24.9.20

Depois do confinamento: “A Cozinha do Manel”


Nunca ali comi mal. Pensar isto de um restaurante, que se visita com alguma frequência, é algo que nos faz ter vontade de lá regressar. Há anos que o José António nos oferece uma cozinha genuína, segura, competente e profundamente nortenha, com um serviço agradável. Porque, nos últimos anos, por razões profissionais, me hospedo no Porto num hotel logo ali ao lado, visitar a “Cozinha do Manel” tornou-se para mim num hábito, num bom vício. E há que notar que, num dos extremos daquela rua do Heroísmo, havia a tentação do polvo no “Aleixo”, agora definitivamente fechadoEm tempos de pandemia, existe a obrigação de apoiar, com a nossa visita, os bons restaurantes de que gostamos. Como é a Cozinha do Manel.

23.9.20

Depois do confinamento: “Gambrinus” ( Lisboa)


A primeira vez que entrei no Gambrinus, em tempo de pandemia, fez-me alguma impressão, confesso. Aquele é um espaço que, à partida, não rima com este tempo estranho. Mas, logo de seguida, ficou para mim muito claro que, por ali, nada de essencial tinha mudado. A elegância do serviço, a qualidade segura do que a lista nos oferece, o conselho avisado sobre o vinho, tudo isso estava ali por inteiro. Um bom restaurante sabe que tem de saber resistir a tempos exigentes. Por isso, as mesas estão mais distantes, há alguns acrílicos separadores discretos, o escrúpulo do rigor sanitário levou o Gambrinus a criar caixas de cartão, com o “logo” da casa, onde nos chegam os talheres. Nada falha, por ali. A atenção de Octávio Ferreira e a simpatia do restante pessoal conseguem manter o Gambrinus no seu nível de sempre. Esta é uma casa que nunca se perde.

22.9.20

Depois do confinamento: “Casa d’Armas (Viana do Castelo)


Quando vi nascer o “Casa de Armas”, ali perto do rio, numa casa senhorial de Viana do Castelo, que fazia parte do meu cenário de infância em férias, fiquei esperançado em que o restaurante pudesse contribuir para dar um abanão gastronómico a uma cidade que, no passado, nunca foi conhecida por ter grandes expoentes de restauração. Era um tempo em que, à parte a oferta tradicional e segura do “Laranjeira”, que sempre foi a minha “cantina” vianense de estimação, com o surgimento (que acabou por ser efémero) do “Cozinha das Malheiras” e a graça inicial do “Maria de Perre”, éramos muitas vezes tentados a dar uma saltada ao “Camelo”, a Leste, ou à “Mariana”, a Norte. Às vezes, nos primeiros tempos, a comida da “Casa d’Armas” pareceu-me demasiado pesada, outras vezes, a relação qualidade-preço causava-me algumas dúvidas. Tudo isso passou. Hoje, não tenho dúvidas nenhumas: frequento e recomendo a “Casa d’Armas”. É um expoente nas mesas da cidade. Está-se a comer ali muito bem, com o grande profissionalismo do serviço de sala que sempre foi apanágio da casa, o que proporciona refeições memoraveis.

21.9.20

Depois do confinamento: “Poleiro” (Lisboa)


Quando, em 1985, chegado de posto em Angola, fui viver para perto do Campo Pequeno, alguém me disse maravilhas de um restaurante que tinha acabado de abrir, na rua de Entrecampos - o Poleiro. Eram dois irmãos Martins: o Manuel, a chefiar a cozinha, e o Aurélio, a dirigir a sala, então minúscula (não chegava a 30 lugares; depois aumentou apenas um pouco mais). A oferta inicial era eclética: havia espetadas madeirenses e comida minhota, por exemplo. O Aurélio, nos vinhos, converteu-se num constante descobridor de coisas novas e excelentes.

Por muitos anos, o Poleiro foi um “caso” numa restauração lisboeta que estava então muito longe de ter o leque de diversidade que hoje tem. Havia filas à porta. Ao almoço, era o mundo da política, do jornalismo, das empresas. À noite, eram casais e pequenos grupos. As reservas eram feitas com grande antecedência. Havia dias “impossíveis”.

Vivendo a cinco minutos a pé, tornei-me, de um regular frequentador, num bom amigo da casa. E já lá vão 35 anos. Noites houve em que o Aurélio me dizia, pelo telefone: “Pode ir descendo, que a sua mesa está quase pronta”, depois da rodada anterior. E, lá chegado, sabia ter à minha espera os peixinhos da horta e um belo queijo amanteigado, que ainda hoje vejo figurar por detrás dos níveis de colesterol das minhas análises. Grandes noitadas, com a família e amigos, passei no Poleiro.

Quem me conhece sabe que fiz sempre, por todo o lado, imensa “propaganda” do Poleiro. Não por ter a sua gente por amiga, mas porque achava, e continuo a achar, que por ali se servia e serve uma das mais genuinas cozinhas de Lisboa. Sem quebras, sem cedências, sem recuos na qualidade dos produtos. 

Hoje, como é da lei da vida, os dias do “Poleiro” não são os mesmos desse tempo, somada agora a pandemia a tudo o resto. Há muitos concorrentes, diversas ofertas gastronómicas, modas a prevalecerem. Mas o Poleiro ali está, impecável no que nos propõe, como ainda há muito pouco tempo tive ocasião de comprovar, numa visita que fiz à minha “cozinha”, como o Pedro d’Anunciação escreveu, há quase 15 anos, num artigo numa revista que encontrei por lá encaixilhado e de que aqui deixo imagem para memória presente.

20.9.20

Depois do confinamento: “Solar dos Pintor” (Manjoeira)


Não, não há erro nenhum de concordância no nome deste restaurante: é assim mesmo. É na Manjoeira, passando A-das-Lebres, depois de Loures. Fui lá pela primeira vez na semana passada, voltei lá ontem. A Dona Áurea, que dirige a cozinha, prepara uns petiscos de grande categoria, mudando a ementa de dia para dia. A garrafeira é sensacional e a relação qualidade/preço é do melhor que tenho encontrado. Se prometerem deixar sempre uma mesa para mim, podem lá ir. À confiança! 

19.9.20

Depois do confinamento: “Galito” (Lisboa)


Há alguns restaurantes que servem boa comida alentejana em Lisboa. Mas só há uma única casa em Lisboa que, verdadeiramente, pode ser qualificada como sendo um restaurante 100% alentejano: o “Galito”. O Henrique, com mão de mestre e atenção pelos clientes, seguindo a tradição da sua mãe, a saudosa D. Gertrudes, continua a oferecer, ali para as bandas do Colombo e do Colégio Militar, uma cozinha genuína e de muita qualidade. Uma culinária que vem de longe, da Aldeia da Serra, na serra da Ossa, entre o Redondo e Extremoz, onde nasceu o primeiro “Galito”, perto do “Chana do Bernardino”, que por lá continua a operar. Depois, houve, na Pontinha, o “Barrote Atiçado”, que coincidiu, pelo menos, com a primeira das três encarnações deste “Galito” (onde sou cliente desde sempre), a última das quais, espaçosa e arejada, é a atual. O “Barrote” ainda sobreviveu num centro comercial (única das casas que não conheci), deixando depois o “Galito” sozinho no terreno. E que bem que continua a comer-se no “Galito”! 

18.9.20

“Mesa Marcada”


“Mesa Marcada” é, desde há vários anos, o mais importante site de informação e comentário sobre restaurantes em Portugal. 

Dirigido por Duarte Calvão e Miguel Pires, por ali tem sido acompanhada a fantástica evolução que, nos últimos anos, se processou na oferta restaurativa nacional, com particular destaque para a área da “alta gastronomia”, onde Portugal começou a “dar cartas”.

Neste que está a ser um tempo muito difícil para os restaurantes portugueses, parte dos quais fortemente afetada pelo recuo do mercado turístico, o “Mesa Marcada”, com um belo e novo “endereço”, a que pode chegar clicando aqui, ajuda a manter a atenção sobre este importante setor económico nacional, do qual dependem muitos milhares de empregos e a sobrevivência de imensas famílias.

