31.8.24

"O Forno de Jales" (Vreia de Jales)



Já estou a imaginar o sobrolho carregado daqueles lisboetas que têm a mania que o Prior Velho, ou mesmo Vila Franca, já é no Norte do país. São os mesmos que calhou um dia irem ao Porto, ao casamento de uma prima, e que juraram para nunca mais, por se terem perdido no Nó de Francos, quando acharam que o Waze tinha pifado ao mandá-los sair por um lugar chamado Bessa Leite. Essa malta, ao ler aqui escrito "Vreia de Jales", deve ter tido um sobressalto de estranheza e concluído: este tipo anda por lugares étnicos bizarros e trá-los para aqui para armar à diversidade regional de quem se quer dar ares.

Pronto, eu explico! A Vreia de Jales é uma aldeia que fica numa pequena estrada a leste da A24. Essa estrada é a maneira mais "difícil" de ir de Vila Pouca de Aguiar para Vila Real. Mas vale muito a pena: a paisagem é magnífica, além de que lhes permite passar por Sanguinhedo (por que diabo quero eu passar por Sanguinhedo?, pensará alguém a quem nunca sequer passou pela cabeça ir tomar um café a Tourencinho) e chegar à capital transmontana por um caminho menos óbvio. Por isso, caro leitor, se faz parte da fauna dos que recusam caminhos menos óbvios, abstenha-se de continuar a ler e faça "zapping" para a telenovela ou para os crimes da CMTV.

Há vários anos que me tinham falado de existir um restaurante "para grupos" na Vreia de Jales. Por regra, desconfio imenso de restaurantes "para grupos". Nunca fui fã de manadas almoçantes, onde raramente se come bem e pode ter-se por horas o azar, nas longas mesas, de uma companhia insuportável. Há meses, disseram-me: o antigo restaurante, onde a prudência me levou a nunca ir, tinha fechado e foi agora criado outro, dirigido por um casal de excelentes cozinheiros (eu acho pedante escrever "chef") que vieram da estranja (muita Espanha e alguma Suíça), e que teria implantado por ali um novo "conceito". Ora eu também embirro com o conceito de "conceito". E, por semanas, fiquei de pé atrás.

Enfim, ontem, porque a curiosidade era muita, e para pôr a coisa em pratos e talheres limpos, decidi ir lá jantar. E, antecipo desde já o sentido deste texto, gostei bastante.

O João Pires e a Rita Gomes estão por ali, naquela aldeia, desde o final do ano passado. A sala, sem ser um deslumbre de decoração, é muito agradável e espaçosa, boa herança do anterior restaurante. O casal faz uma cozinha que alia alguma sofisticação das propostas à utilização inteligente e criativa dos produtos regionais, com preocupação do que é sazonal. A refeição é ritmada em seis momentos, que conseguem criar um menu degustação que assinalei não ter tido quebras de nível. Não vou aqui falar dos croquetes, da bola de sardinha, do interessante bacalhau, da fralda de vitela, com um molho magnífico, da maronesa no ponto certo. E de outras coisas boas, explicadas bem pelo João. Ou mesmo da estranha, no bom sentido, rabanada que veio como sobremesa (e que, a meu ver, poderia sobreviver bem sem o gelado), feita num pão pouco usual. Tudo vinha embrulhado em moldes criativos de apresentação que, em alguns casos, me atrevo a dizer que podem evoluir esteticamente. Mas o que é importante destacar, porque o saldo de uma refeição é isso mesmo, é que tudo o que nos chegou à mesa, sem exceção, estava muito bom - e eu sou um conhecido chato nesta coisa de restaurantes, como gastrófilo mas não gastrónomo que sou. A lista de vinhos, muito transmontana e curiosamente menos duriense, tinha, a preços honestíssimos, coisas muito boas e pouco conhecidas, como, por exemplo, vários vinhos de Arcossó (Ah! Pois é! Também não sabem onde é Arcossó, terra da minha bisavó, de onde estão a sair vinhos magníficos?). 

Vou parar por aqui. Não lhes digo os horários do "O Forno de Jales" porque o restaurante não tem "sessões contínuas": não abre todos os dias e a todas as horas. Liguem para lá pelo 916 301 886 e, se não atenderem, deixem recado, porque eles contactam de volta, como aconteceu comigo. Última nota: sem vinhos, o menu degustação custa € 35,00 por pessoa. Isso mesmo!

