22.7.24

"Gambrinus" (Lisboa)


Começo pelo fim. Acabei o jantar de hoje com o café de balão. Não sei se há mais algum restaurante lisboeta (ou mesmo português) que no-lo proporcione, mas eu gosto muito daquele ritual. Normalmente, "corto-o" com um whiskey (não whisky) irlandês. Às vezes da Irlanda do Norte (dias em que vou para o Bushmills), outras da República da Irlanda (dias, em geral noites, em que prefiro o Jameson).

Se tivesse muito dinheiro, ia mais vezes ao Gambrinus. Como só tenho algum, apenas lá vou "quando o rei faz anos" ou quando me convidam. Nunca fui cliente da barra, o famoso balcão da entrada pelas Portas de Santo Antão. Já lá comi, claro, em momentos de solidão, mas, assumo aqui e agora, é uma área da casa que detesto - embora saiba que faz parte da mitologia de uma certa Lisboa social-lumpen, alcoófila e até exoticamente cultural. Fiquem os apreciadores com ela, como também podem ficar com a sala adjacente, onde parece que antes se fumava. Eu sou apenas cliente da sala grande e, se lá não houver lugar, vou para outra freguesia. Em desespero, ainda posso ficar nas galerias, da entrada ou do fundo. Repito: mas só em desespero.

O Gambrinus tem o pessoal mais apurado do país. O serviço é exemplar, a educação faz ali escola. O cliente nunca está errado, por muito que às vezes o possa estar. Dias menos felizes por parte da cozinha (e ultimamente tem-nos havido, infelizmente, mais do que seria desejável, e eu não tenho deixado de os assinalar, com a frontalidade dos amigos) são tratados pelo pessoal de mesa com uma elegância ímpar em Lisboa. O Gambrinus devia montar uma escola da arte de bem servir. 

Estas notas destinam-se ter só três parágrafos. Mas o Gambrinus merece estas linhas a mais. Quanto mais não seja para lembrar que é imperioso reservar mesa, pelo 213 421 466. E que não é barato. E que tem uma bela carta de vinhos. E uma imperdível empada de perdiz, como a que hoje comi. O resto, deixo para a vossa visita.

5 comentários:

  1. Anónimo7/23/2024

    Como eu sou uma grande apreciadora de doces, não posso deixar de dizer que os crepes Suzette são imperdíveis. Como os olhos também comem, todo aquele cerimonial da feitura dos crepes pelo chefe de sala, aguçam o apetite.

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  2. Só fui uma vez há muiiitos anos ao Gambrinus. Fui convidada. Será que eu posso voltar a ir lá só para comer os célebres crepes Suzette? Não... não é de bom tom. Os últimos que comi foi num restaurante em Monmartre na Place du Tetre.

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  3. Anónimo7/23/2024

    o gambrinus merece o justo comentário. p. b.

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  4. Anónimo7/23/2024

    Agradeço o reconhecimento de qualidade que atribui ao serviço do Gambrinus. Referencio que esta escola de bem servir como refere no artigo, foi fruto do trabalho de um dos sócios que durante quarenta anos trabalhou na sala de uma forma consistente, metódica e rigorosa e que passados mais de vinte anos do seu desaparecimento, ainda se sente o seu estilo e influencia. Na qualidade de gerente de uma geração mais recente, fica aqui a minha justa homenagem pelo seu legado que tão bem descreve e reconhece.

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    1. Transcrevo aqui um comentário inserido no "duas ou três coisas"

      Eu fui algumas vezes ao Gambrinus e subscrevo inteiramente o comentário sobre a arte do bem servir. Também gosto muito do espaço ilustrado na foto. A cozinha é algo tradicional. Pessoalmente acho que valeria a pena de quando em vez sair um bocadinho da norma e tentar inovar. Mas acho que é um porto seguro!

      Cumprimentos à equipa (e obrigado ao Embaixador)

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