Os restaurantes portugueses estão a fazer um esforço notável, sem recuo na qualidade e no serviço, e tentando seguir, como regra geral, estritas condições sanitárias, para conseguirem atravessar este tempo de crise. 

Continuar a frequentar os restaurantes é ajudar a manter vivo um setor que faz parte da nossa cultura nacional. É imperativo não deixar que a conjuntura da pandemia destrua o processo de afirmação da identidade da gastronomia que hoje se pratica em Portugal, como internacionalmente é crescentemente reconhecido.

Parabéns ao “Mesa Marcada” por ter tido o sentido de responsabilidade de saber renovar-se, precisamente neste tempo complexo e exigente.

14.8.20

Jantar

 

Tínha passado por lá, há dias, para reservar uma mesa para jantar. Havia uma boa recordação da última visita àquele restaurante. Imagino que apenas nesta época, a casa, pura e simplesmente, não atende o telefone. Leu bem: não aceita telefonemas. Uma imensa deselegância para com os clientes. À hora exata, nem mais um minuto, chegámos. “Vão ter de esperar”. Mau, mestre! As coisas começavam a descarrilar. Se fosse em Lisboa, ter-me-ia ido embora. Há muito que decidi já não tenho idade nem paciência para ficar à espera, à porta de um restaurante, depois de ter sido fixada uma determinada hora, com antecedência. Mas aqui, numa aldeia perto da praia, com tudo o resto, em quilómetros em volta, garantidamente cheio ou sem qualidade, assomou-me uma réstia de paciência comodista, adocicada por um gin tónico (onde terá surgido esta mania de o servir em incómodos copos, que parecem bolas de andebol!), para entreter o tempo. O atendimento, contudo, desde o primeiro momento, havia sido correto, nada arrogante, sem sombra de privilégios de acesso prioritário concedido a clientes conhecidos, como notícias publicadas haviam dado como sendo vício da casa. Pelo contrário: constatou-se um respeito absoluto pela ordem das reservas e até uma abertura imediata para aceitar uma pessoa a mais, face à marcação feita. Por fim, meia hora depois da hora marcada, lá chegou a nossa vez. Síntese: sala simples mas agradável, lista bem construída (e renovada, face ao que conhecia), carta de vinhos apenas razoável, serviço muito delicado e competente, uma comida excelente, preço final nada especulativo e aceitável para a zona e período do ano. A irritação inicial desvanesceu-se, por completo. Saímos muito satisfeitos. Para o ano, comigo furioso, uma vez mais, pela dificuldade no contacto, lá voltaremos. À Dona Bia, na Comporta.

11.6.20

Depois do confinamento: que vivam os restaurantes!

Pelas experiências que tenho tido, os restaurantes portugueses são hoje, a grande distância, dos lugares públicos mais seguros, em termos de saúde, que se podem frequentar.

Sem uma única exceção, estes dez restaurantes a que já fui mostraram um elevado sentido de responsabilidade, sabendo além disso manter, praticamente sem exceção, o seu nível de serviço e qualidade.

Aqui ficam registados os nomes dessa dezena de casas, pela ordem exata por que as visitei, cada uma com brevíssimas notas.

Acho que é justo que os clientes voltem a frequentar os nossos restaurantes, por forma a eles poderem garantir a sua continuidade.

Os restaurantes fazem parte do nosso património como sociedade.


Alfoz
Avenida dom Manuel I
Alcochete
Tel. 212 340 668

Foi a minha primeira experiência de visita a um restaurante, depois do confinamento. Devo dizer que estranhei um pouco a frieza sanitária do local, mas viviam-se ainda os primeiros dias da retoma de atividade. Não consegui sequer apreciar bem o que comi, que não guardei na memória. Mas o Alfoz foi sempre uma boa experiência e é um belo espaço. A regressar.



Clube Naval de Lisboa
Avenida de Brasília
Lisboa
Tel. 213 636 014

O primeiro andar arejado é, há muito, a minha zona preferida deste restaurante sobre o rio Tejo, com peixe magnífico. Num fim de tarde de verão, é um local soberbo e agradável para se estar.



Solar dos Duques

Rua Almeida e Sousa, 58
Lisboa
Tel. 213 872 674

A Petra continua com uma lista com a qualidade de sempre. O Solar, que é, de há muito, uma referência em Campo de Ourique, tem sabido manter uma qualidade sustentada. Sou um freguês regular. Desde que reabriu, já fui lá duas vezes. Tudo impecável.



Nobre
Avenida Sacadura Cabral, 53
Lisboa
Tel. 217 970 760

A Justa e o José Nobre conseguiram atravessar esta crise com o recurso ao “take away”, como tantas casas fizeram. Agora, com o seu excelente espaço aberto, só aguardam mais clientes. A lista mantém-se, felizmente, a mesma, sempre com as surpresas diárias. A qualidade também permanece. O Nobre tem-me como cliente certo.



Tribeca
Avenida Serrana, 5
Serra d’El Rei (próximo de Peniche)
Tel. 262 909 461

O casal Frazão Gomes mantém, desde há anos, esta excelente Brasserie, com uma lista inteligente e um serviço de uma extrema atenção. Curiosamente, tinha passado por lá nas vésperas da pandemia. Regressei uma semana depois da abertura. Tudo impecável, como sempre, “back to business”! Quem dera que o Tribeca estivesse mais à mão!



Imperial de Campo de Ourique

Rua Correia Teles, 67
Lisboa
Tel. 213 886 096

A minha “cantina” dos sábados, à espera do bacalhau à minhota que a dona Adelaide me prepara, já reabriu. O João Gomes e o filho Nuno asseguram a sala, simples no mobiliário e na decoração, mas com uma inexcedível simpatia. Que falta me fazia já a Imperial!



Pousada de Alcácer do Sal
Alcácer do Sal
Tel. 265 613 070

No passado fim de semana, jantei por lá duas vezes, logo após a reabertura. Sentia-se ainda a falta de ritmo do restaurante, mas a simpatia e a boa vontade estavam por toda a parte, a compensar as deficiências. Regras de higiene impecáveis! Uma das boas Pousadas portuguesas! Diz-lhes quem as conhece todas! 


Cais da Estação

Avenida General Humberto Delgado, 16
Sines
Tel. 269 636 271

Um belo espaço, com serviço atento. Embora com boa apresentação do prato, não terei tido sorte no que escolhi. Preços razoáveis, nomeadamente na carta de vinhos. Serviço atento. Um local a rever.



La Tagliatella

Parque das Nações
Lisboa
Tel. 218 952 018

Raramente escolho um restaurante ao acaso, numa rua por onde caminho, sem reserva prévia. Mas ali estava uma esplanada simpática, com mesas livres, numa bela manhã. E ficámos. Comemos umas massas italianas que, sem estarem deslumbrantes, eram harmónicas com o preço.



Clube dos Jornalistas
Rua das Trinas, 129
Lisboa

É na minha vizinhança e, no entanto, já por lá não ia há muito tempo. Comemos lindamente, naquele espaço um pouco atípico, uma casa com um jardim onde, há muitos anos, ia com alguma regularidade. Agora aberto todos os dias, vou voltar em breve a este excelente Clube dos Jornalistas. Ah! E está aberto todos os dias! 

10.1.20

"Evasões"


A revista "Evasões" publica hoje o seu nº 250.

Trata-se de uma revista semanal com uma excelente qualidade de escrita e imagem, distribuída gratuitamente com o "Jornal de Notícias", à sexta-feira, e vendida separadamente nos restantes dias, por um preço extremamente acessível.

Sou um fã da "Evasões", confesso. Em especial, por nela escrever Fernando Melo, um dos mais sabedores críticos gastronómicos da nossa praça, cujas recomendações, de restaurantes e vinhos, nunca frustraram as minhas expetativas. Mas a "Evasões" tem-me ajudado a descobrir muito mais, nas minhas peregrinações pelo país.

