18.7.21

Nã conhecia!


É ali ao lado da Vidigueira, em Vila de Frades. Lá fora, estava um calor que nem lhes digo! Atravessar o Alentejo, vindo do sul, em direção a Lisboa, sem ser pelo caminho mais curto, num dia como o de hoje, só por um imenso motivo de força maior. E esse motivo era a vontade de ir almoçar, com amigos, a um restaurante com o “estranho” nome de “O País das Uvas”. A “estranheza” atenua-se se alguém (que não eu) lembrar que esse é o titulo de uma obra de Fialho de Almeida, nascido em Vila de Frades. Aqui chegado, devo dizer que, à parte “Os Gatos”, não tenho ideia de ter lido mais nada de Fialho de Almeida, muito menos a obra que deu nome ao restaurante. Passando ao que importa. Comeu-se muito bem: açorda de cação e carne de alguidar, antecedidos de cilarcas e espargos com ovos, e um “pijama” como sobremesa, que é uma “amostra”, em versão gigante, de três belas doçarias. Tudo foi acompanhado com um “vinho da talha”, a especialidade da casa, preparado em talhas mouriscas que podem e devem ser visitadas, na adega anexa. Para quem esteja cheio de pressa de lá ir, esqueça a segunda-feira: estão fechados. E tudo quanto lhes queria dizer. (Ah! Dizem-me que há uma versão lisboeta, chamada ”O Frade”, no início da Calçada da Ajuda, onde parece que se come igualmente bem. Lá irei um dia).

27.6.21

Cimas (Estoril)


Há muitos anos, quando criança, nos intervalos dos jogos de futebol no campo do Calvário, em Vila Real, lembro-me de ouvir, com a voz grave e pausada da locução da época, um anúncio aos então afamados relógios Cyma.

Essa publicidade tinha um lema que, ao que me dizem, ecoava então um pouco por todo o país: “Acima de Cyma, só Cyma!”, para sublinhar a qualidade dita insuperável desses relógios. Depois da frase, o locutor dizia o nome e endereço da casa de relojoaria de Vila Real onde se comerciavam os aparelhos.

Lembrei-me disto ontem, acabado de jantar no Cimas, sobre a estrada que liga os Estoris (uma fórmula antiga de que gosto muito) a Cascais. Este antigo “English Bar“, hoje “Restaurante Cimas”, sob a mão competente de José Manuel Cimas Sobral, continua a ser um marco impressivo da restauração portuguesa.

Agora com um novo espaço num terraço superior, que neste bom tempo substitui a bela sala de madeiras que lhe fez o nome (o restaurante, imaginem!, existe de 1952!), o “Cimas” é sempre um porto seguro de excelente restauração. É barato? Não é. Mas, posso dizê-lo, tem uma relação qualidade-preço muito boa. E todos os restaurantes de qualidade, como é manifestamente o caso deste, merecem ser destacados.

Ecoando a publicidade de outrora, apetece-me dizer, depois da magnífica experiência que tive na noite de ontem, de que deixo uma despretensiosa imagem fotográfica: "Acima de Cimas, só Cimas”!

1.6.21

O “Ribas”, na Ericeira


Tenho a sensação que, de todas as vezes que almocei ou jantei na Ericeira, acabei por assentar num sítio diferente (verdade seja que gosto de “saltitar” entre restaurantes). Na minha vida, não recordo ter comido muito por lá, talvez uma dúzia de ocasiões. Faço uma ressalva para os três meses de tropa em Mafra, em que se ia jantar com frequência à Ericeira, para tentar atenuar o trauma gastronómico do “almoço” no Refeitório dos Frades - mas isso ainda foi num tempo em que alguns militantes mais velhos do Chega talvez ainda andassem pela Ação Nacional Popular.

Sempre que amigos e conhecidos me pediam uma recomendação na Ericeira, fiados no mito de que conheço muitos restaurantes, eu hesitava bastante e, a medo, lá acabava por indicar uma ou outra marisqueira - o que é sempre um comodismo fácil em terra de peixe e marisco. Mas, confesso, embora a terra tenha coisas estimáveis, fazia-o sempre sem grande convicção.

Isso acabou este fim de semana! Graças à dica de um amigo que sabe da poda, tive uma experiência magnífica no “Ribas”, bem no centro, junto à muralha onde, em vários anos, ia de propósito de Lisboa, em romagem, comemorar o 5 de outubro, no meu republicanismo radical. 

O “Ribas” tem uma sala ampla, confortável e com decoração elegante, com todas as condições de segurança sanitária, importante para os tempos que correm. O serviço é discreto, eficiente, educado, por profissionais muito bem “equipados”, dando nota de uma cuidada “ordem unida” (expressão herdada do meu tempo militar por ali).

E, o que é mais importante, come-se lindamente no “Ribas”! Tem excelente peixe (mas não só), numa lista onde havia muitos mariscos (que, contudo, não experimentei), tudo com uma bela apresentação. A lista é muito equilibrada, tem uma seleção de vinhos muito boa. Os preços são o expectável para uma qualidade geral bem acima da média.

Vou voltar, logo que puder, ao “Ribas”. E, finalmente, já vou poder recomendar, sem hesitar, uma mesa na Ericeira.

23.5.21

Mais um vizinho


Hoje, domingo, deu-nos para visitar um outro restaurante da vizinhança, o “Clube dos Jornalistas”, na rua das Trinas, na Madragoa.

No edifício de uma antiga escola primária, tem um interior diferente do expectável, decorado com gosto sóbrio, em madeiras e tons fortes (atenção a um degrau entre duas dependências, onde já uma vez me “esbardalhei”, como se diz na minha terra). 

Ao longo da sua já longa existência, notei que o restaurante teve já várias encarnações mas, vale a pena dizer, sempre com uma qualidade apreciável. Recordo-me de que chegou a andar por mãos bascas (oferecia, então, uns dentes de alho imersos em azeite, deliciosos, porque que lhes atenuava o caráter agreste e se trincavam com gosto), com propostas originais e interessantes. Agora, ao que reparei já há tempos, mudou de rumo gastronómico, mas não se perdeu na inventividade, talvez antes pelo contrário.

Nos anos 90, costumava ter por lá muitos almoços. Em um deles, a dois, Mário Soares revelou-me histórias curiosas, algumas quase proibidas, dos bastidores históricos do PS. Lembro-me também de que ali organizei uma jantarada da nossa “fornada” diplomática de 1975. E até um dia ocupámos o espaço com um casamento de amigos.

O “Clube de Jornalistas” beneficia de um espetacular pátio traseiro com jacarandás, abrigado de ventanias, onde, em dias de sol, se almoça (e, ajudando o clima, se janta) magnificamente.

Tinha passado lá, há meses, numa pausa da pandemia e regressei agora. A lista atual é muito criativa, com pratos bem apresentados, com toques de originalidade culinária, que revelam uma mão segura na cozinha. O serviço é sereno, educado e sabedor, conferindo um bom ambiente ao espaço.

O “Clube dos Jornalistas” é um segredo (talvez demasiado) bem guardado em Lisboa. Pela qualidade da sua oferta, pelo ambiente e por todo o seu conjunto é um lugar que merece ser mais conhecido e frequentado. Ah! E peçam o tinto do Douro “Dois” (indicação do meu amigo Fernando Neves). Vivamente recomendo.



14.5.21

Na vizinhança


A bem dizer, o “Geographia” é o restaurante mais próximo de minha casa. E, injustamente, poucas vezes me lembro de lá ir. Fi-lo ontem, para jantar. E, como sempre - sempre, repito - aconteceu, saí imensamente satisfeito. 