Pronto! Quem ousar passar a norte do Prior Velho, já sabe. Meta o Waze e vá almoçar ou jantar à Vreia de Jales. É já ali!

30.8.24

A verdadeira posta

 


Caí na esparrela: na carta do restaurante dizia "posta": era apenas uma carne simpática. Eu devia ter desconfiado: a faca era de serrilha, o que é logo um dramático aviso à navegação de que o mar estará rijo. 

Um teste obrigatório por que deve sempre passar algo que se apresente como "posta" - e, muito mais, como "posta mirandesa" - é o imperativo da peça poder ser cortada com o outro lado da faca. Sim, isso mesmo!, o lado que nunca é usado para cortar.

Tudo o resto, o que não passar nesse "teste do algodão", pode ser um bife agradável (às vezes chamam-lhe "naco" e coisas assim), mas será sempre um abusivo genérico na verdadeira posta. 

À mesa

 


Foi há semanas. Comi nesse local umas quatro vezes. O empregado foi sempre o mesmo. Um homem bem dentro da casa dos 50, pessoa educada e agradável, revelando alguma experiência de restauração, mas menos adequada para o nível daquele local. Era alguém que, visivelmente, na época alta, tinha sido contratado para reforçar a equipa do restaurante.

Pela simpatia que tinha criado, hesitei muito em falar-lhe naquilo que, desde o início, trazia atravessado. No último dia, fi-lo: "O meu amigo não vai levar a mal, mas acho que, depois destes dias em que viemos aqui jantar, há meia dúzia de coisas que devo dizer-lhe. Nunca se serve uma pessoa passando, na mesa, pela frente de outra. Se, por razões de espaço, tiver de o fazer, peça sempre desculpa por isso. E deve servir sempre pela esquerda das pessoas e retirar os pratos pela direita. E não se empilham os pratos retirados de uma mesa, arrastando os restos de comida para o prato do topo. E, claro, deve servir primeiro as senhoras. Quanto ao vinho, não esteja sempre a encher os copos. Depois de servi-lo uma primeira vez, pergunte às pessoas se querem mais: com a insistência em encher os copos, fica a ideia de que quer vender outra garrafa! Ah! E as bebidas são sempre servidas pela direita! Desculpe dizer-lhe tudo isto, mas achei que tinha de o fazer, para o ajudar a melhorar no seu serviço, no futuro".

O homem pareceu-me, de início, um pouco surpreendido com a minha recomendação, mas reagiu muito bem: "Agradeço ter-me dito tudo isso. Algumas das coisas eu já sabia mas a gente distrai-se, e sabe porquê?: porque parece que as pessoas não se importam e nós vamos facilitando. Mas é bom que me tenha lembrado. Já a questão do vinho, são ordens". Eu sabia!

Para o ano, conto passar por lá. Se o homem ainda lá estiver, aposto que se vai lembrar deste cliente "chato".

14.8.24

Restaurante do Hotel Montebelo (Alcobaça)


Antes, ia-se visitar Alcobaça porquê? Sei lá! Alcobaça, quando se passava de ou para o norte pela EN 1, mesmo mais tarde pela A1, era uma terra que só justificava uma deslocação por um motivo turístico-artesanal. Levava-se por ali uma prima desejosa dos doces do Alcoa ou uma tia saudosa das loiças ou das chitas. Tempos houve em que também fui por lá comprar ginja. Fora disso, visto e revisto que estava o mosteiro, por que diabo alguém ia a Alcobaça? (Que os alcobacenses não se zanguem comigo!)

Bom, tavez para comer. Já com a A1 mas essencialmente com a A8/A17 a servir de eixo regular para as ida lá cima, passou a almoçar-se ou a jantar-se por ali, quando dava jeito. De início, era o clássico "Trindade". ("Em Alcobaça, vais ao "Trindade", claro!", era o que se ouviu, por muito tempo). Mais tarde, o Zé Quitério, no "Expresso", ensinou-nos o "António Padeiro". E por lá me sentei bastantes vezes.

Até hoje! Instalado por curiosidade no Montebelo, o hotel que Souto Moura desenhou no Mosteiro de Alcobaça, constatei que ali mesmo existe um excelente restaurante, a um preço honestíssimo, com um pessoal diligente e sabedor, num ambiente agradável e sereno. Não tem defeitos? Talvez uma lista de vinhos pouco variada, demasiado "caseira". Mas comeu-se magnificamente!