Por alguns anos, eu próprio escrevi na "Evasões" uma modesta crónica de "gastrófilo". Depois, um dia, pedi escusa à minha "chefe", Catarina Carvalho, responsável pela revista, e saí discretamente de cena. O tempo não me chegava para tudo. Hoje sou apenas um leitor da "Evasões". Mas atento!

Um abraço de parabéns à equipa da "Evasões"!

29.11.19

Três dicas

Quando por aqui coloquei, há semanas, algumas despretensiosas notas sobre restaurantes da minha estimação, recebi algumas sugestões que entendi dever seguir. Tal como o Augusto Gil diz na “Balada da Neve”, fui ver...


Fui ver, por sugestão de Catarina Portas, o novo “Pap’Açorda”, no andar cimeiro do Mercado da Ribeira, em Lisboa. Como não acho desamasiada graça ao “conceito” do Mercado, porque a minha ideia de restaurantes não é bem aquilo (sou um conservador, eu sei!), ainda não tinha visitado o sucessor do “Pap’Açorda” do Bairro Alto. Erro meu! O novo restaurante é um belo espaço, com um serviço muito profissional, uma lista bem construída e uma carta de vinhos acertada. As mesas do corredor são um pouco “solitárias” e frias, mas é a geografia do espaço que a tal obriga. Tive pouca sorte no prato que escolhi, por razões que a pessoa que me serviu considerou atendíveis. Mas tudo o resto estava excelente e, decididamente, vou voltar. Obrigado pela dica, Catarina Portas.


Fiquei intrigado com uma sugestão, na Amadora (!), dada por Pedro Pestana Bastos: o “Colunas”. Mas lá fui. À primeira vista, o espaço não impressiona, longe disso. É aquele modelo um pouco “standard” de restaurante de bairro, com madeiras e mesas incaraterísticas. Depois, olhando a lista e a carta de vinhos, percebe-se logo que estamos num mundo bastante sério de restauração competente, com uma lista de caça soberba. O serviço é de uma atenção cuidada, com a filha dos proprietários a dar-nos uma qualificada “lição” de enologia, com um profissionalismo raro. Não saí nada arrependido dessa incursão nessa Amadora bem “profissional”, embora, outra vez por azar meu, a minha opção de prato não tivesse sido a melhor. Em tudo quanto as outras pessoas pediram, foi magnífico. Vou regressar em breve ao “Colunas”.


Finalmente, há dias um desvio na A6 para ir a Évora experimentar o “Momentos“, que Miguel Bastos Araújo me tinha sugerido. Bela escolha! Uma “ardoise” imaginativa com boas sugestões, de que experimentámos o suficiente para percebermos que há por ali mão de mestre, que acabámos por conhecer pessoalmente, pessoa com experiência internacional que, não apenas é relevante para a mão culinária que tudo dirige, mas que igualmente introduz um cosmopolitismo no ambiente, que é um verdadeiro valor acrescentado para a terceira cidade gastronómica do país. Tirando o facto da temperatura dos pratos principais um pouco estar abaixo do desejável (a noite estava fria, reconheça-se), tudo o resto pareceu à altura da recomendação recebida.

Três belas dicas! Muito obrigado!

2.11.19

Regressei ao XL


O XL esteve muito na moda nos anos 90 (do século passado, como agora se diz). Lembro-me da dificuldade em arranjar mesa por lá, por esses tempos, da imagem muito “trendy” dos seus jantares, com notas regulares nas colunas sociais, o que era então um chamariz para certas pessoas. 

Tenho uma memória sempre positiva, embora não excecional, do restaurante, recordando a variedade das suas entradas, que ficaram famosas (ainda hoje essa lista é farta e a dos peixes e carnes, tal como a das sobremesas, é bastante cuidada, embora sem rasgos). O espaço das salas continua interessante e o facto (muito raro em Lisboa) de haver alguém para estacionar o nosso carro (fui de Uber) é uma clara mais valia. Com a “explosão” de restaurantes na capital, reparei que deixei de frequentar o XL há algum tempo, embora fosse tendo notícias (de boa fonte) de que continuava uma mesa estimável. Nem sequer uma espécie de terraço exterior, que vi em alguns Verões, me reatraia muito.

Ontem, sei lá bem porquê, decidi regressar. A casa está praticamente igual, o espaço envelheceu um pouco, o serviço é do estilo bastante “seco” (sem tocar o arrogante), mas correto. Talvez porque chegámos cedo (reservar às 20.30 é “madrugar”, na Lisboa noturna de hoje), o ”timing” da refeição funcionou à perfeição. 

Só ter um branco e um tinto “ao copo” (embora ambos bons) é, contudo, uma falha quase tão imperdoável como os copos virem para a mesa já cheios, sem sequer vermos a garrafa de onde foram servidos. 

Para o que mais importa, toda a comida estava excelente - das entradas aos pratos principais, até às sobremesas. Só não merece nota maior porque a apresentação dos pratos foi, em todos os casos, muito pouco criativa, de uma sobriedade demasiado excessiva para um preço que, não sendo barato, acaba por ser justo.

O XL continua bem e recomenda-se. Com um pouco mais de pundonor, este restaurante só para jantares poderia, com facilidade, subir uns furos na lista de mesas muito recomendáveis de Lisboa.

1.4.19

O Castiço


Ainda há boas surpresas em Lisboa, em matéria de restaurantes. Hoje tive uma. Depois de duas reuniões de trabalho na Baixa, um amigo propôs: “E se fôssemos ao Castiço?”. Nunca tinha ouvido falar! É no 81 da rua dos Sapateiros. Trata-se do típico restaurante tradicional de Lisboa, de apoio a quem está no comércio e serviços, de que a Baixa estava cheia aqui há uns anos, fora das três ruas “nobres”. As paredes têm azulejos, as mesas são simples, o serviço é a condizer. Pelo aspeto, podia ser uma casa de tradição galega, mas fui informado que os donos, bem como o simpático empregado que nos atendeu, são alentejanos. A lista, que não é tão curta quanto se poderia imaginar, tinha um bacalhau cozido (“com todos, não é?”) que estava excelente (“já não há rabo nem cabeça, só posta!”). Com vinho da casa, sobremesa (uma bela laranja, na falta de um melão que me dizem ser um cartão de visita) e café ficou tudo em 13 euros. Pelo que vi, a procura é muita. Ah! E não me pareceu haver turistas por lá! Vou voltar ao Castiço!

30.3.19

Gosto do “Nobre”!


Há muitos anos que me habituei a frequentar os poisos do casal Nobre - Justa e José Nobre. Comecei, como toda a gente, por aquele espaço histórico na Ajuda onde, nos anos 80 e 90, o Portugal político parava para almoçar, nas salas pequenas, bem ao jeito das conspirações que então estavam na ordem do dia. Depois, fui cliente do restaurante que tiveram na Expo, que creio ter sido uma aposta com prazo de validade. As coisas, a partir daí, por algum tempo, não correram como a família merecia. 

Um dia, vi a família Nobre regressar a um local com dignidade, junto ao Campo Pequeno. O nome da Justa Nobre, apoiada na cozinha pelas suas irmãs, começou a destacar-se no palco da gastronomia portuguesa, com um cada vez mais amplo reconhecimento da sua qualidade e, muito em especial, do seu esforço em dar evidência aos produtos da terra transmontana. E o “Nobre” do Campo Pequeno, dirigido com a elegância diplomática de sempre por José Nobre, começou a ganhar fama - eu diria mesmo, “Justa” fama! O cozido dos domingos no “Nobre” é um marco lisboeta.

O “Nobre” é hoje, em Lisboa, um dos meus restaurantes preferidos. Tem uma caraterística muito “confortável”: é seguro, constante, por lá come-se sempre bem. É barato? Não é, mas é bom. Quando um amigo estrangeiro me pergunta por dois ou três lugares para comer bem em Lisboa, o “Nobre” está sempre nessa lista.

A família abriu agora uma segunda casa, o “À Justa”, na calçada da Ajuda, perto do local onde ficou a casa original. É uma sala diferente, para outro tipo de clientela. Só posso desejar sorte à aposta.