O “Geographia” justifica que, por uma vez, eu use a irritante palavra “conceito”, aplicável a uma casa onde se vai para comer e beber. O “Geographia” é um “conceito” muito original no nosso país: apresenta pratos dos várias regiões e culturas que Portugal, na sua aventura imperial, cruzou pelo mundo, da Ásia à América e à África. Fá-lo com um extremo cuidado na apresentação, sem “sublinhar” em excesso certos sabores específicos, adequando o equilíbrio culinário ao gosto português médio, mas sempre de uma forma elegante e até sofisticada.

O “Geographia”, que fica na parte elevada de um largo junto ao Museu Nacional de Arte Antiga, tem um serviço de mesas jovem, bem disposto e muito atento. Com os devidos cuidados a que a “saison” sanitária obriga, ontem foi reconfortante ver por ali uma casa com razoável número de clientes. 

Porque acho que o património em matéria de diversidade gastronómica é uma riqueza nacional que nos compete preservar, devemos apoiar o esforço que os restaurantes fizeram neste tempo de pandemia e recompensá-los com a nossa frequência.

Ao leitor de Lisboa que não conhece o “Geographia”, recomendo francamente uma visita. E isto é muito sincero, pode crer! Aceito reclamações.

8.5.21

After Eight


Creio que foi já nos anos 70 que o “After Eight” entrou em Portugal. A certa altura, não havia jantar social em que, com o café, não fossem servidos aqueles quadrados de chocolate com uma pasta de mentol dentro.

As donas de casa, ou os empregados, quando existiam, traziam aquilo aos convidados, numas caixas verdes de papel que, até lá, se colocavam nas prateleiras do frigorífico. 

Com os anos e os calores de época, todos tivemos a experiência de ser servidos de “After Eight” moles e pegajosos, difíceis de tirar do “saco” de papel, visivelmente reciclados da sua frescura antiga, que dava uma imensa e atrapalhada trabalheira deitar fora, quando estávamos em casa alheia. Graças a mim, várias plantas em vasos floresceram a cheirar a mentol.

Há um belo restaurante lisboeta que manteve, desde sempre, a tradição de servir um “After Eight” com o café. A quem acertar no nome da casa estou em condições de prometer que, quando lá forem, irão ter direito a um “After Eight”. E podem dizer que vão da minha parte.

Uma tasca histórica



Na fotografia estão pai, mãe e filho, a “troika” do bem” que rege a “Imperial de Campo de Ourique”, uma das minhas mesas de estimação.

(Tenho ido pouco por lá - tenho ido pouco a toda a parte! Assumo que faço parte do grupo dos “cobardes” da pandemia: até tomar a segunda dose da vacina, não almoço ou janto em grupo, nem mesmo em família. Os meus amigos queixam-se imenso e sou brindado com epítetos qualificativos que nem me atrevo a revelar. Tenho para mim, contudo, que só se vive uma vez e, ao que me consta, esta é a última. Por isso, acho que todo o cuidado é pouco, faltando escassos dias para que possamos usufruir de maior liberdade. Mas percebo que este meu entendimento não seja o de outros.)

Hoje, fui almoçar à “tasca do João”, como também é conhecida a “Imperial de Campo de Ourique” (no 67 da rua Correia Teles. Mas só abre para almoços!). Tenho por hábito ir lá, aos sábados, para o bacalhau à minhota que a dona Adelaide prepara e que o Nuno me traz, sabendo bem de que tipo de posta eu gosto mais. Mas hoje havia também um cabrito. Abriu-se a refeição com um queijo amanteigado, simpático, cuja origem não cuidei em saber. O novo vinho da casa deu um imenso salto positivo, evitando mesmo o recurso ao “Rafeiro”, um alentejano razoável (no palato e no preço) que, por lá, nos últimos tempos, se bebe muito. Belas laranjas da Chamusca fecharam o menu, resistindo ao arroz doce, marca da casa.

Desta vez, no final, só tomei um café. Até há uns meses, tomava sempre dois. O João trazia logo duas chávenas, ao mesmo tempo. Um dia, a curiosidade da minha parceira de mesa foi ao ponto de espreitar para dentro das chávenas, dando-se então conta que a cor do café, numa delas, era ligeiramente diversa da da outra. Foi ver: era “Jameson”. E assim ficou prejudicado um truque que, por bastante tempo, eu e o João tínhamos montado, com sucesso...

O João quer agora que a sua casa passe a “Loja com História”. Eu acho que sim. Se também é frequentador e acha o mesmo, escreva a dizer isso para distincao.lojashistoria@cm-lisboa.pt .

5.5.21

Sancho (Lisboa)


Aqui por Lisboa, há alguns, poucos, restaurantes em que a moda quase não toca. Muitos dirão: e ainda bem! Um deles é o "Sancho", na Travessa da Glória. bem junto aos Restauradores. É um restaurante que conheço há várias décadas, que não aparece com frequência nos guias, que não anda nas bocas da crítica, mas onde, desde há muito, se pode encontrar uma cozinha sólida, sã, com uma qualidade constante que, não lhe conferindo um espaço de destaque nos Michelin & Cia, lhe garante um lugar na simpatia de muita gente que o frequenta, alguns com persistente e leal regularidade. Voltei lá, não há muito tempo, para um almoço de trabalho, com um amigo. Cheguei antes dele. Disse o seu nome e logo alguém ordenou: “Leva o senhor embaixador à mesa do senhor doutor...”. Como já lá não ia há uns tempos, tive de fazer “de conta” de que não fiquei surpreendido por me terem identificado (ou teria sido o meu amigo que alertou, como hipótese mais modesta). O almoço foi agradável e, a aquilatar pela lista que no início consultei, os preços estão numa escala de razoabilidade. Não posso dizer que saí esmagado de luxúria gastronómica, mas - com a franqueza com que digo sempre aquilo que penso dos locais que visito - posso dizer que fiquei satisfeito. Uma cozinha de restaurante para uso regular é aquilo mesmo: qualidade sustentada, serviço atencioso, cuidado com os clientes, tudo coisas que, nos tempos que correm, fico sempre contente por encontrar em Lisboa. Não sei quando vou voltar ao Sancho, mas, da próxima vez que andar pelo pelo fundo da Avenida da Liberdade, vou-me lembrar deste restaurante onde, pela primeira vez, nos anos 60, um tio que já lá vai há muito me levou a almoçar, numa primeira aprendizagem das mesas de uma Lisboa que, felizmente, ainda conseguimos reencontrar nos dias de hoje.

5.3.21

Um restaurante diferente


A porta fechou, há bastante tempo. O seu dono também desapareceu, há muito. Francisco Queiroz tinha vindo de África, nessa segunda metade dos anos 70, quando muita outra gente também veio de África.


Começou por lançar o “Varina da Madragoa”, na rua das Madres, até que se fixou no “Sua Excelência”, na rua do Conde, não muito longe do Museu de Arte Antiga. Há pouco, tirei esta foto da porta.

Queiroz era uma figura bastante interessante, para alguém que dirigia um restaurante. Fazia parte daqueles donos da casa que fazem gala que não nos esqueçamos de que são... os donos da casa. Há quem se irrite com o estilo, há quem ache graça. Eu, sem um esforço por aí além, procurei sempre sobreviver entre esses dois registos. Não tenho, por feitio e à partida, uma excessiva paciência para aquelas maneiras, mas divertia-me aquela forma de estar, por ser essa precisamente a diferença que marcava a casa. 