Assim sendo, recomendo, sem reticências, o restaurante do Hotel Montebelo, de Alcobaça, do grupo Visabeira. Muito confortável, com um pessoal de extremo profissionalismo. 

(Tão elogioso! Quem pagou esta crítica positiva, perguntará o leitor desconfiado? Eu, claro! Como todas - repito, todas! - as outras).

13.8.24

"Il Mercato" (Lisboa)


Ele há coincidências! Hoje, fui almoçar ao "Il Mercato". Preparava-me para escrever algo sobre essa refeição quando descobri que, faz hoje exatamente dois anos, escrevi neste blogue:

Já não ia há uns bons tempos a este italiano do Pateo Bagatela. Costumo assentar mais numa tertúlia, na esplanada do Páteo 51, a casa imediatamente ao lado (onde não se come nada mal, adianto desde já, e a preços que me parecem mais em conta). Uns degraus acima, parei às vezes, com o Nuno Brederode e a Céu Guerra, no Sabor & Arte (de que guardo boa memória). Ao balcão do Il Mercato vendem-se produtos alimentares de Itália, que adivinho serem bons, a ajuizar por um queijo e um presunto desgustados. No restaurante, ao almoço de hoje, a comida estava muito boa, o serviço foi (mesmo) muito atencioso, os preços não me pareceram nada especulativos. O restaurante-loja é do mesmo dono (nepalês) do Forno d’Oro (a 100 metros, onde só fui uma vez, para uma pizza, depois de ali ter deixado de ser o excelente Mezzaluna), do meu quase vizinho de casa Come Prima (onde nunca comi mal, noto) e da Casa Nepalesa, na Elias Garcia (onde, há meses, jantei bem e prometi a mim mesmo voltar). Um dia, tendo-me eu queixado, aqui pelas redes sociais, de que não fazia sentido, no Il Mercato, pagar-se ao balcão, no fim da refeição, juntamente com os clientes da loja, o que originava filas e protestos, o dono teve a gentileza de telefonar-me, dizendo que o assunto estava a ser repensado. E fizeram-no. Hoje paguei na mesa. (Uma nota prática: o Páteo Bagatela possui um conveniente parque para automóveis, por debaixo, o que é sempre um “must” a considerar).

Não tiro nem uma letra ao que então escrevi. Voltámos a comer muito bem, o serviço é delicadíssimo e a conta final... foi em conta! Vou voltar mais vezes e aconselho que outros o façam. Quem pratica boa restauração deve ser elogiado e estimulado a continuar. Divulgar as coisas boas é o mínimo que podemos fazer. 

10.8.24

"O Bem Disposto" (estrada Alcácer do Sal / Comporta)

 


Entre Alcácer do Sal e a Comporta fica situada a Herdade de Montalvo. Há anos que por ali passo e vejo o nome. Por muito tempo, tinha uma placa de "restaurante", mas, quando uma vez tentei lá ir jantar, não havia... restaurante!

Este ano, na Herdade de Montalvo surgiu com o restaurante "Bem Disposto", anunciando também serviço de "take away". O nome era o de uma saudosa casa de Campo de Ourique, de que fui cliente costumeiro. 

Fui almoçar por lá, num grupo de pessoas.

Pontos positivos:

- comeu-se muito bem, com preços adequados. Tudo o que se provou estava excelente, dos pratos às sobremesas. O resto da lista era muito apelativo.
- tem uma carta de vinhos curta, mas equilibrada e com preços muito honestos.
- o pessoal é simpático.
- a decoração é simples mas muito elegante.

Pontos negativos:

- a comida demorou "horas", não me parecendo que a ocupação do dia justificasse o atraso.
- na zona exterior, as moscas atacavam quase em enxame.

O saldo da ida a esta reencarnação do "Bem Disposto" foi, contudo, muito positivo. Recomendo as mesas no interior. Reservem pelo tlf. 919 270 782, tanto mais que os horários variam, no diversos dias da semana.