Mais “modesto”, eu fico-me, com grande regularidade, pelo “Nobre” do Campo Pequeno. E ainda está por vir o dia em que me arrependa de por lá pousar! A “minha” mesa preferida é a da direita, na fotografia...

Assim, assim...


Fui lá jantar ontem. O serviço é muito agradável, as empregadas são bastante atenciosas. A anterior vez que lá fui não me tinha deixado uma particular impressão. Como gosto muito de restaurantes italianos, cuido sempre em dar um desconto ao “granel” que neles se cria, tentando perceber o que daquilo é mero teatro e o que resulta do endémico culto do improviso “típico”, mais ou menos profissionalmente conseguido. Como teste, por contraponto, à inevitável coreografia “solta” - em Roma, como é sabido, é ela de regra, em Florença parece-nos requintada, em Messina ou Palermo ou Siracusa ou Taormina aprendemos que é só displicente, em Turim é arrogante, em Milão tem dias (em especial, noites), em Trieste sofre dos “blues” balcânicos, em Ancona tem delírios adriáticos, em Bologna rimos, em Ravello a vista cega-nos, em Veneza afogamo-nos na conta, em Génova sonhamos, em Sienna ou San Gemignano esquecemos tudo, em Nápoles - bom, em Nápoles...! - há sempre esse “detalhe” que é a comida, a qual, as mais das vezes, até é bastante boa. Ontem, foi apenas assim-assim - desculpem a minha sinceridade. Um destes dias, porque um dia não são dias, para “re-checkar”, vou regressar ao “Il Matriciano”, o restaurante em frente do nosso parlamento. Repito: ontem, não tendo sido mau, mas olhando o elevado preço que paguei, confesso que estava à espera de um pouco melhor...

20.3.19

O “momento zero”


Ontem à noite, num restaurante, lembrei-me do Artur (Kiko) Castro Neves, um amigo que perdi há alguns anos, um homem com uma leitura da vida muito pouco comum, que pensava "fora da caixa" e que cultivava uma modernidade no seu olhar sobre as coisas que eu sempre invejei (e eu gabo-me sempre de nunca ter conhecido o sentimento da inveja). O Kiko era um homem do Porto, mas, na realidade, era um cidadão do mundo, de muitas artes e ideias, que, a espaços, aportava à Mesa Dois do Procópio, onde era sempre uma presença saudada e muito querida. (Quem o quiser conhecer melhor pode ver aqui: https://pt.wikipedia.org/wiki/Artur_Castro_Neves).

Costumava visitar-me em Paris (também o fez em Brasília), onde tinha estudado e trabalhado e onde, à época, ainda vivia a sua mãe. Um dia, foi por lá com a Isabel e convidou-nos para jantar num restaurante perto do Beaubourg. Era um restaurante americano (!), de que ele gostava, situado numa das ruas que tinham sobrado do desbaste feito na área, depois do fim do mercado Les Halles (que ainda conheci!), no início dos anos 70. Na minha memória restaurativa, a refeição, fosse pela sua qualidade objetiva, fosse pelo facto da conversa com o Kiko me ter feito esquecer o que tive sobre a mesa, não deixou marca impressiva. Recordo que era um local bastante movimentado, ruidoso e animado, de que deixo uma imagem. Mas tudo isso é o menos importante para o que aqui me convoca a escrita.

A refeição já ia avançada quando decidimos mudar de vinho, cansados da opção por um tinto do "novo mundo" que nos tinha sido impingido pelo empregado. Olhámos em volta, tentando "to catch the eye" de um dos fâmulos que, minutos antes, giravam pela sala. Qual quê! Ninguém aparecia!

Foi então que esse meu amigo se saiu com a exclamação: "Estamos no 'momento zero'!" Olhámos para ele, perplexos, desconhecedores do significado do comentário. Esclareceu-nos: "Desde há muitos anos que me convenci que, em todos os restaurantes, há, a certa altura, um 'momento zero'. Trata-se de um vazio momentâneo, que chega a durar minutos, durante o qual os empregados se somem, talvez para fumar um cigarro ou para outras pausas mais básicas, em que o patrão se recolhe por instantes ao escritório, em que o pessoal do balcão, por qualquer razão misteriosa, se eclipsa. Não há ninguém na sala! Ou, se acaso resta alguém, estão recolhidos em espaços inacessíveis, sempre de costas voltadas ou, mesmo se de frente, assumem um olhar vítrio e distante, neutralizados por um cansaço que os torna inoperacionais. É um 'momento' que normalmente acontece quando a refeição já vai adiantada, sem um novo turno de clientes no horizonte, em que se caminha para as derradeiras sobremesas. Ah! E então na altura dos cafés é uma tragédia: é quando geralmente acontecem os grandes 'momentos zero'!"

O tempo que esse amigo demorou a explicar-nos a teoria do "momento zero", que já tinha testado pelos muitos mundos que visitou - o "momento zero" é transversal a todas as civilizações gastronómicas, note-se - e que afirmou com a sabedoria cristalina de quem, como ele, vivia então em frente do palácio de Cristal, acabou por ser suficiente para que um empregado surgisse, finalmente, ao fundo, e, face ao agitar sedento dos nossos braços, nos trouxesse um "pichet" de aceitável "rosso" italiano, para substituir o australiano quer eu caíra na asneira de aceitar no início. O "momento zero" acabara.

Ontem, no Bairro Alto, aqui em Lisboa, num certo restaurante (por sinal excelente, onde já não ia há anos), houve um desses "momentos zero". Por vários minutos, não consegui pedir outra garrafa de um tinto razoável de Arcossó (terra da minha bisavó materna, por sinal).

E, nesse instante, lembrei-me do Kiko. Depois, senti-me culpado por ter sido por um motivo tão fútil que a memória desse excelente amigo me ocorreu. Mas acho que ele não se importaria e que, a propósito do vinho escolhido, teria, com certeza, uma história para contar. Como eu agora tive, ainda graças a ele.

17.3.19

“Casas do Bragal”


Sem GPS torna-se um pouco difícil encontrar estas “Casas”, um improvável restaurante perdido no meio de um bairro residencial nos arredores de Coimbra. É uma moradia como muitas outras mas, lá chegados, sentimo-nos verdadeiramente em casa, porque estamos, de facto, numa residência de família. A sala, com muito bom gosto, começa por uma zona de sofás, com livros a toda a volta, indiciando que estamos em terrenos de gente com óbvia dimensão cultural. É separada por um murete da zona de refeições, que são da responsabilidade de Manuela Cerca, uma antiga jornalista, que discretamente nos apoia lá de dentro, da cozinha que dirige. Somos recebidos por Eugénio Martins, uma figura com um singular percurso intelectual, também autor das pinturas que enchem as paredes. É ele que tudo nos vai aconselhar, das bebidas aos pratos. Estes variam muito ao longo da semana, tornando a refeição sempre num “happening”, que acaba numa imperdível mesa de doces. Experimentem e verão que não se arrependem! Eu regresso lá sempre com gosto, como ainda ontem fiz.

11.3.19

Os clássicos do Porto


O prato é do Antunes, no Bonjardim. 

Um clássico do Porto, como o são, em registo diferente, o Líder, nas Antas, a Nanda, na rua da Alegria, a Cozinha do Manel, no Heroísmo, a (renovada) Adega de São Nicolau, na Ribeira, o Rápido, em São Bento ou o Aleixo, em Campanhã. E muitos mais! 

Grande Porto!

9.2.19

As estrelas de Bragança




Durante muitos anos, para quem era da minha terra, de Vila Real, a cidade de Bragança quase não existia. A estrada para lá era difícil, as curvas de Murça exigiam, no final, que se bebesse um quarto de Pedras na “Mira”, para atenuar o enjoo, quando, a caminho, se parava em Mirandela, para nos abastecermos das alheiras da Adelina. Às vezes, no percurso, comia-se (e ainda se come bem) no “Maria Rita”, no Romeu, ou, em Macedo, na saudosa “Estalagem do Caçador”, com uma inesquecível e bizarra decoração. Fora essa jornada forçada, que raramente fazia parte dos nossos percursos turísticos, Bragança era apenas o caminho para Espanha (e, em especial, para França), via Quintanilha e Zamora.