Era um restaurante com poucos lugares, com um pátio traseiro simpático e preços um pouco “puxados”. Nesse tempo, ali na Lapa, como no resto de Lisboa, encontrava-se sempre um lugar para estacionar (até no Bairro Alto!).

Reservava-se, entrava-se, havia uma zona para um copo prévio à refeição e, não se sendo íntimo, como nunca fui nem pretendi ser, começava-se, invariavelmente, por ser tratado de uma forma snobe, num estilo muito afetado, criando uma distância quase artificial e, para muitos, ligeiramente intimidatória. Essa era a imagem de marca que Francisco Queiroz deliberadamente queria transmitir. E que colava muito bem à sua pele.

Sejamos justos que era essa rara coreografia, para além da boa comida, a razão um pouco masoquista que ali nos levava. E que também nos motivava a convidar para lá amigos estrangeiros, para apreciarem aquela bizarria, essa aposta restaurativa muito distinta que o “Sua Excelência” representava então em Lisboa.

Para além da oferta culinária, que estava na “média alta” da época, o grande “número” da noite era o enunciar da lista, que não existia em formato de papel e que Francisco Queiroz debitava, se fosse necessário, em várias línguas.

Uma noite, no meio dessa longa recitação, decidi tomar uma nota escrita sobre um prato que ele tinha acabado de referir e que temi esquecer, ao fim da longa lista. Queiroz ofendeu-se, ou fez de conta que se ofendeu, afivelando o carão de desagrado que lhe era muito típico: “O que é que está a fazer?” Expliquei que tinha receio de me esquecer do prato. Ele olhou para mim do alto (ele olhava sempre do alto!), retorquindo: “O menino não tem nada que tomar notas! Ora essa! Pede para repetir e eu repito!” E lá continuou a litania.

Numa outra ocasião, levei por lá um amigo brasileiro que, além de um pouco surdo, tinha dificuldade em seguir os detalhes das descrições dos cozinhados com que Francisco Queiroz se comprazia. E, não reparando que falava demasiado alto, disse-me, pensando estar a fazê-lo em voz baixa: “Não entendo nada do que o “veado” diz!” A noite esteve para acabar por ali, com o dono da casa a dar mostras de ofendido, e com real razão, só não nos pondo com outro dono por consideração por mim, que organizara o jantar e tinha começado por elogiar a casa.

Num outro jantar em que uma convidada, no final da refeição, sem nada a ver com o que tinha comido, se sentiu mal, a conta final, num gesto de grande delicadeza, veio descontada dessa despesa. Nunca esqueci esse gesto.

Nesta memória, deixo um texto, que “apanhei” num artigo de jornal, e que reproduz, ipsis verbis, a apresentação feita das entradas que o “Sua Excelência” num certo dia oferecia. Por ele podem imaginar a riqueza da descrição que se seguiria, no tocante aos pratos principais e às sempre excelentes sobremesas. Noto que, na explicação dos pratos, era vulgar Francisco Queiroz dizer que eram “como a tia Maria do Carmo fazia” ou “como lá em casa a mãe preparava” ou coisas assim.

Aqui vai: 

Temos uma sopa de peixe, que é a sopa do dia, uma especialidade da casa, uma sopa alentejana que se faz num instantinho, se quiserem, e ainda temos um consome com vinho da Madeira que também há todos os dias. (Espere aí que ainda não acabei!). Nas entradas propriamente ditas temos umas gambazinhas deste tamanho chamadas “à moda de Moçambique”, que são abertas primeiro, muito bem temperadas, e depois, na altura de servir, são fritas em manteiga com molho de piripiri. Temos um belíssimo espadarte fumado e também um cocktail de camarão dentro de uma pêra abacate. Além disso, há uns cogumelos salteados com natas e vinho da Madeira, numas caçarolazinhas de porcelana. Uns ovos en cocotte, feitos no forno em banho Maria, com azeitonas, bocadinhos de fiambre e natas. Por fim, temos um funcho gratinado no forno... O funcho? Bem, há uma erva, mas essa erva nasce de um bolbozinho que está debaixo da terra e é essa raiz que nós empregamos na culinária. Parece uma cebola achatada, é muito saborosa. Primeiro, coze-se em água e sal, corta-se em quatro bocados que se põem num tachinho de barro (Espere aí que ainda não acabei!), com uma fatiazinha de fiambre, molho branco e quejo ralado, é uma delícia! Isto é o que nos temos para começar.”

Fazem falta restaurantes destes em Lisboa! Agora, num estilo só aproximado, na melhor das hipóteses, o que se vê por aí, mas felizmente não muito, já não é este tipo de sobranceria afetada a soar, com graça, a uma aristocracia deliciosamente decadente, mas sim atitudes de “confiança” a roçar a má educação ou, então, o estilo “casual arrogant” de uns miúdos que servem à mesa como que fazendo um frete, dando ares de estarem a ganhar umas horas com o “tio”, no meio de um mestrado para encher o tempo.

Falar de amigos


Hoje, vou falar de amigos. De alguns dos muitos que têm, como negócio, como vida, um restaurante. Dos que sofrem, por estes dias, tempos bem difíceis, com empregos em jogo, contas para pagar, responsabilidades para cumprir. Dos que se dedicaram, por anos, a gizar um projeto de gastronomia responsável, a “desenhar” uma casa e um nome, com seriedade e muito profissionalismo. Pessoas por quem tenho muito respeito e que estou “deserto”, como se diz na minha terra, por poder abraçar, visitar, frequentar. Quem são eles? Aqui vão, só alguns. Podiam ser muitos e muitos outros!

A dona Ilda, no Carvalho, em Chaves. A Alice e o Eleutério, no Lameirão, em Vila Real. O Óscar e o Tó Luís, no G, em Bragança. O António Machado, no Costa do Sol, em Vila Pouca de Aguiar. O Julião, na Casa de Armas, em Viana do Castelo. O Victor Peixoto, no Victor, em São João do Rei. A Palmira e o José António, no Bocados, em Ponte de Lima. O Pedro Nunes, no São Gião, em Moreira de Cónegos. O Renato Cunha, no Ferrugem, em Famalicão. O José António, no Cozinha do Manel, no Porto. O Rui Paula, no Casa de Chá da Boa Nova, em Matosinhos. A Fernanda e o Luís Castro, no Vallecula, em Valhelhas. A Manuela Cerca e o Eugénio Martins, no Casas do Bragal, em Coimbra. O Luís Frazão Gomes, no Tribeca, em Serr d’el Rei. O Júlio Vintém, no Tomba Lobos, em Portalegre. A Sílvia, no Retiro do Pescador, na Carrasqueira. E, em Lisboa, tantos! O Henrique, no Galito. A Justa e o José Nobre, no Nobre. O João “Espetáculo”, na Imperial do Campo de Ourique. A Vivianne, na Travessa. O Jorge Dias, no Faz Figura. O Octávio, no Gambrinus. A Petra, no Solar dos Duques. O Miguel Júdice, no Eleven. O Manuel e o Aurélio, no Poleiro. O Cardoso, no Comilão. O Duarte, no Salsa & Coentros. E tantos e tantos outros.

5.10.20

Depois do confinamento: 5 mesas em Sintra



Incomum
Rua Dr. Alfredo da Costa, 22, Sintra
Tlf. 219 243 719

Foi um belo jantar, neste surpreendente Incomum. Um restaurante onde se nota bem a mão de um “chefe”, Luís Santos. Uma lista variada, pratos muito bem apresentados, carta de vinhos competente, serviço diligente, numa relação qualidade/preço muito boa. Vou regressar, logo que puder.



