31.7.24

"Chaxoila" (Vila Real)



Fomos os primeiros a chegar para jantar. As mesas estavam todas colocadas sob a ramada exterior. Este espaço é o valor acrescentado que o "Chaxoila", o mais antigo restaurante de Vila Real, nos oferece no verão e, às vezes, em dias decentes de primavera e outono. No inverno, migra-se para o interior, com o anexo envidraçado.

Estávamos com alguma pressa, mas o restaurante não. Por ali, o ritmo de um fim de tarde de julho não rimava com o nosso interesse nervoso em despachar a refeição. O José Carlos, que nos conhece de há muito, tal como a senhora sua mãe sempre sentada na mesa junto à cozinha, falou-nos do andamento do negócio e das suas perplexidades com os ciclos turísticos. 

Deixei-lhe o encargo de escolher um tinto do Douro, o que ele fez como sempre faz: bem. Deu-nos três opções recomendadas para prato. Seguimos uma delas: um belíssimo naco da cachena, que pedi "medium rare", traduzível, em linguagem vila-realense, por "mal passado mas sem exagerar". Antes, veio uma burrata bem saborosa. Não tivemos tempo para a sobremesa, pelo que me poupei ao choque calórico do "pito de Santa Luzia", recheado de doce de calondro, com gelado ao lado.

Não faço ideia desde quando o "Chaxoila" existe. É na estrada velha para Chaves, passadas as duas rotundas depois do quartel. Já foi uma tasca banal, mas foi tendo outros tempos, como espaço de petiscos para fim de tarde (um hábito vila-realense antigo, que creio desaparecido). Nos dias de hoje, solidificou-se como uma das (infelizmente escassas) boas mesas da capital transmontana. Reserve sempre (259 322 654) e prepare-se para estacionar na estrada, porque os lugares no pátio interior são muito poucos.

O "Chaxoila" já foi mais barato (estranhamente, tenho a sensação de que já o foi menos), mas o preço continua "em conta", como por lá se diz.

30.7.24

JNcQUOI Beach Club (Praia do Pego)


"Vais ao JNcQUOI, na praia do Pego? E vais escrever sobre isso no blogue? Vai dar-te um ar fútil". Eu sabia e, claro, podia ter evitado referir aqui que fui jantar a um dos clichés do verão da Comporta. Fingia que tinha ido comer um arroz de marisco à Sílvia, na Carregueira, ou mesmo as ameijoas da Dona Bia, no caminho da Comporta para o sul, e estava salva a honra do convento. Mas não! Eu tinha decidido ir jantar ao JNcQUOI (reservando pelo The Fork, como eu fiz, ou pelo 269 249 890)  e tinha de "pagar" por isso.

O espaço é muito agradável. As mesas têm confortáveis cadeiras, há uma "parede" de garrafas verdadeiras, iluminada, a dominar a sala principal, vê-se a vibrante cozinha através de um imenso vidro e existem diferentes ambientes para acolher os clientes. Desde que se chega até que se sai, percebe-se que por ali reina um profissionalismo testado, nem "casual arrogant" nem pretensioso nem vulgar. Tudo bem, tudo certo, pessoal educado, sem subserviências. Sem pressas nem atrasos e - teste para mim decisivo para qualificar o serviço de um restaurante - todos os funcionários a responderem à solicitação de qualquer mesa, mesmo que a não estejam a atender diretamente.

A comida? Vai-se a um restaurante para comer, não para ser servido. E comeu-se muito bem. Depois de uma entrada criativa em que preponderava o lingueirão, passou-se a uma paelha à base de bacalhau (isso mesmo!) que estava magnífica. A seleção de sobremesas podia ser mais imaginativa, mas o que se provou estava muito bom. Vinhos? Uma escolha de qualidade, um tanto puxadote nos preços, mas com "defesas" muito razoáveis para quem não se quer arruinar. Preço? Caro mas merecido. Que mais posso dizer, senão que me apeteceria voltar, se os meus amigos não achassem isso fútil?

25.7.24

"Jockey" (Lisboa)


A cidade de Lisboa, num domingo ensolarado, costuma ser um deserto em matéria de restaurantes decentes para se almoçar. Os poucos bons que existem estão sempre cheios. Os que não estão cheios não têm lugar para estacionar (e eu sou um assumido comodista, se é que ainda não notaram). E se a decisão de almoçar fora é tardia, como foi o caso do passado domingo, então encontrar uma mesa simpática é como encontrar uma agulha num palheiro.