Recordo que se chegava a Bragança sempre arrasado, com a vista do castelo (ela aí está!). Era uma terra muito fria no inverno, onde nos cruzávamos com gente de samarra, e uma brasa infernal no verão, com aquelas terras e gentes a viverem uma injusta distância do mundo, que só as estradas do défice e da democracia viriam a atenuar. Vá lá, depois de arribados, havia por ali a simpática Pousada de São Bartolomeu, com uma lareira magnífica. Mas, na sala ao lado, sempre se jantou apenas assim-assim.

Onde se comia em Bragança, nesses tempos dos anos 70? Lembro-me apenas do “Lá em casa”, com coisas de caça, e do “Solar Bragançano”, naquele primeiro andar com ar de pensão de província, junto à Sé, onde se conversava sobre vinhos (pouco variados, então) com o patrão. No resto, que me perdoem, a cidade era um verdadeiro deserto culinário. Um dia, chegou-me a informação de que, fazendo uns quilómetros mais, em Gimonde, o “Dom Roberto” apresentava algumas coisas simpáticas. Ao lado, surgiu depois o “Quatro”. Hoje também há por lá o “Abel”, com excelente posta. 

Mas voltemos a Bragança. Tudo mudou por ali (por aqui, porque hoje estou em Bragança!). A cidade tem hoje um imenso orgulho na renovada Pousada, onde funciona o restaurante do Óscar Gonçalves, como o seu irmão e escanção António Luis a dirigir superiormente a sala. Trata-se do “Restaurante G”, que há semanas obteve uma esplendorosa estrela do Guia Michelin. Para mim, que assisti, ano após ano, à construção desse sucesso, foi uma imensa alegria. E espero que o tenha sido também para Bragança (a medalha de ouro da Câmara Municipal não deve tardar, se é que já não saiu), como o é para todo o Trás-os-Montes. 

Esta aventura do “Restaurante G” nasceu de um outro espaço da cidade, o magnífico “Geadas”, dos pais do Óscar e do Tó Luís, onde ambos fizeram a tarimba. O “Geadas”, que conheço há mais de duas décadas, continua excelente, com o Adérito e a dona Iracema nos comandos. 

Mas Bragança, em matéria de restauração, não parou. Ainda hoje, ao almoço, tive a felicidade de experimentar uma casa de primeira qualidade, que recomendo vivamente: a “Tasca do Zé Tuga”, dentro do castelo de Bragança, do chefe Luis Portugal. Posso dizer uma coisa muito sincera? Há já algum tempo que não comia tão bem! E disse isso ao chefe (quando não saio satisfeito, também digo). Um menu de butelo e um lombelo de se lhe tirar o chapéu, com sobremesas altamente criativas. Parabéns!

Mas há mais em Bragança! No centro da cidade, come-se bastantr bem no “Poças” e, fora, na estrada do Portelo, vale a pena uma visita ao “Javali”, num espaço rural muito simpático, e que vi hoje que já tem uma extensão dentro do castelo de Bragança, quiçá para fazer marcação à vizinha “Tasca do Zé Tuga”.

Uma lacuna, de que me penitencio: ainda não fui ao “Porta”, um espaço de cozinha contemporânea da cidade de que me falam muito bem. A vida não dá para tudo.

Amanhã regresso à minha Vila Real que - lamento ter de dizer - fica, nos dias de hoje, muito atrás de Bragança em matéria de restauração.

Hoje, deixemos as tristezas para trás. Fígados ao alto! E viva Bragança!

1.9.18

Que chatice!

Ontem fui, num grupo, a um novo restaurante. Algumas das pessoas que iam comigo já lá tinham ido antes e faziam elogios à casa. O espaço, de facto, é muito interessante, muito bem decorado. O menu é original e bem construído e sente-se, na lista de vinhos, um cuidado pouco usual. O pessoal, embora escasso, é agradável e sabia explicar com profissionalismo o que por ali se servia. Preparei-me para jantar bem.

Depois, foi a refeição. Veio tudo a conta-gotas e, mais de uma hora depois de chegarmos, ainda não estava tudo na mesa. No que me tocou, aparte a tábua dos queijos (bem apresentada, mas com três variedades apenas), os peixinhos da horta estavam sensaborões e encharcados da fritura, as pataniscas eram uns matacões grossíssimos (devia sair um “decreto” a explicar, de uma vez por todas, que as pataniscas se querem sempre finas, com a massa a não disfarçar o peixe, e secas do óleo da frigideira), onde a custo se conseguia “pescar” o bacalhau. O arroz de feijão, que vinha a acompanhar, estava demasiado aquoso e com escasso sabor. Quem comeu arroz de couve com costelinhas, disse que estas estavam muito rijas. A tarte de maçã que pedi tinha uma massa de base muito dura, com uma textura inaceitável. Tudo estava, contudo, bem apresentado, diga-se. O preço foi muito razoável, se o não sujeitarmos à grelha de apreciação qualidade/preço.

O problema deste restaurante - que não vou nomear, para não travar o ensejo de uma possível melhoria - é, claramente, a cozinha. E a cozinha só melhora se se mudar quem por lá está. Não há aprendizagens nem práticas que curem essa “doença”, desculpem lá! 

É curioso que, a pouco mais de duzentos metros desta casa, abriu, há mais de um ano, um espaço da mesma natureza, também bem decorado, que padece de uma cozinha com idêntico mal, em pior. Naquele cado, acrescia então um serviço errático e pouco profissional.

Que pena que o saldo destes investimentos não seja o desejável, correspondendo ao esforço de quem colocou ali o seu dinheiro. Mas, contudo, espero que tenham muita sorte. Sem mim, claro!

(Este texto, sem o nome dos restaurantes, não serve para nada - dirão alguns. Não o tomem como uma crítica gastronómica, aceitem isto como um desiludido desabafo).

29.5.18

À dúzia é mais barato


Bocados (Ponte de Lima). É um pouco difícil de encontrar (rume para a Madalena, saindo depois da estrada numa bifurcação para a esquerda) este lugar excecional, onde a mão da Palmira e a simpatia do José António ajuda a sentirmo-nos em casa. O menu é o do dia, os pratos vários e sequenciais, a lista de vinhos evoluiu imenso. Os lugares são poucos, a reserva é mais do que obrigatória. Voltarei sempre que puder.

Nanda (Porto). Já por lá não ia há anos. Apeteceu-me que ali estivesse o meu amigo Rui Vieira Nery, porque aquela é a comida “das donas Adozindas”, que ele tão bem retratou num texto de antologia. Uma comida sólida, burguesa, sem arrebiques, numa sala simples, com serviço atencioso e pronto. Que bom que foi regressar à Nanda!

Solar dos Duques (Lisboa) - É uma das minhas “cantinas”, este espaço de Campo de Ourique. Quando, há meses, o vi trespassado para um casal de romenos, confesso que temi o pior, a descaraterização e a banalização. Enganei-me, e ainda bem! O casal, de extrema simpatia e atenção aos clientes, manteve a qualidade da casa, sem falhas, introduzindo mesmo algumas melhorias. Não tenho a menor queixa, das vezes que por lá tenho ido. Que se conserve assim!

Wish (Porto). O espaço era conhecido: o do antigo Oporto, na Foz, onde num ambiente de referências cinematográficas se comia bem, num lugar elegante. Esse mesmo espaço, com outra decoração, serve agora o Wish, que recupera a memória do Xis, um belo restaurante que o mar levou. A dimensão asiática permanece deste último, a lista renovou-se, o serviço é atento, a sala faz lembrar o não muito distante Cafeína. Não é barato, mas a relação qualidade/preço é boa.

Tasca da Linda (Viana do Castelo). A Linda tem vindo a alargar o seu espaço, no restaurante junto à fortaleza e ao cais, agora com uma nova entrada que deu relevo à sala principal. Continua a comer-se bem, com o peixe a presidir, num ambiente agradável, com bom serviço. Não sendo barato, o preço aceita-se pelo conjunto da oferta.