"Loja do Covilhete" (Vila Real)


Há dias, voltei à "Loja do Covilhete", em Vila Real. Para quem não souber, um covilhete é um pastel de carne, em massa folhada, típico de Vila Real. Pode comer-se frio ou quente. A cidade divide-se no tocante à casa comercial que por lá serve ou vende os melhores covilhetes. Além de que há quem prefira os covilhetes "à moda antiga" ou os mais comuns, os "modernos". Não me meto na discussão sobre as virtualidades relativas dessas tipologias do produto, até porque, desde há anos, sou confrade da "Confraria do Covilhete".

Fomos assim jantar à "Loja do Covilhete". Fica bem no centro de Vila Real, numa rua paralela à Avenida Carvalho Araújo, a "sala" da cidade. Para os comodistas, esclareço que há estacionamento público a "walking distance". 

A Loja é um espaço moderno e agradável, Era já para o tarde e, fora da esplanada, tinha pouca gente. Mandámos vir umas pataniscas de bacalhau e uma peça de carne. Antes, para abrir o apetite, pedimos uma entrada de alheira. O empregado, puxando dos galões da casa, perguntou: "Não querem começar com dois covilhetes?". Olhámos um para o outro e, por reflexo bairrista, aceitámos a ideia. Um minuto depois, o empregado regressou: "Já não há covilhetes..." Bonito! 

O vinho da casa era muito bom. Constou-me que era dos "Lavradores de Feitoria". Apreciámos a alheira. As pataniscas estavam no ponto, nem espalmadas e secas, nem demasiado infladas. A carne estava excelente. Foi um simpático jantar.

A "Loja do Covilhete", onde já tinha ido algumas vezes no passado mas que, confesso, nunca me ocorre à ideia quando quero fazer uma refeição em Vila Real, tem, além do mais, uma caraterística imensamente valiosa: os preços são de uma honestidade imbatível. E a lista, escrita em linguagem divertida, tem uma imensa escolha. Merece uma visita.

1.8.24

"Cavalariça" (Comporta)


Saí perplexo de um jantar na "Cavalariça", na Comporta - o qual sabia ter aberto uma casa com o mesmo nome em Évora (onde tenciono ir) e outra em Lisboa (cujo "conceito" me não seduz). Perplexo, porquê? Porque, tal como Sérgio Godinho diz numa das suas canções, "hoje soube-me a pouco". Puxando pela memória, dou-me conta de ter ido, no passado, pelo menos três vezes à "Cavalariça" da Comporta, uma em cada ano e verão diferentes. E, na minha memória, repousa a ideia de que, dessas três vezes, saí mais satisfeito do que desta última.

A minha perplexidade resulta do facto de eu ainda não ter concluído se a culpa desta última perceção é exclusivamente minha ou se se tratou de uma responsabilidade com contribuição alheia. Eu explico. Olhámos para a lista e concluímos que, na lógica da refeição, se justificaria que pedíssemos duas ou três entradas e, para encerrar, antes das sobremesas, um único prato "de substância". E solicitámos um conselho à senhora que manifestamente dirigia  sala, a qual, com grande diligência, nos procurou ajudar a decidir. Essa senhora - excelente e atenta profissional, diga-se - fez-nos duas ou três sugestões que, por razões sempre diferentes, afastámos. E assim fomos "afunilando" as nossas escolhas, acabando por assentar em outras opções, sobre as quais, afinal, tínhamos mais dúvidas do que certezas. E ficámos por aí.

O "mix" por que optámos acabou por não nos deixar felizes. Era "maus" pratos? Longe disso! Eram, contudo, escolhas "ao lado" daquilo que seria mais confortável para nós. O saldo final do repasto acabou por compor-se com duas belas sobremesas. A "dolorosa" (como os espanhóis chamam à conta) não foi excessiva, embora, com honestidade, deva dizer que a carta de vinhos da "Cavalariça" está manifestamente "overpriced". E, em face da opção que infelizmente fizemos, vou dizer aqui, de forma muito frontal, algo que há muito trago no íntimo: os vinhos da Comporta, decididamente, não me convencem.

Para o ano, vou voltar ao "Cavalariça" da Comporta, claro. Quanto mais não seja para corresponder à simpatia do seu serviço e para decidir, de uma vez por todas, se o erro da visita de 2024 foi mesmo meu.