Sisudo
Largo Miguel Bombarda, 14, Almoçagem
Tlf. 219 291 507

A opção pelos petiscos, em detrimento dos pratos do dia, fez com que só tivéssemos experimentado uma das vertentes deste simpático restaurante de Almoçageme, uma casa muito antiga, reconvertida de forma muito agradável. Foi uma belíssima refeição, com permanente atenção às mesas, embora num dia com muita procura. Conto voltar em breve, para a “segunda parte”. E não excluo ficar na “guest house”!


Adraga
Praia da Adraga
Tlf. 219 280 028

Já não regressava há muitos anos a este clássico na praia da Adraga. É uma casa simples, mas sempre com belos produtos do mar. Gostei da resposta de um empregado a alguém que inquiriu sobre carnes que estavam na lista: “Aqui, não sei recomendar carnes!”. De facto, com todo aquele peixe e marisco! 



Ribeirinha de Colares
Avenida dos Bombeiros Voluntários, 71, Várzea de Colares
Tlf. 219 282 177

Não fiquei na “mesa do embaixador”, assim assinalada como homenagem póstuma ao meu colega António Franco, “habitué” da casa. De outros tempos, tinha a ideia de ser um restaurante apenas “assim-assim”. Tudo mudou! Fui surpreendido com uma magnífica refeição, na variedade dos pratos que se pediram. Um valor seguro na zona.




Petiscaria Casa
Rua Dom António Correia de Sá, 2, Várzea de Sintra
Tlf. 219 243 499

Fui parar, por mero acaso, a este restaurante, sem prévia reserva (o que, em mim, é uma raridade). Fui surpreendido por uma cozinha inventiva, com um ambiente marcado por um acolhimento de quem sabe o que está a fazer na profissão, no cenário de uma decoração bizarra e divertida. É uma casa que merece ser mais conhecida.

24.9.20

Depois do confinamento: “A Cozinha do Manel”


Nunca ali comi mal. Pensar isto de um restaurante, que se visita com alguma frequência, é algo que nos faz ter vontade de lá regressar. Há anos que o José António nos oferece uma cozinha genuína, segura, competente e profundamente nortenha, com um serviço agradável. Porque, nos últimos anos, por razões profissionais, me hospedo no Porto num hotel logo ali ao lado, visitar a “Cozinha do Manel” tornou-se para mim num hábito, num bom vício. E há que notar que, num dos extremos daquela rua do Heroísmo, havia a tentação do polvo no “Aleixo”, agora definitivamente fechadoEm tempos de pandemia, existe a obrigação de apoiar, com a nossa visita, os bons restaurantes de que gostamos. Como é a Cozinha do Manel.

23.9.20

Depois do confinamento: “Gambrinus” ( Lisboa)


A primeira vez que entrei no Gambrinus, em tempo de pandemia, fez-me alguma impressão, confesso. Aquele é um espaço que, à partida, não rima com este tempo estranho. Mas, logo de seguida, ficou para mim muito claro que, por ali, nada de essencial tinha mudado. A elegância do serviço, a qualidade segura do que a lista nos oferece, o conselho avisado sobre o vinho, tudo isso estava ali por inteiro. Um bom restaurante sabe que tem de saber resistir a tempos exigentes. Por isso, as mesas estão mais distantes, há alguns acrílicos separadores discretos, o escrúpulo do rigor sanitário levou o Gambrinus a criar caixas de cartão, com o “logo” da casa, onde nos chegam os talheres. Nada falha, por ali. A atenção de Octávio Ferreira e a simpatia do restante pessoal conseguem manter o Gambrinus no seu nível de sempre. Esta é uma casa que nunca se perde.

22.9.20

Depois do confinamento: “Casa d’Armas (Viana do Castelo)


Quando vi nascer o “Casa de Armas”, ali perto do rio, numa casa senhorial de Viana do Castelo, que fazia parte do meu cenário de infância em férias, fiquei esperançado em que o restaurante pudesse contribuir para dar um abanão gastronómico a uma cidade que, no passado, nunca foi conhecida por ter grandes expoentes de restauração. Era um tempo em que, à parte a oferta tradicional e segura do “Laranjeira”, que sempre foi a minha “cantina” vianense de estimação, com o surgimento (que acabou por ser efémero) do “Cozinha das Malheiras” e a graça inicial do “Maria de Perre”, éramos muitas vezes tentados a dar uma saltada ao “Camelo”, a Leste, ou à “Mariana”, a Norte. Às vezes, nos primeiros tempos, a comida da “Casa d’Armas” pareceu-me demasiado pesada, outras vezes, a relação qualidade-preço causava-me algumas dúvidas. Tudo isso passou. Hoje, não tenho dúvidas nenhumas: frequento e recomendo a “Casa d’Armas”. É um expoente nas mesas da cidade. Está-se a comer ali muito bem, com o grande profissionalismo do serviço de sala que sempre foi apanágio da casa, o que proporciona refeições memoraveis.

21.9.20

Depois do confinamento: “Poleiro” (Lisboa)


Quando, em 1985, chegado de posto em Angola, fui viver para perto do Campo Pequeno, alguém me disse maravilhas de um restaurante que tinha acabado de abrir, na rua de Entrecampos - o Poleiro. Eram dois irmãos Martins: o Manuel, a chefiar a cozinha, e o Aurélio, a dirigir a sala, então minúscula (não chegava a 30 lugares; depois aumentou apenas um pouco mais). A oferta inicial era eclética: havia espetadas madeirenses e comida minhota, por exemplo. O Aurélio, nos vinhos, converteu-se num constante descobridor de coisas novas e excelentes.

Por muitos anos, o Poleiro foi um “caso” numa restauração lisboeta que estava então muito longe de ter o leque de diversidade que hoje tem. Havia filas à porta. Ao almoço, era o mundo da política, do jornalismo, das empresas. À noite, eram casais e pequenos grupos. As reservas eram feitas com grande antecedência. Havia dias “impossíveis”.

Vivendo a cinco minutos a pé, tornei-me, de um regular frequentador, num bom amigo da casa. E já lá vão 35 anos. Noites houve em que o Aurélio me dizia, pelo telefone: “Pode ir descendo, que a sua mesa está quase pronta”, depois da rodada anterior. E, lá chegado, sabia ter à minha espera os peixinhos da horta e um belo queijo amanteigado, que ainda hoje vejo figurar por detrás dos níveis de colesterol das minhas análises. Grandes noitadas, com a família e amigos, passei no Poleiro.

Quem me conhece sabe que fiz sempre, por todo o lado, imensa “propaganda” do Poleiro. Não por ter a sua gente por amiga, mas porque achava, e continuo a achar, que por ali se servia e serve uma das mais genuinas cozinhas de Lisboa. Sem quebras, sem cedências, sem recuos na qualidade dos produtos. 

Hoje, como é da lei da vida, os dias do “Poleiro” não são os mesmos desse tempo, somada agora a pandemia a tudo o resto. Há muitos concorrentes, diversas ofertas gastronómicas, modas a prevalecerem. Mas o Poleiro ali está, impecável no que nos propõe, como ainda há muito pouco tempo tive ocasião de comprovar, numa visita que fiz à minha “cozinha”, como o Pedro d’Anunciação escreveu, há quase 15 anos, num artigo numa revista que encontrei por lá encaixilhado e de que aqui deixo imagem para memória presente.

