22.10.24

"Santa Luzia" (Viseu)

 


Há uns anos, Fortunato da Câmara, uma das escassas vozes na crítica gastronómica que nunca me induziu a erros, na indicação de bons restaurantes, tinha chamado a minha atenção para o renovado "Santa Luzia", à entrada de Viseu, que conheci em diversos tempos. Entretanto, constou que o restaurante tinha sofrido mudanças na gerência, o que, para o compreensível conservadorismo dos frequentadores de restaurantes, introduz sempre inquietantes pontos de interrogação.

Acresce que, à volta da cidade de Viseu, tinham entretanto surgido propostas curiosas, desde a sofisticada "Mesa de Lemos" à comida de tacho do "Cantinho do Tito", passando pelo surpreendente "De Raíz". E, claro, havia sempre a segurança do "Caçador" e da "Arouquesa", com o restaurante da Pousada a continuar a não mostrar garra e o "Cortiço" a fazer saudades do D. Zeferino, em tempos em que a "Trave Negra" por ali chegou a pedir meças.

Tudo isto para dizer que me decidi hoje, numa viagem entre Vila Real e Lisboa, a regressar ao "Santa Luzia". Como me recordava que o espaço interior era vasto, ainda tive a tentação de não reservar, mas optei por fazê-lo, como me ocorre 99% da vezes. Em boa hora o fiz: a casa encheu! Mesmo tendo imensos lugares! 

A arquitetura da casa, que creio que já tem mais de uma década neste seu formato, é simpática, moderna, arejada, com estacionamento próprio e espaço exterior atencioso para fumadores.

O serviço foi diligente, sabedor e excecionalmente acolhedor. Tudo o foi pedido estava muito bem apresentado. Alguns "mas": quer uma vitela assada quer o caldo verde que a antecedeu ganhariam em ter um pouco mais de apuro. O galo "pica-no-chão" estava com excelente sabor, embora um pouco demasiado "al dente" (embora galo e frango não tenham a mesma textura, eu sei). As sobremesas provadas eram muito boas. Bebeu-se um tinto do Dão, da casa, que não desmereceu. No meu rácio satisfação/preço, o "Santa Luzia" saiu aprovado. Deixo o registo.

20.10.24

"1° Direito" (Lisboa)


É um " self- service", aviso já para os que não são grandes apreciadores do género - e eu, em regra, estou com eles. (Houve um tempo em que minha preguiça ia ao ponto de considerar que a "fondue" e a "raclette" me davam demasiado trabalho).

Acede-se ao restaurante através de uma estrada no termo de Monsanto, perto do estádio do Casa Pia. As indicações são escassas, pelo que vale a pena usar o GPS. Tem um espaço próprio para estacionamento, embora, a certas horas e dias, bastante ocupado nas zonas mais cómodas.

Situa-se numa edificação rústica de madeira, com um razoável espaço para mesas, umas na sala interior, outras abertas em varandas para o ar livre, e insere-se na área de apoio ao grupo desportivo de rugbi da faculdade de Direito, referência que o nome evoca. A memorabilia dos êxitos do clube enche as paredes. A decoração é "cozy", com bom gosto e elegância.

Vejo o local muitas vezes utilizado para festas ou refeições com bastante gente. Voltei lá há dias, num grupo de amigos, cenário normal por ali.

Sem ter uma comida deslumbrante, é um restaurante com qualidade média muito razoável e uma assinalável variedade, que se expressa também nas sobremesas doces, que sempre me tentam a glicémia. Como é da natureza de todos os "self-services", a partir de uma certa hora, o reforço das vitualhas pode começar a ter falhas, pelo que se não aconselham horas tardias para as refeições. Tem uma carta de vinhos com aceitáveis opções de escolha. O serviço é quase neutro, dada a especificidade do restaurante, e é apenas complementar ao nosso auto-consumo. O preço final é bastante razoável.

O "1º Direito" é uma escolha diferente na restauração de Lisboa. Recomendo uma visita.

"Ararate" (Lisboa)


Finalmente, fui hoje comer ao "Ararate", um restaurante arménio em Lisboa, perto da Gulbenkian, de que me falavam bem. O espaço tem uma decoração banal, resistindo aos arrebiques folclóricos. Que tivesse dado conta, também não havia por ali referências à Arca de Noé, o velho mito local ligado ao Monte Ararat, com que me lembro de ter sido brindado quer em Yerevan, quer numa zona da Turquia vizinha do monte.

O ambiente é um pouco barulhento. O serviço é atento e competente, embora a noite fosse de muito movimento, o que me dizem ser frequente, dado o êxito comercial do restaurante.

Assustei-me quando vi um menu com fotografias dos pratos (a imagem daqueles infernais "caçadores de turistas" da Baixa lisboeta veio-me logo à ideia), mas não tinha razão para isso: a singularidade daquela gastronomia justifica plenamente que possamos ter, por antecipação, uma imagem daquilo que nos propõem, que ali vem acompanhada por uma descrição muito competente de cada prato.

Éramos quatro pessoas. Com um couvert leve, quatro pratos, três sobremesas, um razoável vinho arménio (a carta de vinhos é bem construída, com propostas portuguesas e arménias, estas utilmente explicadas com as castas e sabores), cafés e água, pouco passou das três dezenas de euros/pessoa.

O mais importante: comeu-se muito bem, todos ficámos muito satisfeitos. Vou regressar em breve ao Ararate. Ficaram-me os olhos e o apetite para alguns outros pratos que por ali vi.

2.10.24

"Adega do Costa" (Lisboa)


Juro que não sou acionista da casa e que o restaurante não pertence à minha família. Fui à "Adega do Costa", na Marquês de Tomar (com estacionamento fácil, num parque bem próximo), pela primeira fez, há cerca de dois anos. Fiz a visita com um consagrado crítico gastronómico, em cujo conselho confio cegamente. Gostei, sem ficar deslumbrado. Na memória, tinha guardado a lista de vinhos, a bom preço. Ontem, testei-a. Falhavam algumas das marcas da carta, que sucessivamente pedi, mas a recomendação final que me foi feita pela gente da casa foi correta. Perdoei. Éramos quatro comensais, experimentámos três pratos e tudo estava a preceito. Devo dizer, contudo, em abono da verdade, que o meu bacalhau, sem que estivesse mal, ficou um pouco aquém das minhas expetativas. Mas eu sou um conhecido chato na matéria, porque trago arquivado na memória gustativa um exigente mapa dos "benchmarks" do bacalhau, do norte a sul do país. A senhora que cozinha passou duas vezes pela nossa mesa e a alegria que projetava no trabalho é digna de uma especial nota. Também o serviço de mesa deve ter destaque, pela grande simpatia e profissionalismo. Assim, deixo um conselho: visitem a "Adega do Costa" e digam que foi um "primo" que recomendou que por lá fossem. Eu vou voltar em breve.