31.7.24

"Chaxoila" (Vila Real)



Fomos os primeiros a chegar para jantar. As mesas estavam todas colocadas sob a ramada exterior. Este espaço é o valor acrescentado que o "Chaxoila", o mais antigo restaurante de Vila Real, nos oferece no verão e, às vezes, em dias decentes de primavera e outono. No inverno, migra-se para o interior, com o anexo envidraçado.

Estávamos com alguma pressa, mas o restaurante não. Por ali, o ritmo de um fim de tarde de julho não rimava com o nosso interesse nervoso em despachar a refeição. O José Carlos, que nos conhece de há muito, tal como a senhora sua mãe sempre sentada na mesa junto à cozinha, falou-nos do andamento do negócio e das suas perplexidades com os ciclos turísticos. 

Deixei-lhe o encargo de escolher um tinto do Douro, o que ele fez como sempre faz: bem. Deu-nos três opções recomendadas para prato. Seguimos uma delas: um belíssimo naco da cachena, que pedi "medium rare", traduzível, em linguagem vila-realense, por "mal passado mas sem exagerar". Antes, veio uma burrata bem saborosa. Não tivemos tempo para a sobremesa, pelo que me poupei ao choque calórico do "pito de Santa Luzia", recheado de doce de calondro, com gelado ao lado.

Não faço ideia desde quando o "Chaxoila" existe. É na estrada velha para Chaves, passadas as duas rotundas depois do quartel. Já foi uma tasca banal, mas foi tendo outros tempos, como espaço de petiscos para fim de tarde (um hábito vila-realense antigo, que creio desaparecido). Nos dias de hoje, solidificou-se como uma das (infelizmente escassas) boas mesas da capital transmontana. Reserve sempre (259 322 654) e prepare-se para estacionar na estrada, porque os lugares no pátio interior são muito poucos.

O "Chaxoila" já foi mais barato (estranhamente, tenho a sensação de que já o foi menos), mas o preço continua "em conta", como por lá se diz.

30.7.24

JNcQUOI Beach Club (Praia do Pego)


"Vais ao JNcQUOI, na praia do Pego? E vais escrever sobre isso no blogue? Vai dar-te um ar fútil". Eu sabia e, claro, podia ter evitado referir aqui que fui jantar a um dos clichés do verão da Comporta. Fingia que tinha ido comer um arroz de marisco à Sílvia, na Carregueira, ou mesmo as ameijoas da Dona Bia, no caminho da Comporta para o sul, e estava salva a honra do convento. Mas não! Eu tinha decidido ir jantar ao JNcQUOI (reservando pelo The Fork, como eu fiz, ou pelo 269 249 890)  e tinha de "pagar" por isso.

O espaço é muito agradável. As mesas têm confortáveis cadeiras, há uma "parede" de garrafas verdadeiras, iluminada, a dominar a sala principal, vê-se a vibrante cozinha através de um imenso vidro e existem diferentes ambientes para acolher os clientes. Desde que se chega até que se sai, percebe-se que por ali reina um profissionalismo testado, nem "casual arrogant" nem pretensioso nem vulgar. Tudo bem, tudo certo, pessoal educado, sem subserviências. Sem pressas nem atrasos e - teste para mim decisivo para qualificar o serviço de um restaurante - todos os funcionários a responderem à solicitação de qualquer mesa, mesmo que a não estejam a atender diretamente.

A comida? Vai-se a um restaurante para comer, não para ser servido. E comeu-se muito bem. Depois de uma entrada criativa em que preponderava o lingueirão, passou-se a uma paelha à base de bacalhau (isso mesmo!) que estava magnífica. A seleção de sobremesas podia ser mais imaginativa, mas o que se provou estava muito bom. Vinhos? Uma escolha de qualidade, um tanto puxadote nos preços, mas com "defesas" muito razoáveis para quem não se quer arruinar. Preço? Caro mas merecido. Que mais posso dizer, senão que me apeteceria voltar, se os meus amigos não achassem isso fútil?

25.7.24

"Jockey" (Lisboa)


A cidade de Lisboa, num domingo ensolarado, costuma ser um deserto em matéria de restaurantes decentes para se almoçar. Os poucos bons que existem estão sempre cheios. Os que não estão cheios não têm lugar para estacionar (e eu sou um assumido comodista, se é que ainda não notaram). E se a decisão de almoçar fora é tardia, como foi o caso do passado domingo, então encontrar uma mesa simpática é como encontrar uma agulha num palheiro.