20.9.20

Depois do confinamento: “Solar dos Pintor” (Manjoeira)


Não, não há erro nenhum de concordância no nome deste restaurante: é assim mesmo. É na Manjoeira, passando A-das-Lebres, depois de Loures. Fui lá pela primeira vez na semana passada, voltei lá ontem. A Dona Áurea, que dirige a cozinha, prepara uns petiscos de grande categoria, mudando a ementa de dia para dia. A garrafeira é sensacional e a relação qualidade/preço é do melhor que tenho encontrado. Se prometerem deixar sempre uma mesa para mim, podem lá ir. À confiança! 

19.9.20

Depois do confinamento: “Galito” (Lisboa)


Há alguns restaurantes que servem boa comida alentejana em Lisboa. Mas só há uma única casa em Lisboa que, verdadeiramente, pode ser qualificada como sendo um restaurante 100% alentejano: o “Galito”. O Henrique, com mão de mestre e atenção pelos clientes, seguindo a tradição da sua mãe, a saudosa D. Gertrudes, continua a oferecer, ali para as bandas do Colombo e do Colégio Militar, uma cozinha genuína e de muita qualidade. Uma culinária que vem de longe, da Aldeia da Serra, na serra da Ossa, entre o Redondo e Extremoz, onde nasceu o primeiro “Galito”, perto do “Chana do Bernardino”, que por lá continua a operar. Depois, houve, na Pontinha, o “Barrote Atiçado”, que coincidiu, pelo menos, com a primeira das três encarnações deste “Galito” (onde sou cliente desde sempre), a última das quais, espaçosa e arejada, é a atual. O “Barrote” ainda sobreviveu num centro comercial (única das casas que não conheci), deixando depois o “Galito” sozinho no terreno. E que bem que continua a comer-se no “Galito”! 

18.9.20

“Mesa Marcada”


“Mesa Marcada” é, desde há vários anos, o mais importante site de informação e comentário sobre restaurantes em Portugal. 

Dirigido por Duarte Calvão e Miguel Pires, por ali tem sido acompanhada a fantástica evolução que, nos últimos anos, se processou na oferta restaurativa nacional, com particular destaque para a área da “alta gastronomia”, onde Portugal começou a “dar cartas”.

Neste que está a ser um tempo muito difícil para os restaurantes portugueses, parte dos quais fortemente afetada pelo recuo do mercado turístico, o “Mesa Marcada”, com um belo e novo “endereço”, a que pode chegar clicando aqui, ajuda a manter a atenção sobre este importante setor económico nacional, do qual dependem muitos milhares de empregos e a sobrevivência de imensas famílias.

Os restaurantes portugueses estão a fazer um esforço notável, sem recuo na qualidade e no serviço, e tentando seguir, como regra geral, estritas condições sanitárias, para conseguirem atravessar este tempo de crise. 

Continuar a frequentar os restaurantes é ajudar a manter vivo um setor que faz parte da nossa cultura nacional. É imperativo não deixar que a conjuntura da pandemia destrua o processo de afirmação da identidade da gastronomia que hoje se pratica em Portugal, como internacionalmente é crescentemente reconhecido.

Parabéns ao “Mesa Marcada” por ter tido o sentido de responsabilidade de saber renovar-se, precisamente neste tempo complexo e exigente.

14.8.20

Jantar

 

Tínha passado por lá, há dias, para reservar uma mesa para jantar. Havia uma boa recordação da última visita àquele restaurante. Imagino que apenas nesta época, a casa, pura e simplesmente, não atende o telefone. Leu bem: não aceita telefonemas. Uma imensa deselegância para com os clientes. À hora exata, nem mais um minuto, chegámos. “Vão ter de esperar”. Mau, mestre! As coisas começavam a descarrilar. Se fosse em Lisboa, ter-me-ia ido embora. Há muito que decidi já não tenho idade nem paciência para ficar à espera, à porta de um restaurante, depois de ter sido fixada uma determinada hora, com antecedência. Mas aqui, numa aldeia perto da praia, com tudo o resto, em quilómetros em volta, garantidamente cheio ou sem qualidade, assomou-me uma réstia de paciência comodista, adocicada por um gin tónico (onde terá surgido esta mania de o servir em incómodos copos, que parecem bolas de andebol!), para entreter o tempo. O atendimento, contudo, desde o primeiro momento, havia sido correto, nada arrogante, sem sombra de privilégios de acesso prioritário concedido a clientes conhecidos, como notícias publicadas haviam dado como sendo vício da casa. Pelo contrário: constatou-se um respeito absoluto pela ordem das reservas e até uma abertura imediata para aceitar uma pessoa a mais, face à marcação feita. Por fim, meia hora depois da hora marcada, lá chegou a nossa vez. Síntese: sala simples mas agradável, lista bem construída (e renovada, face ao que conhecia), carta de vinhos apenas razoável, serviço muito delicado e competente, uma comida excelente, preço final nada especulativo e aceitável para a zona e período do ano. A irritação inicial desvanesceu-se, por completo. Saímos muito satisfeitos. Para o ano, comigo furioso, uma vez mais, pela dificuldade no contacto, lá voltaremos. À Dona Bia, na Comporta.

11.6.20

Depois do confinamento: que vivam os restaurantes!

Pelas experiências que tenho tido, os restaurantes portugueses são hoje, a grande distância, dos lugares públicos mais seguros, em termos de saúde, que se podem frequentar.

Sem uma única exceção, estes dez restaurantes a que já fui mostraram um elevado sentido de responsabilidade, sabendo além disso manter, praticamente sem exceção, o seu nível de serviço e qualidade.

Aqui ficam registados os nomes dessa dezena de casas, pela ordem exata por que as visitei, cada uma com brevíssimas notas.

Acho que é justo que os clientes voltem a frequentar os nossos restaurantes, por forma a eles poderem garantir a sua continuidade.

Os restaurantes fazem parte do nosso património como sociedade.


Alfoz
Avenida dom Manuel I
Alcochete
Tel. 212 340 668

Foi a minha primeira experiência de visita a um restaurante, depois do confinamento. Devo dizer que estranhei um pouco a frieza sanitária do local, mas viviam-se ainda os primeiros dias da retoma de atividade. Não consegui sequer apreciar bem o que comi, que não guardei na memória. Mas o Alfoz foi sempre uma boa experiência e é um belo espaço. A regressar.



Clube Naval de Lisboa
Avenida de Brasília
Lisboa
Tel. 213 636 014

O primeiro andar arejado é, há muito, a minha zona preferida deste restaurante sobre o rio Tejo, com peixe magnífico. Num fim de tarde de verão, é um local soberbo e agradável para se estar.



Solar dos Duques

Rua Almeida e Sousa, 58
Lisboa
Tel. 213 872 674

A Petra continua com uma lista com a qualidade de sempre. O Solar, que é, de há muito, uma referência em Campo de Ourique, tem sabido manter uma qualidade sustentada. Sou um freguês regular. Desde que reabriu, já fui lá duas vezes. Tudo impecável.



Nobre
Avenida Sacadura Cabral, 53
Lisboa
Tel. 217 970 760

A Justa e o José Nobre conseguiram atravessar esta crise com o recurso ao “take away”, como tantas casas fizeram. Agora, com o seu excelente espaço aberto, só aguardam mais clientes. A lista mantém-se, felizmente, a mesma, sempre com as surpresas diárias. A qualidade também permanece. O Nobre tem-me como cliente certo.



Tribeca
Avenida Serrana, 5
Serra d’El Rei (próximo de Peniche)
Tel. 262 909 461

O casal Frazão Gomes mantém, desde há anos, esta excelente Brasserie, com uma lista inteligente e um serviço de uma extrema atenção. Curiosamente, tinha passado por lá nas vésperas da pandemia. Regressei uma semana depois da abertura. Tudo impecável, como sempre, “back to business”! Quem dera que o Tribeca estivesse mais à mão!



