26.4.15

Restaurante Lameirão (Vila Real)



(Apontamento publicado na revista "Evasões" em 24.4.2015)



COMER EM CASA


Era um hábito arraigado numa certa província. Ao final da tarde, “entre homens”, à mesa ou ao balcão, organiza-se um “lanche”, já ajantarado, à volta de um salpicão, um presunto, um chouriço assado, acompanhados por vinho, hoje também muito por cerveja. Em Vila Real, lá para Trás-os-Montes, estas “tainas” ainda ocorrem, ao cair do dia, num ritual tecedor de laços de amizade madura e machista, com conversas de futebol ou de política.
Foi nesta nobre linhagem de tradição vila-realense que o “Lameirão” nasceu. Com o tempo, veio a evoluir para a normal oferta de almoços e jantares. E começaram a chegar as famílias por lá. As instalações modernizaram-se, sob risco de arquiteto, não fosse o seu dono, Eleutério Lameirão, um ainda profissional do desenho técnico. Desde meados dos anos 90, foi-se o balcão, ficou uma sala moderna com cerca de 40 lugares, alargados no Verão para uma pequena mas simpática esplanada exterior.
Na cozinha, Luísa, irmã do Eleutério, é a mestra do “back-office” gastronómico. Na sala, o proprietário e a mulher, Alice, afadigam-se no serviço: simples, sem sofisticações, como numa casa de família. Chegue cedo. Às vezes, nos dias de enchente, as coisas tomam o seu tempo, mas ninguém vai para ali com grandes pressas.
Convém começar por perguntar o que há. É que todos os dias, sem exceção, a oferta varia. A cada refeição, há sempre e só quatro pratos. Se arribar tarde, as opções vão escasseando (com o recurso último ao bife).
Abra a função (recomendo vivamente!) por uns rissóis, de carne ou de camarão, e/ou bolos de bacalhau, No lugar do leitor, tenderia a optar depois pelas especialidades regionais: a “feijoada de feijoca”, a “vitela estufada ou assada”, as “tripas aos molhos ou com feijão”, as “sardinhas com arroz de feijão”, a “mãozinha de vitela com grão”, o “rancho”, o “entrecosto”, a “feijoada com feijão branco ou vermelho”. Várias vezes por semana, pode encontrar também as “pataniscas de bacalhau”, os “panados” ou o “arroz de polvo”. E pouco mais. Mas chega, acreditem.
Nos doces, a tradição da casa, todo o ano, são as magníficas “rabanadas”, mas o “bolo de chocolate” e o “leite-creme” também se recomendam.
A carta de vinhos é (lamentavelmente) pobre, com os Douro a fazerem as honras da casa: o melhor que hoje por lá há são as versões mais correntes do “Vallado” e do “Quinta do Crasto”. Os preços dos pratos são moderados: as fartas meias-dose rondam 7 euros, as doses (para duas pessoas) 13 euros.
O Eleutério não tem pretensões de entrar no Michelin ou nos Garfos de Platina. Quer apenas oferecer-nos uma comida genuína, na sua quase imbatível relação qualidade/preço. E quer que saiamos satisfeitos. Eu saio.


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O LAMEIRÃO
EN2 (saída norte de Vila Real)
Lugar das Flores
A 500 metros do IP4
Tel. 259 346 881
Fecha 4ª feira, Estacionamento fácil
Wifi, Não fumadores, reserva aconselhada

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OUTRAS OPÇÕES EM VILA REAL
Como alternativas, embora todas mais caras, recomendo o “Cais da Vila” (259 351 209), o “Chaxoila” (259 322 654) ou o “Museu dos Presuntos” (259 326 017).

1 comentário:

  1. Não se admite que uma casa de pasto, numa região de vinhos como o Douro, tenha uma lista assim tão pobre.
    Eleutério prepara-te que vais levar um puxam de orelhas!...

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