De repente, lembrei-me do "Jockey", um dos segredos mais valiosos da cidade. Sempre com lugar para parar o carro, entre estábulos para cavalos e viaturas de quem teve a mesma luminosa ideia que nós, o "Jockey" salvou-me o almoço. Telefonei, claro, a marcar lugar (217 957 521) e voz amiga arranjou-me uma bela mesa no interior, porque a esplanada estava muito quente. O espaço era tão confortável que chamámos outra pessoa, que estava em casa, para se nos juntar.

A carta do "Jockey" é farta e, 99% das vezes, sai tudo muito bem. E quando não sai muito bem, sai bem. Desta vez, confesso, achei o meu bacalhau na brasa demasiado demolhado, mas reconheço que era uma peça de boa qualidade. E disse tudo isso assim mesmo a quem nos atendia, porque acho que é dessa forma que deve proceder um cliente construtivo. As companhias que tinha à mesa só fizeram elogios àquilo que pediram, que já não recordo o que foi. Gosto de restaurantes que se esmeram em servir com profissionalismo e com visível empenhamento no serviço, como é o caso.

Preço? Só posso dizer que o "Jockey" tem uma relação satisfação/preço (o José Bento dos Santos acha muito discutível o tradicional critério "qualidade/preço") que me agrada bastante. Volto lá quando posso. Onde é que fica o "Jockey"? Isso é mais complicado: digamos que perto da Segunda Circular. É melhor pôr no GPS.

24.7.24

"Visconde da Luz" (Cascais)


Sempre achei o nome do restaurante um pouco estranho. Se é comum chamar "viscondes" aos do Sporting, aquilo ser "da Luz" é um contrasenso. Há dias, combinámos jantar com uns amigos, em Cascais. Era fim de semana e, por muito que eu procurasse reservar uma mesa nos vários locais que conhecia, estava tudo cheio. Lembrei-me então, em desespero de causa, do clássico "Visconde da Luz", ali no jardim no centro da vila (Cascais, como Ponte de Lima, não quer ser "elevada" a cidade). Como tem muito espaço, tinha lugares. Mas convém reservar pelo 214 847 410. O ambiente é aturistado, mas confortável para uma ocasião simples.

A lista não trazia grandes novidades, mas era razoavelmente bem composta. Lá estava a famosa perdiz, mas fomos para umas coisas simples e clássicas: uma açorda de marisco e uns filetes com arroz de berbigão. A primeira estava excelente. Os segundos estavam, ao que ouvi, soberbos, mas com o berbigão mal cozinhado. E o molho tártaro vinha aguado. O meu amigo que fez esse comentário é um homem exigente e lá registou o seu protesto junto dos empregados. O serviço, diga-se, foi muito eficaz e educado. O facto de quem nos serviu na mesa ser um brasileiro muda muitas vezes tudo, para melhor.

O "Visconde da Luz" não deslumbra, mas a sua comida não desilude. Mesmo as entradas e as sobremesas provadas eram muito razoáveis. A lista de vinhos é escorreita e equilibrada, sem exageros. A conta esteve em consonância com a experiência. Já não ia ao "Visconde" há uns bons anos. Não excluo regressar.

Quando saímos, pouco depois das 10 da noite, fui buscar o carro a um parque público nas traseiras do quase defunto "Villa Cascais". Tinha fechado às 21.30! Não me perguntem pelo meu estado de espírito no regresso a Lisboa, por outras vias... 

22.7.24

"Gambrinus" (Lisboa)


Começo pelo fim. Acabei o jantar de hoje com o café de balão. Não sei se há mais algum restaurante lisboeta (ou mesmo português) que no-lo proporcione, mas eu gosto muito daquele ritual. Normalmente, "corto-o" com um whiskey (não whisky) irlandês. Às vezes da Irlanda do Norte (dias em que vou para o Bushmills), outras da República da Irlanda (dias, em geral noites, em que prefiro o Jameson).