O Mattos (Lisboa). “As árvores morrem de pé”, dizia Maria Mattos numa das suas últimas prestações no Nacional. Este restaurante, ao lado do teatro que leva o seu nome, não só não morre como se mantém excelente. Faz parte de um conjunto de casas sólidas de que Lisboa felizmente ainda dispõe, acolhedoras, com ambiente solto, comida segura, bela garrafeira. Já foi maos barato, mas justifica os preços.

Cozinha da Avó (Covilhã). Há anos que tinha esta visita em agenda! Numa visita de trabalho à Covilhã, convidaram-me para almoçar neste simpático restaurante. Uma lista interessante, espaço amplo, se bem que não deslumbrante, uma lista de vinhos apreciável e uma gastronomia sólida. Ficou-me uma boa impressão. Tenciono voltar, quando puder.

Villas (Vila Real). (RESTAURANTE ENCERRADO) A geografia não favorece este bom restaurante que nasceu, não há muito tempo, sob a mão de um discípulo de Rui Paula. A sala, sejamos sinceros, é má, pouco confortável, com o mobiliário e a decoração a não ajudarem. Já por ali perdi a cabeça com os atrasos na cozinha, mas as coisas melhoraram e a qualidade da comida, com um toque de imaginação, compensa. Um restaurante a merecer melhor atenção aos vila-realenses.

Pousada do Marão (Amarante). Já lá não ia há anos. Recebeu-nos a simpatia da Elsa, que, há décadas, espalha o seu sorriso pela sala e pelos clientes. Seguimos o seu conselho. Comeu-se apenas razoavelmente bem. Se acaso estiver no IP4, entre Amarante e Vila Real, este uma opção possível. O espaço, contudo, perdeu muito do seu encanto, com o charme antigo hoje diluído numa decoração pindérica. É que o “template” das Pousadas foi-se! É a vida daquela que foi uma das primeiras Pousadas de Portugal.

Pousada de Óbidos (Óbidos). E, por falar em Pousadas, um registo para um jantar, há dias, nesta que foi a primeira pousada histórica (em edifício histórico adaptado) do país. O espaço é lindíssimo, a comida bastante aceitável, o serviço atento e muito simpático, embora, num sábado à noite, ter dois funcionários para duas salas com muitas mesas seja uma receita que só interessa à contabilidade. O preços são altíssimos, dos pratos aos vinhos. A relação qualidade/preço, atento o conjunto, é muito pouco satisfatória.

Viveiros Atlântico (Ribamar-Ericeira). É um lugar com aquele ambiente de marisqueira muito típico da costa próxima de Lisboa. E está tudo dito! A oferta é bastante razoável, embora com altos e baixos na qualidade das espécies servidas. O serviço é muito atento, simpático, embora sem mesuras, o que é bom. Gosto de passar por ali e, com um bom vinho branco em apoio, oferecer-me uma dose generosa de colesterol marinho. Com preço adequado.

Trás da Orelha (Torres Vedras) - Já conheci três endereços a este bom restaurante da zona saloia. Agora, fica depois da segunda rotunda na estrada para Torres, saindo da A8 em Torres Sul. É uma comida de raiz alentejana, mas com muitas outras contribuições regionais à mistura. O espaço é rústico, o serviço eficaz, tornando-se uma excelente opção para almoço a quem vai para o norte ou de jantar a quem dele vem (desde logo, eu, que raramente ando pela A1 e prefiro a placidez da A8+A17). Preço “em conta”.



26.4.18

As espanholas - estão caras mas bem boas!


Não me recordo da primeira vez que comi no “31 da Armada”, no largo da Armada, a dois passos do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Mas deve ter sido ainda em 1975, na descoberta que eu então fazia das paragens das redondezas onde poderia amesendar à hora de almoço, acabado de entrar na carreira diplomática.

A verdade é que ninguém chamava esse nome ao restaurante: era conhecido como “as espanholas”, provavelmente por ser propriedade ou gerido por senhoras daquela origem. Passei por ali, com pouca regularidade, nesses anos. Depois, só voltei muito a espaços, a penúltima vez das quais para jantar, num domingo, numa casa quase deserta. As memórias da comida das “espanholas” não são de molde a trazer-me lembranças notórias. Mas, podendo estar enganado e a ser influenciado pela vizinhança ibérica, creio que por lá havia umas Lulas à sevilhana. Mas isso foi há muitos anos.

Ontem passei por lá. Havia estacionamento e uma mesa “à fresca”, no belo 25 de abril que este ano nos saiu em boa rifa. Notei que o restaurante teve uma forte “renovada”. Está irreconhecível. Mudou em tudo. Lá dentro, na decoração, não gostei, achei pesado, algo pretencioso. Mas isso é o menos.

Cá fora, na esplanada, as mesas são agora metade do que eram, sendo muito difícil acomodar as coisas. Os preços, esses, subiram três vezes aquilo de que me lembrava.

E a comida, perguntará o leitor prático? Essa, meus amigos, melhorou quatro ou cinco vezes mais. Comi uma Vitela Branca maturada com Linguini de Trufa que foi das melhores coisas que me caíram no prato desde há várias semanas. O serviço, onde não descortinei portugueses, é muito simpático, embora um tanto errático. Vou voltar? Talvez, mas é um local um pouco caro, muito para a vaga de turistas, embora tenha um menu executivo para almoços.

Nota à margem: bem perto, a cem metros, fui à Gleba, uma fábrica de pão. Que maravilha! Não percam!


22.4.18

Algum Minho à mesa



Um fim de semana no Minho deu para algumas incursões gastronómicas. Aqui ficam telegráficas notas das visitas, para quem estiver interessado:

CENTURIUM (Braga)

É um edifício antigo, bem modernizado, na Avenida Central de Braga. Uma lista “a puxar” para o caro, com alguma ambição. Uma experiência que, contudo, ficou um pouco aquém da expetativa. Nota para um serviço muito atento e profissional.

EL OLIVO (Braga)

No Hotel Melià, em Braga, há um excelente restaurante! Já me tinham dito e confirmei. Carta com alguma diversidade, com hipóteses de “defesa” em matéria de preços. Vou voltar.

RETIRO DA CABREIRA (Vieira do Minho)

Não tivemos sorte com a ocasião. A sala estava deserta, nesta moradia a escassos quilómetros de Vieira do Minho. Lista inteligentemente curta, mas com o essencial. Cometemos um erro: pedir cabrito à noite, quando é sabido que ele se prepara de manhã. Mas vamos voltar um dia, porque a casa promete, as entradas eram ótimas e a carta de vinhos simpática.

O ABOCANHADO (Campo do Gerês)

Andava há anos para visitar este belíssimo espaço em Bufre, no meio do Gerês, com bela vista sobre a barragem de Vilarinho das Furnas. Para se lá chegar é preciso andar um pouco, bem adiante de São Bento da Porta Aberta. Foi um almoço simpático embora não deslumbrante. A lista é muito bem construída, os vinhos são bons (embora um tanto carotes), o serviço agradável. 

VICTOR (São João de Rei, Póvoa de Lanhoso)

Comer outra coisa que não seja o bacalhau seria sempre um sacrilégio no Victor. Com a atenção costumeira do patrão, provámos um “fiel” pescado, demolhado no ponto, de boa qualidade. Antes, provei aqueles que considero terem sido os melhores bolos/pastéis de bacalhau que comi em toda a minha vida (e sou um “habitué” do produto). O senhor Victor tem a tese de que, sendo os ovos do seu quintal, isso faz toda a diferença. É capaz de ter razão. O que importa é que se comeu muito bem, como sempre me aconteceu por ali, há muitos e muitos anos.

POUSADA DA CANIÇADA (Caniçada, Gerês)

Há muito que se deixou de comer barato nas pousadas mas, em compensação, raramente tenho tido más experiências, nos últimos anos, em qualquer daquelas que visitei. Foi agora o caso da Caniçada, onde pernoitei por uns dias (isto diz-se?). Pratos bem apresentados, saborosos, com produtos de qualidade, revelando que quem está na cozinha tem “métier”. O serviço foi muito profissional, não deixando de ser acolhedor e simpático.