Imperial de Campo de Ourique

Rua Correia Teles, 67
Lisboa
Tel. 213 886 096

A minha “cantina” dos sábados, à espera do bacalhau à minhota que a dona Adelaide me prepara, já reabriu. O João Gomes e o filho Nuno asseguram a sala, simples no mobiliário e na decoração, mas com uma inexcedível simpatia. Que falta me fazia já a Imperial!



Pousada de Alcácer do Sal
Alcácer do Sal
Tel. 265 613 070

No passado fim de semana, jantei por lá duas vezes, logo após a reabertura. Sentia-se ainda a falta de ritmo do restaurante, mas a simpatia e a boa vontade estavam por toda a parte, a compensar as deficiências. Regras de higiene impecáveis! Uma das boas Pousadas portuguesas! Diz-lhes quem as conhece todas! 


Cais da Estação

Avenida General Humberto Delgado, 16
Sines
Tel. 269 636 271

Um belo espaço, com serviço atento. Embora com boa apresentação do prato, não terei tido sorte no que escolhi. Preços razoáveis, nomeadamente na carta de vinhos. Serviço atento. Um local a rever.



La Tagliatella

Parque das Nações
Lisboa
Tel. 218 952 018

Raramente escolho um restaurante ao acaso, numa rua por onde caminho, sem reserva prévia. Mas ali estava uma esplanada simpática, com mesas livres, numa bela manhã. E ficámos. Comemos umas massas italianas que, sem estarem deslumbrantes, eram harmónicas com o preço.



Clube dos Jornalistas
Rua das Trinas, 129
Lisboa

É na minha vizinhança e, no entanto, já por lá não ia há muito tempo. Comemos lindamente, naquele espaço um pouco atípico, uma casa com um jardim onde, há muitos anos, ia com alguma regularidade. Agora aberto todos os dias, vou voltar em breve a este excelente Clube dos Jornalistas. Ah! E está aberto todos os dias! 

10.1.20

"Evasões"


A revista "Evasões" publica hoje o seu nº 250.

Trata-se de uma revista semanal com uma excelente qualidade de escrita e imagem, distribuída gratuitamente com o "Jornal de Notícias", à sexta-feira, e vendida separadamente nos restantes dias, por um preço extremamente acessível.

Sou um fã da "Evasões", confesso. Em especial, por nela escrever Fernando Melo, um dos mais sabedores críticos gastronómicos da nossa praça, cujas recomendações, de restaurantes e vinhos, nunca frustraram as minhas expetativas. Mas a "Evasões" tem-me ajudado a descobrir muito mais, nas minhas peregrinações pelo país.

Por alguns anos, eu próprio escrevi na "Evasões" uma modesta crónica de "gastrófilo". Depois, um dia, pedi escusa à minha "chefe", Catarina Carvalho, responsável pela revista, e saí discretamente de cena. O tempo não me chegava para tudo. Hoje sou apenas um leitor da "Evasões". Mas atento!

Um abraço de parabéns à equipa da "Evasões"!

29.11.19

Três dicas

Quando por aqui coloquei, há semanas, algumas despretensiosas notas sobre restaurantes da minha estimação, recebi algumas sugestões que entendi dever seguir. Tal como o Augusto Gil diz na “Balada da Neve”, fui ver...


Fui ver, por sugestão de Catarina Portas, o novo “Pap’Açorda”, no andar cimeiro do Mercado da Ribeira, em Lisboa. Como não acho desamasiada graça ao “conceito” do Mercado, porque a minha ideia de restaurantes não é bem aquilo (sou um conservador, eu sei!), ainda não tinha visitado o sucessor do “Pap’Açorda” do Bairro Alto. Erro meu! O novo restaurante é um belo espaço, com um serviço muito profissional, uma lista bem construída e uma carta de vinhos acertada. As mesas do corredor são um pouco “solitárias” e frias, mas é a geografia do espaço que a tal obriga. Tive pouca sorte no prato que escolhi, por razões que a pessoa que me serviu considerou atendíveis. Mas tudo o resto estava excelente e, decididamente, vou voltar. Obrigado pela dica, Catarina Portas.


Fiquei intrigado com uma sugestão, na Amadora (!), dada por Pedro Pestana Bastos: o “Colunas”. Mas lá fui. À primeira vista, o espaço não impressiona, longe disso. É aquele modelo um pouco “standard” de restaurante de bairro, com madeiras e mesas incaraterísticas. Depois, olhando a lista e a carta de vinhos, percebe-se logo que estamos num mundo bastante sério de restauração competente, com uma lista de caça soberba. O serviço é de uma atenção cuidada, com a filha dos proprietários a dar-nos uma qualificada “lição” de enologia, com um profissionalismo raro. Não saí nada arrependido dessa incursão nessa Amadora bem “profissional”, embora, outra vez por azar meu, a minha opção de prato não tivesse sido a melhor. Em tudo quanto as outras pessoas pediram, foi magnífico. Vou regressar em breve ao “Colunas”.


Finalmente, há dias um desvio na A6 para ir a Évora experimentar o “Momentos“, que Miguel Bastos Araújo me tinha sugerido. Bela escolha! Uma “ardoise” imaginativa com boas sugestões, de que experimentámos o suficiente para percebermos que há por ali mão de mestre, que acabámos por conhecer pessoalmente, pessoa com experiência internacional que, não apenas é relevante para a mão culinária que tudo dirige, mas que igualmente introduz um cosmopolitismo no ambiente, que é um verdadeiro valor acrescentado para a terceira cidade gastronómica do país. Tirando o facto da temperatura dos pratos principais um pouco estar abaixo do desejável (a noite estava fria, reconheça-se), tudo o resto pareceu à altura da recomendação recebida.

Três belas dicas! Muito obrigado!

2.11.19

Regressei ao XL


O XL esteve muito na moda nos anos 90 (do século passado, como agora se diz). Lembro-me da dificuldade em arranjar mesa por lá, por esses tempos, da imagem muito “trendy” dos seus jantares, com notas regulares nas colunas sociais, o que era então um chamariz para certas pessoas. 

Tenho uma memória sempre positiva, embora não excecional, do restaurante, recordando a variedade das suas entradas, que ficaram famosas (ainda hoje essa lista é farta e a dos peixes e carnes, tal como a das sobremesas, é bastante cuidada, embora sem rasgos). O espaço das salas continua interessante e o facto (muito raro em Lisboa) de haver alguém para estacionar o nosso carro (fui de Uber) é uma clara mais valia. Com a “explosão” de restaurantes na capital, reparei que deixei de frequentar o XL há algum tempo, embora fosse tendo notícias (de boa fonte) de que continuava uma mesa estimável. Nem sequer uma espécie de terraço exterior, que vi em alguns Verões, me reatraia muito.

Ontem, sei lá bem porquê, decidi regressar. A casa está praticamente igual, o espaço envelheceu um pouco, o serviço é do estilo bastante “seco” (sem tocar o arrogante), mas correto. Talvez porque chegámos cedo (reservar às 20.30 é “madrugar”, na Lisboa noturna de hoje), o ”timing” da refeição funcionou à perfeição. 

Só ter um branco e um tinto “ao copo” (embora ambos bons) é, contudo, uma falha quase tão imperdoável como os copos virem para a mesa já cheios, sem sequer vermos a garrafa de onde foram servidos. 

