“Ponderosa”


É preciso já ter alguma idade para alguém se lembrar da “Ponderosa”. 

Não falo do famoso rancho da série televisiva “Bonanza”, por cá a preto-e-branco, em que o pai Cartwright e os seus três filhos, cada um com a sua ideossincrasia, revelavam um Oeste americano com uma bonomia e uma graça como, até então, o não tínhamos visto.

“Ponderosa” era também o nome, seguramente inspirado na série, de um conhecido restaurante na Estrada Nacional nº 1, na zona da Azambuja, onde, nos anos 60 e 70 do século que já vai, esteve na moda fazer uma refeição, nas idas e vindas para o Norte. Fechou, há muito. 

Em frente, também há bastante tempo, abriu um motel e mais um sítio para comer, o que por ali vier ao dente, que adotaram o mesmo nome. Não senti vontade de entrar, mas, pelo ambiente que se respirava do exterior, se há sítio adequado para afixar um calendário Pirelli dos antigos este seria um deles.

O velho “Ponderosa”, de que deixo uma imagem desta tarde, terá sido, entretanto, uma discoteca. Hoje não parece ser nada, a não ser uma memória de outros tempos, de um dos muitos “lesados da autoestrada”.