CANEIRO (Arco de Baúlhe)

Era um endereço que trazia em agenda, há anos. O Arco do Baúlhe, a dois passos da A11, não fica muito “à mão de semear”, mas fiz um esforço para lá passar. O restaurante está modernizado, “confortabilizado” sem arrebiques excessivos, com um serviço muito atento e um ritmo bem oleado. Comemos lindamente, com um preço muito aceitável, vinhos “em conta”. Vou contar aos amigos e voltar quando puder.

18.2.18

Lisboa - 70 mesas que perdi


Nos dias de hoje, há ótimos restaurantes em Lisboa. Melhor: nunca Lisboa esteve servida por tanta oferta, tão diversa e de qualidade, em matéria restaurativa. Sinto mesmo a tentação de dizer que não “alimento” a mais leve dúvida sobre isso...

Todas as nostalgias valem apenas o que valem, até porque, no passado, muito provavelmente, o nosso grau de exigência era menor e o paladar menos apurado. Isso não evita que tenha saudades de alguns restaurantes lisboetas que já desapareceram, onde passei muito boas horas - a comer, a conversar, a beber, enfim, a viver. 

Aproveitando uma nota deixada, há dias, no Facebook, por Luís Pinheiro de Almeida, alguém que se dedica a esse impecável serviço público que é descobrir sítios de “bem comer” a preços razoáveis, vou fazer aqui um bosquejo rápido por mais de meia centena dessas boas mesas perdidas (deixo as más ou “esquecíveis” para outros voluntários), de muito diferente natureza, de uma Lisboa que se foi. Deixarei de lado, em princípio, restaurantes que ainda mantêm o mesmo nome, mudando embora o registo da oferta.

Comecemos, geograficamente, pelo Parque Mayer, onde, mais do que o tipicismo do “Chico Carreira”, ficou a boa memória do “Manel”.

Desçamos à Baixa, recordando o bem antigo e excelente “Oriental”, na rua da Conceição, onde os quadros médios-altos dos ministérios e dos escritórios desaguavam à hora do almoço. Depois, o “Paris”, com os criados de branco, onde as famílias amesendavam nos fins-de-semana. E, para terminar no magnífico “Muni”, nos Correeiros, onde o meu amigo Vidal e senhora nos davam uma comida com memória galega, com umas sardinhas de escabeche históricas. 

Numa saltada ao Cais do Sodré, nos Remolares, fica para sempre a memória do “Porto de Abrigo”, onde pontificavam, entre outras especialidades, as vieiras gratinadas e os vários patos. E não se comia nada mal na “Adega dos Macacos”, uns metros adiante, na praça dom Luis. 

Subamos o Alecrim, notemos por ali o fim da curiosíssima “Cervejaria Alemã” e da bela versão aumentada da “Charcuteria”, que o amigo Martins trouxe de Campo de Ourique. No Chiado, fiquemo-nos apenas pela solenidade dos dourados do “Aviz”, esse palco regular de jantaradas políticas.

Um pouco mais acima, nas escadinhas do Duque, que bem que se comia na “Casa Transmontana”! E atravessemos para o Bairro Alto, onde só sinto saudades do “Primavera do Jerónimo”, com os imperdíveis filetes de pescada e, claro, do eterno “Pap’Açorda”. Com tanta coisa boa e um ambiente inédito nessa Lisboa dos anos 80, o restaurante foi um belo “pontapé-no-charco” de um bairro que começava a sair da banalidade e entrar na moda. Agora, mudou-se para o mercado da Ribeira. Mas já não é a mesma coisa aquela “espera social” (e logo eu, que não sou nada de esperas!) no balcão, até que o Fernando ou o José Miranda nos arranjassem uma boa mesa. No Bairro Alto, alguns nomes de antigos restaurantes foram conservados, mas o “conteúdo” mudou bastante em alguns deles - em poucos casos para melhor.

O “Pedro Quinto” (que substituiu o “João Sebastião Bar”), do meu amigo Juvenal, fez as honras à artéria vizinha com o nome, com uma lista curta mas interessante. Nesse tempo, tinha já por ali desaparecido a “Charcuteria Francesa”, de muito boa memória, que depois deu a designação a uma outra casa simpática, junto à igreja de S. Mamede, que a voragem dos trespasses levou também. Um pouco mais abaixo, na esquina com o Salitre, deixou saudades moderadas o “Pedro e o Lobo

Umas centenas de metros adiante, no Príncipe Real, ficava, até à pouco, uma das glórias antigas da cidade, o simpático “Faz Frio”, agora entaipado à espera de um qualquer espaço da moda. E próximo, o “Quanto mais gente melhor”, onde cabia mais gente do que parecia. No mesmo quarteirão, há uma casa que vai mudando de nome, mas a que eu achava graça quando se chamou “Romanov”, designação que honrava a memória dos czares, o que uma noite estimulou a visita ruidosa dos nostálgicos da Revolução de Outubro. Mesmo em frente, junto ao chafariz, do lado do “Snob” havia uma minúscula mas bela tasca nos anos 90, que também andou na moda, e cujo chefe vim depois encontrar em Alfama.

Continuando a caminho do Rato, a “Rota das Sedas”, que tinha dias, foi o meu pouso semanal numa tertúlia que agora mudou de ares. Por ali ficava a estimável “Esplanada do Rato”, onde se comia “tant bien que mal”.

A geografia leva-nos agora abaixo, à praça das Flores, onde o “Conventual” fez época, com a sua notável mesa de doces. Muito e bem por lá comi! Ainda um pouco mais abaixo, por São Bento e Madragoa, houve algumas casas que mudaram de nome. O “Constituinte” e o “Bolixa” foram poisos que me ficaram na memória, mas nenhuma saudade imensa me deixaram. Ou melhor, talvez apenas a antiga “Travessa”, “as belgas”, com um ambiente excelente, que depois se subdividiu na nova “Travessa do Convento das Bernardas”, onde ainda está a Vivianne, e no “Guarda-Mor”, onde já não está a Sofia.

Duas notas para casas desaparecidas, ali perto. Um pequeno restaurante de duas irmãs nos Poiais de São Bento, os “Bichos”, onde ia com um amigo deputado. Perto, no fundo do Poço dos Negros, houve um simpático restaurante com comida marroquina, chamado “Mercatudo”.

Bem mais adiante, em Alcântara, isso sim!, uma grande nostalgia: o “Painel de Alcântara”, do magnífico Cardoso, um amigo que mudou de mundos. E também havia ali o “Cuidado com o Degrau” (que tinha um perigoso degrau à entrada!), onde se chegou a comer bem, num espaço com alguma graça. E, ali bem perto, fechou há semanas o memorável “Retiro do Chefe Costa”, uma casa de que eu gostava bastante.

Três notas de proximidade. Na Gare Marítima de Alcântara houve um belo restaurante, cujo nome me escapa, com influência indiana: tinha uma bebinca como poucas que comi. Em Belém, faz falta o belo “São Jerónimo”, onde se comia muito bem, num ambiente elegante. E, passando “por cima” da linha férrea, uma nota de nostalgia para o fim do “Espelho de Água”, na sua mais clássica forma. Um quilómetro adiante, em Algés, foi pena ter desaparecido o velho “Petit Restaurant”.

Regressando a Leste, e subindo a Campo de Ourique, faz-me bastante falta a “Tasquinha da Adelaide”, com a saudável alegria da dona. Eram 29 lugares sentados que várias vezes “fechei” para amigos, com uma cozinha onde a simplicidade era o segredo. Há restaurantes que não entendo por que fecham, e a “Tasquinha” é um deles! (Há outros que não entendo por que abrem e ainda outros que não sei por que diabo se mantêm). Uma nota também, ali perto, para o “Caldeiro”, na Silva Carvalho, também um pequeno espaço de comida séria e lugar de bela conversa. Até o “Bem disposto” se foi e, com ele, dos melhores pasteis de massa tenra da capital. Mas, tirando dois indianos que dali desapareceram (mas ainda existe um, junto ao mercado, que pouca gente conhece), Campo de Ourique continua hoje muito bem e recomenda-se francamente à mesa.