Se tivesse muito dinheiro, ia mais vezes ao Gambrinus. Como só tenho algum, apenas lá vou "quando o rei faz anos" ou quando me convidam. Nunca fui cliente da barra, o famoso balcão da entrada pelas Portas de Santo Antão. Já lá comi, claro, em momentos de solidão, mas, assumo aqui e agora, é uma área da casa que detesto - embora saiba que faz parte da mitologia de uma certa Lisboa social-lumpen, alcoófila e até exoticamente cultural. Fiquem os apreciadores com ela, como também podem ficar com a sala adjacente, onde parece que antes se fumava. Eu sou apenas cliente da sala grande e, se lá não houver lugar, vou para outra freguesia. Em desespero, ainda posso ficar nas galerias, da entrada ou do fundo. Repito: mas só em desespero.

O Gambrinus tem o pessoal mais apurado do país. O serviço é exemplar, a educação faz ali escola. O cliente nunca está errado, por muito que às vezes o possa estar. Dias menos felizes por parte da cozinha (e ultimamente tem-nos havido, infelizmente, mais do que seria desejável, e eu não tenho deixado de os assinalar, com a frontalidade dos amigos) são tratados pelo pessoal de mesa com uma elegância ímpar em Lisboa. O Gambrinus devia montar uma escola da arte de bem servir. 

Estas notas destinam-se ter só três parágrafos. Mas o Gambrinus merece estas linhas a mais. Quanto mais não seja para lembrar que é imperioso reservar mesa, pelo 213 421 466. E que não é barato. E que tem uma bela carta de vinhos. E uma imperdível empada de perdiz, como a que hoje comi. O resto, deixo para a vossa visita.

20.7.24

"A Curva" (Caxias)


Há algum tempo que ouvira falar do lugar e da qualidade da sua comida. Hoje, calhando ter de passar por perto, fiz uma visita ao restaurante "A Curva", em Laveiras (Avenida Conselheiro Ferreira Lobo, 28), ali ao pé de Caxias. É conveniente reservar (tlf. 214 419 334).

Com a sua mulher Isabel na cozinha, o proprietário, Manuel Gato, oferece-nos um menu 100% alentejano, numa sala impecável, tudo com uma elegância asseada, na sua meia centena de lugares. O casal é oriundo de Cabeção, pelo que recordámos por ali "A Palmeira", um belo e clássico poiso de restauração.

Vi expostos bons vinhos. Optámos por um jarro do simpático vinho da casa, com o preço final a ser muito razoável. O estacionamento não é fácil, mas, com alguma paciência, consegue-se. Um lugar a anotar.

18.7.24

British Bar


A empregada do balcão, uma brasileira carioca que ontem me serviu o gin tónico (tenho a impressão que nunca ali bebi outra coisa) não terá mais de 20 anos, que contrastam com os quase 60 da minha primeira visita ao British Bar, no Cais do Sodré. Comecei lá em 1965, com o Antoninho, um boémio primo da minha mãe que, um dia, me fez uma instrutiva volta de introdução à capital e sítios relevantes - incluindo o Bolero, o Galo, o Ginjal e um outro destino menos revelável, algures na Misericórdia. Nunca fui cliente do British, apenas um passante ocasional. À volta do 25 de Abril, outro primo, neste caso meu primo direito do lado do meu pai, Carlos Eurico da Costa, instituiu a efémera rotina de, uma vez por semana, irmos ao final da tarde ao British Bar - ele para o whisky, eu para o gin. Ali nos íamos encontrar com o José Cardoso Pires, "habitué" do local. Creio que a "rotina" não passou das três vezes. Na pandemia, calhou passar um dia pelo British Bar e notei que serviam "ao postigo". Pedi o gin tónico, claro. Veio em copo de papel! O de ontem, por distração minha, chegou naquela espécie de bolas de andebol em vidro com que agora há a detestável mania de servir os gin tónicos. E com palhinha! Apesar de tudo, na torreira da tarde de verão, soube-me muito bem parar por ali, sem a pressão do tempo, o qual, como é sabido, no British Bar nunca se perde, se o olharmos através do seu clássico relógio, com que deliberadamente nos iludimos, acreditando que as horas caminham para trás.

... by Sofia (Sacavém)


Sala sem pretensões, ambiente um pouco barulhento, escassas mesas, necessidade de reserva (917 588 974), razoável carta de vinhos, serviço muito agradável e cordial. Honestidade nos preços.

É o "Solar do Peixe by Sofia", em Sacavém, no Largo José Joaquim Rodrigues. Excelente oferta de peixe e algum marisco, que se escolhe à entrada e é ali grelhado à vista.

Fui lá hoje almoçar. E vou voltar. Recomendo.