De repente, lembrei-me do "Jockey", um dos segredos mais valiosos da cidade. Sempre com lugar para parar o carro, entre estábulos para cavalos e viaturas de quem teve a mesma luminosa ideia que nós, o "Jockey" salvou-me o almoço. Telefonei, claro, a marcar lugar (217 957 521) e voz amiga arranjou-me uma bela mesa no interior, porque a esplanada estava muito quente. O espaço era tão confortável que chamámos outra pessoa, que estava em casa, para se nos juntar.

A carta do "Jockey" é farta e, 99% das vezes, sai tudo muito bem. E quando não sai muito bem, sai bem. Desta vez, confesso, achei o meu bacalhau na brasa demasiado demolhado, mas reconheço que era uma peça de boa qualidade. E disse tudo isso assim mesmo a quem nos atendia, porque acho que é dessa forma que deve proceder um cliente construtivo. As companhias que tinha à mesa só fizeram elogios àquilo que pediram, que já não recordo o que foi. Gosto de restaurantes que se esmeram em servir com profissionalismo e com visível empenhamento no serviço, como é o caso.

Preço? Só posso dizer que o "Jockey" tem uma relação satisfação/preço (o José Bento dos Santos acha muito discutível o tradicional critério "qualidade/preço") que me agrada bastante. Volto lá quando posso. Onde é que fica o "Jockey"? Isso é mais complicado: digamos que perto da Segunda Circular. É melhor pôr no GPS.

24.7.24

"Visconde da Luz" (Cascais)


Sempre achei o nome do restaurante um pouco estranho. Se é comum chamar "viscondes" aos do Sporting, aquilo ser "da Luz" é um contrasenso. Há dias, combinámos jantar com uns amigos, em Cascais. Era fim de semana e, por muito que eu procurasse reservar uma mesa nos vários locais que conhecia, estava tudo cheio. Lembrei-me então, em desespero de causa, do clássico "Visconde da Luz", ali no jardim no centro da vila (Cascais, como Ponte de Lima, não quer ser "elevada" a cidade). Como tem muito espaço, tinha lugares. Mas convém reservar pelo 214 847 410. O ambiente é aturistado, mas confortável para uma ocasião simples.

A lista não trazia grandes novidades, mas era razoavelmente bem composta. Lá estava a famosa perdiz, mas fomos para umas coisas simples e clássicas: uma açorda de marisco e uns filetes com arroz de berbigão. A primeira estava excelente. Os segundos estavam, ao que ouvi, soberbos, mas com o berbigão mal cozinhado. E o molho tártaro vinha aguado. O meu amigo que fez esse comentário é um homem exigente e lá registou o seu protesto junto dos empregados. O serviço, diga-se, foi muito eficaz e educado. O facto de quem nos serviu na mesa ser um brasileiro muda muitas vezes tudo, para melhor.

O "Visconde da Luz" não deslumbra, mas a sua comida não desilude. Mesmo as entradas e as sobremesas provadas eram muito razoáveis. A lista de vinhos é escorreita e equilibrada, sem exageros. A conta esteve em consonância com a experiência. Já não ia ao "Visconde" há uns bons anos. Não excluo regressar.

Quando saímos, pouco depois das 10 da noite, fui buscar o carro a um parque público nas traseiras do quase defunto "Villa Cascais". Tinha fechado às 21.30! Não me perguntem pelo meu estado de espírito no regresso a Lisboa, por outras vias... 

22.7.24

"Gambrinus" (Lisboa)


Começo pelo fim. Acabei o jantar de hoje com o café de balão. Não sei se há mais algum restaurante lisboeta (ou mesmo português) que no-lo proporcione, mas eu gosto muito daquele ritual. Normalmente, "corto-o" com um whiskey (não whisky) irlandês. Às vezes da Irlanda do Norte (dias em que vou para o Bushmills), outras da República da Irlanda (dias, em geral noites, em que prefiro o Jameson).