Para o que mais importa, toda a comida estava excelente - das entradas aos pratos principais, até às sobremesas. Só não merece nota maior porque a apresentação dos pratos foi, em todos os casos, muito pouco criativa, de uma sobriedade demasiado excessiva para um preço que, não sendo barato, acaba por ser justo.

O XL continua bem e recomenda-se. Com um pouco mais de pundonor, este restaurante só para jantares poderia, com facilidade, subir uns furos na lista de mesas muito recomendáveis de Lisboa.

1.4.19

O Castiço


Ainda há boas surpresas em Lisboa, em matéria de restaurantes. Hoje tive uma. Depois de duas reuniões de trabalho na Baixa, um amigo propôs: “E se fôssemos ao Castiço?”. Nunca tinha ouvido falar! É no 81 da rua dos Sapateiros. Trata-se do típico restaurante tradicional de Lisboa, de apoio a quem está no comércio e serviços, de que a Baixa estava cheia aqui há uns anos, fora das três ruas “nobres”. As paredes têm azulejos, as mesas são simples, o serviço é a condizer. Pelo aspeto, podia ser uma casa de tradição galega, mas fui informado que os donos, bem como o simpático empregado que nos atendeu, são alentejanos. A lista, que não é tão curta quanto se poderia imaginar, tinha um bacalhau cozido (“com todos, não é?”) que estava excelente (“já não há rabo nem cabeça, só posta!”). Com vinho da casa, sobremesa (uma bela laranja, na falta de um melão que me dizem ser um cartão de visita) e café ficou tudo em 13 euros. Pelo que vi, a procura é muita. Ah! E não me pareceu haver turistas por lá! Vou voltar ao Castiço!

30.3.19

Gosto do “Nobre”!


Há muitos anos que me habituei a frequentar os poisos do casal Nobre - Justa e José Nobre. Comecei, como toda a gente, por aquele espaço histórico na Ajuda onde, nos anos 80 e 90, o Portugal político parava para almoçar, nas salas pequenas, bem ao jeito das conspirações que então estavam na ordem do dia. Depois, fui cliente do restaurante que tiveram na Expo, que creio ter sido uma aposta com prazo de validade. As coisas, a partir daí, por algum tempo, não correram como a família merecia. 

Um dia, vi a família Nobre regressar a um local com dignidade, junto ao Campo Pequeno. O nome da Justa Nobre, apoiada na cozinha pelas suas irmãs, começou a destacar-se no palco da gastronomia portuguesa, com um cada vez mais amplo reconhecimento da sua qualidade e, muito em especial, do seu esforço em dar evidência aos produtos da terra transmontana. E o “Nobre” do Campo Pequeno, dirigido com a elegância diplomática de sempre por José Nobre, começou a ganhar fama - eu diria mesmo, “Justa” fama! O cozido dos domingos no “Nobre” é um marco lisboeta.

O “Nobre” é hoje, em Lisboa, um dos meus restaurantes preferidos. Tem uma caraterística muito “confortável”: é seguro, constante, por lá come-se sempre bem. É barato? Não é, mas é bom. Quando um amigo estrangeiro me pergunta por dois ou três lugares para comer bem em Lisboa, o “Nobre” está sempre nessa lista.

A família abriu agora uma segunda casa, o “À Justa”, na calçada da Ajuda, perto do local onde ficou a casa original. É uma sala diferente, para outro tipo de clientela. Só posso desejar sorte à aposta.

Mais “modesto”, eu fico-me, com grande regularidade, pelo “Nobre” do Campo Pequeno. E ainda está por vir o dia em que me arrependa de por lá pousar! A “minha” mesa preferida é a da direita, na fotografia...

Assim, assim...


Fui lá jantar ontem. O serviço é muito agradável, as empregadas são bastante atenciosas. A anterior vez que lá fui não me tinha deixado uma particular impressão. Como gosto muito de restaurantes italianos, cuido sempre em dar um desconto ao “granel” que neles se cria, tentando perceber o que daquilo é mero teatro e o que resulta do endémico culto do improviso “típico”, mais ou menos profissionalmente conseguido. Como teste, por contraponto, à inevitável coreografia “solta” - em Roma, como é sabido, é ela de regra, em Florença parece-nos requintada, em Messina ou Palermo ou Siracusa ou Taormina aprendemos que é só displicente, em Turim é arrogante, em Milão tem dias (em especial, noites), em Trieste sofre dos “blues” balcânicos, em Ancona tem delírios adriáticos, em Bologna rimos, em Ravello a vista cega-nos, em Veneza afogamo-nos na conta, em Génova sonhamos, em Sienna ou San Gemignano esquecemos tudo, em Nápoles - bom, em Nápoles...! - há sempre esse “detalhe” que é a comida, a qual, as mais das vezes, até é bastante boa. Ontem, foi apenas assim-assim - desculpem a minha sinceridade. Um destes dias, porque um dia não são dias, para “re-checkar”, vou regressar ao “Il Matriciano”, o restaurante em frente do nosso parlamento. Repito: ontem, não tendo sido mau, mas olhando o elevado preço que paguei, confesso que estava à espera de um pouco melhor...

20.3.19

O “momento zero”


Ontem à noite, num restaurante, lembrei-me do Artur (Kiko) Castro Neves, um amigo que perdi há alguns anos, um homem com uma leitura da vida muito pouco comum, que pensava "fora da caixa" e que cultivava uma modernidade no seu olhar sobre as coisas que eu sempre invejei (e eu gabo-me sempre de nunca ter conhecido o sentimento da inveja). O Kiko era um homem do Porto, mas, na realidade, era um cidadão do mundo, de muitas artes e ideias, que, a espaços, aportava à Mesa Dois do Procópio, onde era sempre uma presença saudada e muito querida. (Quem o quiser conhecer melhor pode ver aqui: https://pt.wikipedia.org/wiki/Artur_Castro_Neves).

Costumava visitar-me em Paris (também o fez em Brasília), onde tinha estudado e trabalhado e onde, à época, ainda vivia a sua mãe. Um dia, foi por lá com a Isabel e convidou-nos para jantar num restaurante perto do Beaubourg. Era um restaurante americano (!), de que ele gostava, situado numa das ruas que tinham sobrado do desbaste feito na área, depois do fim do mercado Les Halles (que ainda conheci!), no início dos anos 70. Na minha memória restaurativa, a refeição, fosse pela sua qualidade objetiva, fosse pelo facto da conversa com o Kiko me ter feito esquecer o que tive sobre a mesa, não deixou marca impressiva. Recordo que era um local bastante movimentado, ruidoso e animado, de que deixo uma imagem. Mas tudo isso é o menos importante para o que aqui me convoca a escrita.

A refeição já ia avançada quando decidimos mudar de vinho, cansados da opção por um tinto do "novo mundo" que nos tinha sido impingido pelo empregado. Olhámos em volta, tentando "to catch the eye" de um dos fâmulos que, minutos antes, giravam pela sala. Qual quê! Ninguém aparecia!

