13.2.23

Quatro belas mesas alentejanas

Aqui ficam brevíssimas e impressionistas notas sobre quatro bons restaurantes visitados no passado fim de semana.


MERCEARIA DO GADANHA (Estremoz. Largo Dragões de Olivença, 84, Tlf 268 333 262) - O melhor restaurante da cidade, para comida tradicional. Lista muito equilibrada e rica. Bela seleção de vinhos. Nas várias experiências que por ali tive, ao longo de anos, comi de forma excelente e fui muito bem atendido. O pessoal tem grande simpatia e profissionalismo, testado na sexta-feira na forma inteligente como vi sanar um incidente ocorrido com clientes mais recalcitrantes. O ambiente é solto, a decoração é leve e o espaço acolhedor. Um ponto menos positivo: achei exagerados os preços da carta de sobremesas.


TABERNA TINTOS E PETISCOS (Vaiamonte. Rua 25 de Abril, 6, Tlf. 960 248 138) - Ainda não tinha regressado a esta casa depois da mudança de instalações. Desde já, parabéns pela rua que escolheram! Posso estar equivocado, mas este foi talvez o restaurante de qualidade onde, até hoje, encontrei uma carta mais rigorosa e completa de comida alentejana, sem concessões. O espaço reservado aos vinhos, com as garrafas com o preço “ao pescoço”, é uma preciosidade, sendo aí guiados pelo conhecimento dos proprietários, um casal que faz as honras da casa e presta o apoio às mesas. Um ponto menos positivo: o desenho um tanto esconso da entrada. Mas fomos ali para comer. E comemos muito bem.


TOMBA LOBOS (Portalegre. Rua 19 de junho, 2, Tlf. 245 906 111). Foi a segunda vez que estive no novo espaço do Júlio Vintém, depois de o ter visitado em todas as outras localizações onde operou. Não é bem verdade: não fui vê-lo ao Recife, mas tive-o a “atuar” na embaixada em Paris. Neste Tomba Lobos criou um belíssimo ambiente, na parte velha da cidade. Às mesas, mantem-se o profissionalismo quase imbatível do Apolínio, com o seu asterixiano bigode e uma imensa simpatia, uma figura sempre presente em todas essas anteriores ocasiões. (Um dia, creio que na revista “Epicur”, dei à crítica que fiz ao restaurante o título de “O bigode do Apolínio”). Também anda já pela sala um filho do Júlio e da Catarina, cara chapada do pai, bem como um empregado e excelente enófilo, que, por um segundo, me pareceu ser um ministro recentemente caído em circunstancial desgraça. O Júlio Vintém, um mestre da culinária, tem vindo a apurar a sua oferta ao longo dos anos. O menu era variado e de muita qualidade. Os oito convivas saíram bastante satisfeitos. Um ponto menos positivo: o naco de lombelo ao alhinho estava com uma textura demasiado rígida. 


DOM JOAQUIM (Évora. Rua dos Penedos, 6, tel. 266 731 105). Foi uma chamada do meu saudoso amigo Jorge Coelho que me alertou, um dia, para este restaurante: “Meu querido amigo. Acabo de comer muito bem no Dom Joaquim, em Évora. Não conhece? Tem de conhecer”. Fui lá, meses depois, e fiz uma crónica dessa visita, creio que para a revista “Evasões”. Não é nada fácil, numa cidade com a excecional oferta gastronómica que Évora tem, conquistar um espaço próprio. Mas o Dom Joaquim consegui-o. Com imenso mérito. A lista é muito boa e equilibrada. Comeu-se bem. Era domingo, a casa estava a abarrotar e o ritmo do serviço ressentiu-se. O “vou já avisar o meu colega para vir aqui” é uma fórmula que resolve o problema ao empregado, mas não ao cliente. Esse é o ponto negativo a apontar: num certo momento, com toda a mesa servida, um dos convivas esperou irritantes longos minutos para também ter o seu prato. Mas o empregado com barba “hipster” que nos serviu foi bastante profissional, até nas desculpas. Lá voltarei, ao Dom Joaquim.
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Aqui ficam as notas, com a grande simpatia que me merecem todas as casas. Locais onde é imperativo reservar, com alguma antecedência. Com vinhos num escala não muito exagerada, a refeição em todos rondou os 35 euros por pessoa. Em todos os casos, pareceu-me justo, atenta a qualidade daquilo que foi consumido.

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