Nas Amoreiras, ao lado do Procópio, deixou boa memória o “Mãe d’Água”, onde Angel Candeira, depois do “Angelus” do fondue a caminho de Sesimbra e do excelente “Porta Branca”, encerrou a sua carreira. A dois passos, foi uma grande pena ter desaparecido, na Artilharia Um, o excelente “Mezzaluna“. Menos memória deixaram os grelhados do "Chester”, a dois passos.

Um pouco mais acima, na Padre António Vieira, tenho boa recordação do “Ivo’s”, a primeira hamburgueria de Lisboa. Na mesma rua, ao que me recordo, houve a primeira pizzaria da capital, mas não me deixou nenhuma memória afetiva, pelo que não deve ter sido coisa notável. 

Passando ao vizinho Campolide, nunca tendo sido um marco gastronómico, o “Olho do Cuco” era um paraíso para os tête-à-tête, que só se mantinham discretos porque se empatavam no embaraço...

Na praça de Espanha, claro que se sente a falta da “Gôndola”, com as empregadas de avental, a lembrar a “Quinta”, no alto do elevador de Santa Justa, que também se foi. E, no que me toca, ali perto, o fecho recente do “Castro Elias” deixa-me alguma mágoa. 

Seguindo pelas Avenidas Novas, além das sardinhas da Feira Popular, tenho pena de se ter perdido o “Toni dos Bifes” e, não muito longe, o excelente “Telheiro”. Mas a mágoa do fim do restaurante do “Montecarlo”, essa sim! é inapagável. Aqueles bifes, as notas indianas e aquele inigualável pão pequeno ficaram-me na memória gustativa. Para o fim da noite, o “Monumental” também dava muito jeito. Boas recordações, mais recentes, deixou também o “Cinco do Dez”, na 5 de outubro, tal como o “Funil” de outros tempos, uma casa onde as famílias assentavam nos fins-de-semana.

Passando para outras Avenidas então novas, outra nota para a “Isaura”, uma cave na Avenida de Paris, onde se comia bem e se bebia melhor, com a garrafeira à nossa volta. Perto, havia também o “Cunha” e o “Paris”, onde, ao contrário da “Isaura”, se subia para a sala. 

No Campo Grande, quem se lembra do “Antigo Retiro do Quebra Bilhas”, com o seu belo espaço exterior? Nunca se comeu excecionalmente, mas o ambiente de tasca “fora de portas” era magnífico.

Muito perto, no Areeiro, houve uma bela cervejaria, a “Munique”. Uma nota, muito sentida, para a minha “cantina”, por anos, a “Imperial do Campo Pequeno”, na Sacadura Cabral, avenida ao fundo da qual havia também uma bela tasca, desaparecida ainda nos anos 70, o “Chico”, com bom peixe e os tradicionais tabiques de madeira. 

Notas finais. 

Nos restaurantes “topo de gama” que fazem falta noto o “Nobre” da Ajuda (hoje há outro por lá, muito diferente e noutro lugar), o “Clara” no Campo de Santana, o “Clube dos Empresários”, numa bela casa hoje em ruínas na avenida da República, o velho “Coelho da Rocha” (da escola do “Gambrinus”) e, um “degrau” abaixo na escala, o “Saddle Room”, em frente ao liceu Camões. Não longe deste, do outro lado da Fontes Pereira de Melo, comia-se muito bem no “António”. Não ficava muito perto, mas, na Antonio Augusto António de Aguiar, era muito simpático o “Petite Folie”.

E alguns outros restaurantes agradáveis, mas cujos nomes já se me varreram? Um belga, numa transversal à Alameda Afonso Henriques. Um açoreano nas traseiras do CDS, ao Caldas. Um pequeno à esquerda de quem subia a Cecílio de Sousa. Um minhoto do lado esquerdo de quem subia a Calçada de Carriche. Uma bela casa, creio que num páteo, em Sete Rios.

Finalmente, um local onde acabei muitas noites e vi começar alguns dias, o restaurante da Rotunda da Encarnação, nas bombas de gasolina, entre o Aeroporto e os Olivais, onde vivi por alguns anos.

Acabo como comecei: nos dias de hoje, Lisboa tem uma oferta gastronómica de muito maior qualidade e variedade. Mas deixar algumas notas sobre aquilo que nos sustentou, com gosto, a vida passada é um ato de justificada gratidão.

4.2.18

Alta “gastronomia”


Redescobri a delícia do pão com manteiga! Desde há anos que tinha passado a olhar com uma sobranceria crítica quem esparramava, com uma faca, aquela coisa amarela no pão, quando havia tantas outras coisas, das compotas a pastas, para lhe dar um sabor forte. Achava o pão-com-manteiga um primarismo, uma coisa de infância tardia, uma falta de imaginação.

Ainda por cima agora, quando os pães de qualidade começam a renascer por Lisboa (não, não é a “Padaria Portuguesa”, que é banal), desde Alcântara (na Prior do Crato) a S. Bento (na rua Nova da Piedade), passando pelas Avenidas Novas (esquina da Defensores de Chaves com a Miguel Bombarda). 

Mas. um dia, fui levado a provar uma manteiga açoreana (com sal, claro!), de seu nome Milhafre. Que maravilha! Não quero outra coisa! Grandes pãozadas, barradas generosamente, me têm servido de regalo, com os últimos pacotes dos “blend” de chá que trouxe do “Fortnum & Mason” (tenho de ir a Londres buscar mais).

Viva o pão-com-manteiga! 

3.2.18

Três (ou bastantes mais!) notas em Lisboa


Fui (finalmente) ao badalado JNcQUOI. Almocei no restaurante do piso nobre, naquele espaço ao lado do Teatro Tivoli, excelentemente decorado e com bom ambiente (muito turístico-abastado). Também visitei o belo balcão no andar inferior, com bons vinhos à venda. Mas voltemos ao andar de cima: a relação alimentação/serviço/preço esteve muito longe de me satisfazer. Pratos muito caros e um serviço “casual arrogant” (a nossa mesa foi brindada com um “hispano parlante” sem o mínimo de “métier” e com escassa cortesia). Mas, atenção, nada de negativo a dizer quanto à comida, antes pelo contrário. Também por aquele preço, era só o que faltava que não estivesse boa! Mas já há muito tempo que não esperava tanto tempo por um café no fim da refeição, coisa inadmissível num espaço daqueles. Pronto, ficou feito o “vezinho” e, como diz um amigo meu, fui lá três vezes: a primeira, a única e a última...


Já não ia ao Ibo, o moçambicano do Cais do Sodré há uns tempos. Sem ser deslumbrante, o espaço é simpático e, em especial, agradou-me sempre muito a esplanada exterior (agora impossível de usar à noite). O serviço é agradável e atento. O preço é um pouco desmesurado: sempre foi caro e está mais. A comida esteve assim-assim, confesso. Tinha uma ideia bem melhor da cozinha do Ibo. Embora com boa apresentação, a oferta pareceu-me um pouco “cansada”, talvez fruto de uma lista demasiado longa e do restaurante já não ter de lutar por clientela. A carta de vinhos está especulativa de mais. E, claro, não gostei que não houvesse precisamente o prato que eu queria e e o vinho que me apetecia. Não volto tão cedo.


Jantar no Gambrinus. Esta é uma Lisboa constante, cara (claro!), com um serviço impecável, rigoroso, profissional. O Gambrinus é o restaurante mais previsível que conheço. Não há surpresas, não há deceções, tudo está no ponto. É uma “senhora” por quem não passa o tempo. Perguntei por um vinho que estava na lista e que não conhecia: foi-me dada uma explicação que correspondeu, ponto por ponto, àquilo que viria a beber. E estava à temperatura certa, o que começa a ser raro por aí. E o Gambrinus tem “voiturier” ("manobrista" no Brasil), o que é comodíssimo. Ah! e café de balão, preparado ali à nossa frente, tal como são os crepes, com o fogo à vista. Grande Gambrinus! Se tivesse muito dinheiro, ia lá mais vezes.