Foi então que esse meu amigo se saiu com a exclamação: "Estamos no 'momento zero'!" Olhámos para ele, perplexos, desconhecedores do significado do comentário. Esclareceu-nos: "Desde há muitos anos que me convenci que, em todos os restaurantes, há, a certa altura, um 'momento zero'. Trata-se de um vazio momentâneo, que chega a durar minutos, durante o qual os empregados se somem, talvez para fumar um cigarro ou para outras pausas mais básicas, em que o patrão se recolhe por instantes ao escritório, em que o pessoal do balcão, por qualquer razão misteriosa, se eclipsa. Não há ninguém na sala! Ou, se acaso resta alguém, estão recolhidos em espaços inacessíveis, sempre de costas voltadas ou, mesmo se de frente, assumem um olhar vítrio e distante, neutralizados por um cansaço que os torna inoperacionais. É um 'momento' que normalmente acontece quando a refeição já vai adiantada, sem um novo turno de clientes no horizonte, em que se caminha para as derradeiras sobremesas. Ah! E então na altura dos cafés é uma tragédia: é quando geralmente acontecem os grandes 'momentos zero'!"

O tempo que esse amigo demorou a explicar-nos a teoria do "momento zero", que já tinha testado pelos muitos mundos que visitou - o "momento zero" é transversal a todas as civilizações gastronómicas, note-se - e que afirmou com a sabedoria cristalina de quem, como ele, vivia então em frente do palácio de Cristal, acabou por ser suficiente para que um empregado surgisse, finalmente, ao fundo, e, face ao agitar sedento dos nossos braços, nos trouxesse um "pichet" de aceitável "rosso" italiano, para substituir o australiano quer eu caíra na asneira de aceitar no início. O "momento zero" acabara.

Ontem, no Bairro Alto, aqui em Lisboa, num certo restaurante (por sinal excelente, onde já não ia há anos), houve um desses "momentos zero". Por vários minutos, não consegui pedir outra garrafa de um tinto razoável de Arcossó (terra da minha bisavó materna, por sinal).

E, nesse instante, lembrei-me do Kiko. Depois, senti-me culpado por ter sido por um motivo tão fútil que a memória desse excelente amigo me ocorreu. Mas acho que ele não se importaria e que, a propósito do vinho escolhido, teria, com certeza, uma história para contar. Como eu agora tive, ainda graças a ele.

17.3.19

“Casas do Bragal”


Sem GPS torna-se um pouco difícil encontrar estas “Casas”, um improvável restaurante perdido no meio de um bairro residencial nos arredores de Coimbra. É uma moradia como muitas outras mas, lá chegados, sentimo-nos verdadeiramente em casa, porque estamos, de facto, numa residência de família. A sala, com muito bom gosto, começa por uma zona de sofás, com livros a toda a volta, indiciando que estamos em terrenos de gente com óbvia dimensão cultural. É separada por um murete da zona de refeições, que são da responsabilidade de Manuela Cerca, uma antiga jornalista, que discretamente nos apoia lá de dentro, da cozinha que dirige. Somos recebidos por Eugénio Martins, uma figura com um singular percurso intelectual, também autor das pinturas que enchem as paredes. É ele que tudo nos vai aconselhar, das bebidas aos pratos. Estes variam muito ao longo da semana, tornando a refeição sempre num “happening”, que acaba numa imperdível mesa de doces. Experimentem e verão que não se arrependem! Eu regresso lá sempre com gosto, como ainda ontem fiz.

11.3.19

Os clássicos do Porto


O prato é do Antunes, no Bonjardim. 

Um clássico do Porto, como o são, em registo diferente, o Líder, nas Antas, a Nanda, na rua da Alegria, a Cozinha do Manel, no Heroísmo, a (renovada) Adega de São Nicolau, na Ribeira, o Rápido, em São Bento ou o Aleixo, em Campanhã. E muitos mais! 

Grande Porto!

9.2.19

As estrelas de Bragança




Durante muitos anos, para quem era da minha terra, de Vila Real, a cidade de Bragança quase não existia. A estrada para lá era difícil, as curvas de Murça exigiam, no final, que se bebesse um quarto de Pedras na “Mira”, para atenuar o enjoo, quando, a caminho, se parava em Mirandela, para nos abastecermos das alheiras da Adelina. Às vezes, no percurso, comia-se (e ainda se come bem) no “Maria Rita”, no Romeu, ou, em Macedo, na saudosa “Estalagem do Caçador”, com uma inesquecível e bizarra decoração. Fora essa jornada forçada, que raramente fazia parte dos nossos percursos turísticos, Bragança era apenas o caminho para Espanha (e, em especial, para França), via Quintanilha e Zamora.

Recordo que se chegava a Bragança sempre arrasado, com a vista do castelo (ela aí está!). Era uma terra muito fria no inverno, onde nos cruzávamos com gente de samarra, e uma brasa infernal no verão, com aquelas terras e gentes a viverem uma injusta distância do mundo, que só as estradas do défice e da democracia viriam a atenuar. Vá lá, depois de arribados, havia por ali a simpática Pousada de São Bartolomeu, com uma lareira magnífica. Mas, na sala ao lado, sempre se jantou apenas assim-assim.

Onde se comia em Bragança, nesses tempos dos anos 70? Lembro-me apenas do “Lá em casa”, com coisas de caça, e do “Solar Bragançano”, naquele primeiro andar com ar de pensão de província, junto à Sé, onde se conversava sobre vinhos (pouco variados, então) com o patrão. No resto, que me perdoem, a cidade era um verdadeiro deserto culinário. Um dia, chegou-me a informação de que, fazendo uns quilómetros mais, em Gimonde, o “Dom Roberto” apresentava algumas coisas simpáticas. Ao lado, surgiu depois o “Quatro”. Hoje também há por lá o “Abel”, com excelente posta. 

Mas voltemos a Bragança. Tudo mudou por ali (por aqui, porque hoje estou em Bragança!). A cidade tem hoje um imenso orgulho na renovada Pousada, onde funciona o restaurante do Óscar Gonçalves, como o seu irmão e escanção António Luis a dirigir superiormente a sala. Trata-se do “Restaurante G”, que há semanas obteve uma esplendorosa estrela do Guia Michelin. Para mim, que assisti, ano após ano, à construção desse sucesso, foi uma imensa alegria. E espero que o tenha sido também para Bragança (a medalha de ouro da Câmara Municipal não deve tardar, se é que já não saiu), como o é para todo o Trás-os-Montes. 

Esta aventura do “Restaurante G” nasceu de um outro espaço da cidade, o magnífico “Geadas”, dos pais do Óscar e do Tó Luís, onde ambos fizeram a tarimba. O “Geadas”, que conheço há mais de duas décadas, continua excelente, com o Adérito e a dona Iracema nos comandos. 

Mas Bragança, em matéria de restauração, não parou. Ainda hoje, ao almoço, tive a felicidade de experimentar uma casa de primeira qualidade, que recomendo vivamente: a “Tasca do Zé Tuga”, dentro do castelo de Bragança, do chefe Luis Portugal. Posso dizer uma coisa muito sincera? Há já algum tempo que não comia tão bem! E disse isso ao chefe (quando não saio satisfeito, também digo). Um menu de butelo e um lombelo de se lhe tirar o chapéu, com sobremesas altamente criativas. Parabéns!

Mas há mais em Bragança! No centro da cidade, come-se bastantr bem no “Poças” e, fora, na estrada do Portelo, vale a pena uma visita ao “Javali”, num espaço rural muito simpático, e que vi hoje que já tem uma extensão dentro do castelo de Bragança, quiçá para fazer marcação à vizinha “Tasca do Zé Tuga”.

Uma lacuna, de que me penitencio: ainda não fui ao “Porta”, um espaço de cozinha contemporânea da cidade de que me falam muito bem. A vida não dá para tudo.

Amanhã regresso à minha Vila Real que - lamento ter de dizer - fica, nos dias de hoje, muito atrás de Bragança em matéria de restauração.

Hoje, deixemos as tristezas para trás. Fígados ao alto! E viva Bragança!