Se tivesse muito dinheiro, ia mais vezes ao Gambrinus. Como só tenho algum, apenas lá vou "quando o rei faz anos" ou quando me convidam. Nunca fui cliente da barra, o famoso balcão da entrada pelas Portas de Santo Antão. Já lá comi, claro, em momentos de solidão, mas, assumo aqui e agora, é uma área da casa que detesto - embora saiba que faz parte da mitologia de uma certa Lisboa social-lumpen, alcoófila e até exoticamente cultural. Fiquem os apreciadores com ela, como também podem ficar com a sala adjacente, onde parece que antes se fumava. Eu sou apenas cliente da sala grande e, se lá não houver lugar, vou para outra freguesia. Em desespero, ainda posso ficar nas galerias, da entrada ou do fundo. Repito: mas só em desespero.

O Gambrinus tem o pessoal mais apurado do país. O serviço é exemplar, a educação faz ali escola. O cliente nunca está errado, por muito que às vezes o possa estar. Dias menos felizes por parte da cozinha (e ultimamente tem-nos havido, infelizmente, mais do que seria desejável, e eu não tenho deixado de os assinalar, com a frontalidade dos amigos) são tratados pelo pessoal de mesa com uma elegância ímpar em Lisboa. O Gambrinus devia montar uma escola da arte de bem servir. 

Estas notas destinam-se ter só três parágrafos. Mas o Gambrinus merece estas linhas a mais. Quanto mais não seja para lembrar que é imperioso reservar mesa, pelo 213 421 466. E que não é barato. E que tem uma bela carta de vinhos. E uma imperdível empada de perdiz, como a que hoje comi. O resto, deixo para a vossa visita.

20.7.24

"A Curva" (Caxias)


Há algum tempo que ouvira falar do lugar e da qualidade da sua comida. Hoje, calhando ter de passar por perto, fiz uma visita ao restaurante "A Curva", em Laveiras (Avenida Conselheiro Ferreira Lobo, 28), ali ao pé de Caxias. É conveniente reservar (tlf. 214 419 334).

Com a sua mulher Isabel na cozinha, o proprietário, Manuel Gato, oferece-nos um menu 100% alentejano, numa sala impecável, tudo com uma elegância asseada, na sua meia centena de lugares. O casal é oriundo de Cabeção, pelo que recordámos por ali "A Palmeira", um belo e clássico poiso de restauração.

Vi expostos bons vinhos. Optámos por um jarro do simpático vinho da casa, com o preço final a ser muito razoável. O estacionamento não é fácil, mas, com alguma paciência, consegue-se. Um lugar a anotar.

18.7.24

British Bar


A empregada do balcão, uma brasileira carioca que ontem me serviu o gin tónico (tenho a impressão que nunca ali bebi outra coisa) não terá mais de 20 anos, que contrastam com os quase 60 da minha primeira visita ao British Bar, no Cais do Sodré. Comecei lá em 1965, com o Antoninho, um boémio primo da minha mãe que, um dia, me fez uma instrutiva volta de introdução à capital e sítios relevantes - incluindo o Bolero, o Galo, o Ginjal e um outro destino menos revelável, algures na Misericórdia. Nunca fui cliente do British, apenas um passante ocasional. À volta do 25 de Abril, outro primo, neste caso meu primo direito do lado do meu pai, Carlos Eurico da Costa, instituiu a efémera rotina de, uma vez por semana, irmos ao final da tarde ao British Bar - ele para o whisky, eu para o gin. Ali nos íamos encontrar com o José Cardoso Pires, "habitué" do local. Creio que a "rotina" não passou das três vezes. Na pandemia, calhou passar um dia pelo British Bar e notei que serviam "ao postigo". Pedi o gin tónico, claro. Veio em copo de papel! O de ontem, por distração minha, chegou naquela espécie de bolas de andebol em vidro com que agora há a detestável mania de servir os gin tónicos. E com palhinha! Apesar de tudo, na torreira da tarde de verão, soube-me muito bem parar por ali, sem a pressão do tempo, o qual, como é sabido, no British Bar nunca se perde, se o olharmos através do seu clássico relógio, com que deliberadamente nos iludimos, acreditando que as horas caminham para trás.

... by Sofia (Sacavém)


Sala sem pretensões, ambiente um pouco barulhento, escassas mesas, necessidade de reserva (917 588 974), razoável carta de vinhos, serviço muito agradável e cordial. Honestidade nos preços.

É o "Solar do Peixe by Sofia", em Sacavém, no Largo José Joaquim Rodrigues. Excelente oferta de peixe e algum marisco, que se escolhe à entrada e é ali grelhado à vista.

Fui lá hoje almoçar. E vou voltar. Recomendo.